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Crise social | O presidente Lasso rompeu o diálogo com os líderes do protesto indígena no Equador

O governo anunciou que não vai participar do segundo dia de negociações, os protestos já duram 16 dias.

quarta-feira 29 de junho de 2022 | Edição do dia

O presidente Guillermo Lasso anunciou na terça-feira (28) que não voltará a conversar "com aqueles que pretendem sequestrar a paz", assim os representantes de seu governo estiveram ausentes no segundo dia de negociações com os líderes das organizações indígenas.

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Lasso disse cinicamente em uma mensagem televisionada que “O país testemunhou todos os esforços que fizemos para um diálogo frutífero e sincero. Não vamos negociar com aqueles que mantêm o Equador como refém”. O presidente afirmou então que as negociações não podem continuar enquanto "não existirem as garantias necessárias", omitindo que sob suas ordens a repressão aos protestos deixou vários mortos e centenas de feridos.

Lasso disse que o rompimento do diálogo se deve à morte de um militar em um ataque a uma caravana que o presidente atribui aos manifestantes sem provas concretas. O episódio confuso, que serviu ao Executivo para se retirar das negociações, ocorre no contexto de denúncias, feitas por organizações sociais, de policiais infiltrados nas manifestações e de um ataque de integrantes das Forças Armadas que se mobilizavam junto à caravana que transportava combustível.

Na curta mensagem ao país, o presidente apontou diretamente para o chefe da Comissão de Nacionalidades Indígenas (Conaie), Leônidas Iza, "que só defende seus interesses políticos e não os de suas bases" e prometeu que o Executivo voltará à mesa "quando houver representantes legítimos de todos os povos e nacionalidades".

A posição do governo Lasso frente ao ataque à caravana contrasta com o silêncio diante das pelo menos 5 mortes de manifestantes devido à repressão das forças de segurança, segundo organizações de direitos humanos.

O ministro do Interior, Patricio Carrillo, juntou-se ao discurso do governo e nas redes sociais disse “Outra explosão violenta da Conaie, a antítese do Estado de Direito. A degradação significa que poucos querem impor sua vontade. Uma sociedade que não reage com a aplicação da justiça está condenada a viver sofrimentos permanentes”.

Governo, polícia, Exército e outros setores buscaram criminalizar as organizações indígenas, estudantes e outros setores que se juntavam aos protestos.

Apesar da declaração de Lasso, o chefe da Assembleia Nacional (Parlamento) e promotor da mesa de diálogo, Virgílio Saquicela, voltou a reunir as duas partes para tentar reativar as negociações.

Das Forças Armadas, o chefe do Comando Conjunto, Nelson Proaño, anunciou que a entidade vai iniciar uma ação judicial contra aqueles que atacaram a caravana militar. De acordo com o responsável, os militares e policiais agredidos prestaram segurança a setores estratégicos e vigiaram a transferência de 17 tanques de diesel da cidade de Shushufindi para o bloco petrolífero ITT.

Com a negociação paralisada, liderança indígena mantém a desmobilização

A saída da mesa de negociações pelos representantes do governo busca impor piores condições para que as lideranças das organizações indígenas voltem ao diálogo.

Na segunda-feira, Leônidas Iza, dirigente da Conaei, mostrou excessiva disposição para negociar afirmando que reconhecia "o esforço do governo nacional" e acrescentou "temos insistido em dois pontos, se como povos e nacionalidades insistimos no restante do pontos, estaríamos sendo irresponsáveis ​​com o momento atual". Disse ainda estar disposto a negociar dizendo que "nós propusemos no primeiro ponto (em relação ao aumento de combustível) reduzir 40 centavos, o governo propõe 10 centavos. Por isso pedimos que façam um esforço para que haja uma mediação e que de parte a parte podemos ganhar e perder".

Com o rompimento do diálogo, o governo Lasso envia uma mensagem clara, não está disposto a dar muito mais.

Ao mesmo tempo, a Assembleia Nacional retomou a sessão em que discutiu a proposta da bancada de oposição da UNES (referenciada ao ex-presidente Rafael Correa) de "morte cruzada", mecanismo que inclui a destituição de Lasso e o fechamento do próprio Congresso, para uma nova convocação eleitoral.

A medida parlamentar busca atuar como uma forma de pressão contra o governo, já que para que ele avance efetivamente, são necessários 91 votos para a destituição de Lasso, número que a UNES parece longe de ter.

O presidente Lasso pode se mostrar duro novamente porque aproveita as concessões e o apelo à desmobilização da liderança da Conaie.

Os protestos que se espalharam em vários centros urbanos e diferentes regiões, aos quais se juntaram milhares de jovens dos bairros populares de Quito, aos quais se somou o apoio de milhares de estudantes que fizeram parte da organização solidária com os manifestantes que ergueram barricadas e enfrentaram a polícia, colocou seu governo em xeque, mas a política da direção do movimento indígena voltou, como em 2019, a dar vida ao Executivo que, com apoio do Exército e pouquíssimas concessões, busca superar a crise.




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