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ARTE E REVOLUÇÃO | O papel da arte na Revolução Permanente (parte 1): crítica ao nacionalismo na cultura

De Getúlio Vargas à Dilma, de Jango a Lula, a esquerda majoritária em suas patéticas alianças com a burguesia brasileira arrastou o proletariado para uma série de derrotas políticas. Os prejuízos históricos são políticos e ao mesmo tempo culturais.

quinta-feira 23 de julho de 2015 | 00:00

Todo o esforço nacionalista concentrado no plano da cultura fez com que boa parte da esquerda apostasse na débil defesa de uma arte “autenticamente brasileira". Tal ilusão é responsável pelo apaziguamento interno das obras de arte, que mesmo sob a retórica esquerdista não afetaram (e não afetam) a manutenção da ordem vigente.

Um projeto político revolucionário não pode seguir com uma política cultural que carrega os erros da tese do socialismo em um só país. Enquanto Cuba prova dos próprios erros táticos do castrismo e o restante da esquerda demagógica latino americana cai em lágrimas diante do aumento do controle imperialista no continente, como insistir em soluções culturais que obedeceram a estas determinações equivocadas? A necessária ascensão de um movimento político revolucionário da classe trabalhadora, traz para o campo cultural uma redefinição que passa necessariamente pelo internacionalismo.

Ainda que nos governos Lula e Dilma não se tratasse propriamente de levantar a bandeira suja de uma “burguesia progressista" aliada com os trabalhadores, ideia esta que o Golpe de 1964 arrasou de cassetete na mão, insistiu-se (e insiste-se) na política de alianças que, beijando a mão do capital, também resulta paradoxalmente/forçosamente em símbolos nacionalistas. Geopoliticamente tomado pela linguagem mercadológica, o Brasil ainda assiste aos resquícios da velha esquerda nacionalista que, ao insistir na auto-defesa orgulhosa da “brasilidade", culmina tão somente em um sorriso amarelado perante a dominação econômica e estética dos produtos das multinacionais.

A classe trabalhadora brasileira precisa obter clareza teórica para seguir na direção do socialismo revolucionário. Para os artistas e intelectuais organicamente ligados ao proletariado, a saída não está no escudo nacionalista mas no movimento cultural revolucionário que complementa-se com a luta política. Os erros do nacionalismo na cultura só podem ser corrigidos por uma concepção política revolucionária capaz de agir sobre a dinâmica internacional do capitalismo; esta estruturou-se historicamente a partir de um desenvolvimento desigual e combinado. Ao apresentarmos a validade da teoria da revolução permanente elaborada por Leon Trotski, é preciso que esta concepção seja pensada e experimentada também em sua dimensão cultural.

Evidentemente que não podemos colocar de lado a riqueza estética contida nas inúmeras manifestações da cultura popular brasileira. Seria falso afirmar que as práticas artísticas envoltas na diversidade regional adequam-se somente aos propósitos equivocados do nacionalismo esquerdista. Separemos a contribuição original das manifestações artísticas populares das expressões que ocultam o bigode embalsamado de Stálin. A capacidade de síntese presente na fusão entre os mais variados elementos regionais e internacionais não é gerador de curiosidades antropológicas, mas uma condição histórica que pode contribuir com o surgimento de manifestações artísticas que engrossam a rebelião contra a cultura dominante.

A contribuição estética regional é cada vez mais absorvida pelas novas realidades tecnológicas presentes no mundo da comunicação de massa. A resposta a este processo de cooptação cultural não está no nacionalismo nostálgico, mas numa prática artística em que a direção da classe operária na luta revolucionária dinamiza as formas da arte popular: preservar as tradições populares não impede o diálogo das manifestações regionais com a avalanche de componentes estéticos internacionais que apresentam a revolta contra o status quo. Portanto, a produção artística revolucionária, necessariamente plural e que não está subordinada a nenhuma forma de centralização política, exige atualização técnica e repele a mumificação folclórica: a inquietude artística nasce e se desenvolve a partir de novas realidades técnicas, pertencentes ao mundo urbano. Trata-se assim de uma realidade histórica que ultrapassa as fronteiras nacionais.

O marxismo pressupõe uma análise da economia mundial, que por sua vez é produto da divisão internacional do trabalho e das imposições mundiais do mercado. Se as forças produtivas superam as barreiras nacionais, tanto a produção quanto a técnica internacionalizam-se. A própria técnica artística, que condiciona as formas de expressão, é parte integrante destas transformações internacionais. No desenvolvimento histórico desigual das realidades nacionais, as novas técnicas artísticas resultam num trânsito internacional de informações culturais. Tanto um acontecimento político quanto artístico de um país influem sobre a realidade de outros países. Sendo a originalidade das culturas nacionais parte de uma unidade maior, as crises do capitalismo são respondidas não pelo isolamento mas pela sincronia política revolucionária.

O internacionalismo da oposição artística tem por finalidade promover o desiquilíbrio do modo de vida burguês. É esta missão histórica da arte que será tratada no próximo artigo desta série.




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