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DEBATE | O morenismo à deriva diante da vitória de Bolsonaro

Com diferentes nuances, todo o morenismo serviu de quinta roda para o avanço do autoritarismo judiciário. Com o apoio ao impeachment ou à Operação Lava Jato, se posicionaram ao lado das forças mais reacionárias, que com o apoio do imperialismo buscavam avançar num ataque sem precedentes às condições de vida das massas, num nível muito mais profundo e acelerado do que o próprio governo petista já se propunha.

segunda-feira 3 de dezembro de 2018 | Edição do dia

O golpe institucional de 2016 e sua continuidade com a prisão arbitrária de Lula e a manipulação eleitoral que favoreceu a vitória de Jair Bolsonaro, foi um divisor de águas na esquerda brasileira. As organizações morenistas, que reivindicam a tradição do dirigente trotskista argentino Nahuel Moreno (PSTU além de MES, CST e Resistência, que fazem parte do PSOL, essa última vinda de uma ruptura recente com o PSTU e com uma evolução política distinta) perderam qualquer critério de classe para sua orientação e navegam os agitados mares da política nacional sem nenhuma bússola.

O que marca a política atual do morenismo brasileiro é o criminoso apoio ao golpe institucional (para uma visão mais completa da política do morenismo frente ao golpe institucional, ler aqui).

Com diferentes nuances, todo o morenismo serviu de quinta roda para o avanço do autoritarismo judiciário. Com o apoio ao impeachment ou à Operação Lava Jato, se posicionaram ao lado das forças mais reacionárias, que com o apoio do imperialismo buscavam avançar num ataque sem precedentes às condições de vida das massas, num nível muito mais profundo e acelerado do que o próprio governo petista já se propunha.

Uma capitulação aberta à opinião pública burguesa e à campanha permanente contra a corrupção petista, como se essa fosse quase monopólio do PT. O que estava de fundo nessa cruzada anti-petista da opinião pública burguesa nunca foi o combate à corrupção, mas deslegitimar não o que o PT tem de burguês, mas deslegitimá-lo como representação política (ainda que distorcida, nós sabemos), da classe trabalhadora. Assim o PSTU (e também a CST) levantou o "Fora Todos" que começaria pelo "Fora Dilma", mas nunca prosseguiu para nenhum outro. O MES se transformou no campeão da Lava Jato até o final e até adotou como lema nas eleições municipais de 2016 em Porto Alegre o “candidata de mãos-limpas” para Luciana Genro, uma referência explícita à operação italiana na qual se inspira Sérgio Moro.

Sua política pretendia o absurdo de que o debilitamento do PT, mesmo que fosse pelas mãos da direita, faria avançar o processo de experiência de massas com o PT e abriria espaço para a esquerda revolucionária. A realidade não demorou para desmentir essas ilusões. O autoritarismo judiciário, ao tirar Dilma, ao prender Lula, ao perseguir o PT, teve efeito contrário. Por um lado ajudou a que amplos setores da classe trabalhadora tirassem conclusões pela direita, e não pela esquerda, da sua experiência com o PT. Por outro lado, fortaleceu na visão de milhões de trabalhadores a ideia do PT como o principal partido de esquerda. O golpe institucional ao invés de debilitar o PT nesses setores, apenas o fortaleceu.

Frente a esse descalabro, cada setor morenista seguiu seu caminho em meio à confusão generalizada. O PSTU se dividiu em dois, e a maioria segue a mesma política de quinta roda do golpismo, sem tirar nenhuma conclusão do processo.

O MES avança por um caminho ultra pragmático. Já em 2016 reviu a posição de apoio ao impeachment na última hora passando a caracterizá-lo como golpe parlamentar. Uma definição que deixa de fora justamente o pilar da ofensiva autoritária que é o judiciário, que expressa sua recusa em reconhecer o caráter reacionário da Lava Jato e a posição pró-imperialista do juiz Sérgio Moro. Vão tentando abandonar suas posições golpistas e se colar na base petista, mas sem rever seu apoio ao judiciário, com definições como a de que a entrada de Moro no governo Bolsonaro "daria lugar a um processo de experiência com esse juiz", que seria menos pior do que “alguns dos marginais políticos que acompanham Bolsonaro”. Talvez sirva ao menos para que a direção do MES faça sua experiência com um juiz que está a serviço da entrega do Pré-Sal e de outros interesses imperialistas.

Resistência: rompendo com o golpismo para aderir ao petismo?

A Resistência se recusou a romper com a política golpista do PSTU antes ou durante o golpe institucional, ou mesmo vir a público com as suas posições, abandonando o combate público contra a opinião pública burguesa e a luta por uma orientação correta para a vanguarda num momento crucial da história do país.

A Resistência, que rompeu com o PSTU a partir do questionamento correto à política golpista do PSTU, não fez nenhum balanço profundo das posições morenistas que levaram ao descalabro de apoiar o golpe institucional, e deu um giro de 180 graus na sua política, passando do PSTU ao seguidismo ao PT.

Uma forma diferente de cometer o mesmo erro: apostar em setores de classe alheios aos trabalhadores para resolver as tarefas que seriam dos próprios trabalhadores. Ao invés de fazer seguidismo aos golpistas para debilitar o PT, agora fazem seguidismo ao PT para debilitar o golpismo.

É um avanço, sem dúvida, reconhecer a existência do golpe institucional e o caráter reacionário da Operação Lava Jato. Porém, um giro que não vai até o final no balanço teórico e estratégico do morenismo os leva a repetir um erro que é o oposto simétrico ao do PSTU, se diluindo na maioria do PSOL e numa política quase acrítica ao petismo.

A diluição de todos os morenistas na frente ampla petista

No seu ecletismo as organizações morenistas combinam o seguidismo ao golpismo da direita, mesmo que de forma mais aberta, como o PSTU e CST, ou de forma cada vez mais envergonhada como o MES. O que emparenta essas três organizações é que, de uma forma ou de outra, frente à vitória de Bolsonaro, aprofundam a adaptação ao petismo.

MES e Resistencia estão participando mais uma vez acriticamente da Frente Democrática ou Frente Ampla do PT contra Bolsonaro. As figuras parlamentares do MES participaram dos atos petistas no segundo turno e dos dois atos #elenão em setembro (apoiados inclusive por setores burgueses), e buscam agora conformar um bloco parlamentar com o PT. Não se trata de um pouco mais de crítica ou um pouco menos de crítica ao PT. Uma política independente do petismo deveria mostrar a impotência estratégica da Frente Democrática e apontar a luta de classes e a frente única da classe trabalhadora como único caminho para enfrentar os ataques de Bolsonaro e seu governo, mas mesmo isso não basta. É preciso também uma orientação correta para os sindicatos petistas, que ajude a base desses sindicatos a pressionar suas direções a tomar medidas efetivas de luta e organização e que ajude a acelerar sua experiência com essas direções, disputando a política do conjunto do movimento.

Depois de ter apoiado o impeachment da direita mais reacionária, colocado a tarefa de "superação do PT" nas mãos da pró-imperialista Lava Jato e Sérgio Moro, e calado qualquer delimitação com as burocracias sindicais petistas, o PSTU conclui que o "Fora Todos" foi um sentimento que ajudou a eleger Bolsonaro.

Ainda que envergonhada, trata-se da confissão de que sua política desde 2015 ajudou a jogar água no moinho de Bolsonaro, do golpismo e da direita, pois os dois "Fora Todos" conviveram bem nas paredes da FIESP. Agora, frente à necessidade de enfrentar Bolsonaro, aplaude acriticamente as manobras da burocracia sindical da CUT e demais centrais, que não apenas freiam qualquer plano de luta, mas propõem uma "reforma da previdência alternativa", um verdadeiro escândalo.

Por um lado nega a demanda de liberdade para Lula, a principal referência política do PT, o que é na pratica uma negação de uma frente única real (na luta de classes, para objetivos práticos de ação, a verdadeira acepção da frente única na concepção marxista) com setores da base petista. A posição do PSTU se torna ainda mais absurda, na medida em que não se diferencia da política das direções sindicais petistas para combater a reforma da previdência – lembrando que o elemento fundante da tática de frente única deveria ser a superação, na experiência concreta, das direções reformistas. Na prática acaba embelezando as direções petistas e, pela via da Conlutas, aderindo ao chamado capitulador e divisionista das centrais sindicais de fazer uma campanha por uma reforma da previdência distinta da que o governo Temer propôs e que Bolsonaro pretende aprofundar.

Um dos argumentos dos morenistas do MES, PSTU e CST, que buscam retroceder das suas posições anteriores sem nenhum balanço, é a importância do combate à corrupção e de que a esquerda não deixe essa bandeira nas mãos da direita. Para isso, de uma forma ou de outra terminam exigindo da própria justiça golpista que leve a luta contra a corrupção até o final, e ao fazer isso entregam a bandeira da corrupção e também sua independência programática para a direita contra a qual supostamente estariam disputando.

O combate à corrupção de uma perspectiva de classe e revolucionária tem que apontar não só contra a casta política, mas também judicial e militar. Com um programa que combine o fim de todos os privilégios de casta, o fim da justiça militar, o julgamento por júri popular de todos os crimes de corrupção e, nas conjunturas que antecederam a vitória eleitoral de Bolsonaro, a luta por uma assembleia constituinte para enfrentar o conjunto da casta política podre.

É preciso que essas organizações revejam criticamente sua estratégia desde o golpe institucional. De todos os zigue-zagues que o MES tenta para abrir diálogo com a base petista o que não muda é seu amor pelo judiciário. Muito menos o chamado a uma unidade acrítica com as centrais sindicais, mantendo todas as posições golpistas, como faz o PSTU, oferece uma política independente da Frente Democrática. Também um giro de 180 graus como fez a Resistência, sem rever as bases teóricas e estratégicas dos erros do PSTU, pode só conduzir a uma política de diluição no petismo.




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