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TURQUIA | O governo de Erdogan aprofunda os expurgos e avalia legalizar a pena de morte

Há mais de 7.500 presos entre funcionários, militares e policiais que se somam aos 10.000 suspensos e demitidos. Também denunciam censura de portais de notícias. Tensão com a União Europeia e com os EUA.

terça-feira 19 de julho de 2016 | Edição do dia

O governo de Recep Tayyip Erdogan aprofundou as detenções depois da tentativa de golpe de estado da sexta-feira (15) na Turquia, apesar das advertências da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos. Enquanto isso, analisam legalizar a pena de morte.

Ao redor de 7.500 pessoas foram detidas até o momento: mais de 6.000 soldados, 755 juízes e fiscais, cerca de 650 funcionários civis e mais de uma centena de policiais. Também, 103 generais e almirantes das Forças Armadas turcas sob a acusação de se envolverem na intentona do golpe militar, informou a agência de imprensa pró-governamental Anadolu. Entre eles estão os comandantes do 2º e 3º Exército das forças terrestres e o ex-comandante das Forças Aéreas, Akin Öztürk, acusado de ser o cérebro do golpe.

As cifras não terminam nos detidos. Mais de 8.500 membros do Ministério do Interior (incluídos policiais) foram suspensos de suas funções. Da mesma forma, um governador estadual, 29 ex-governadores, que ocupam cargos simbólicos na administração regional, e 47 responsáveis de distritos. Outros 1.500 funcionários de ministérios foram tirados de suas funções e abriu-se investigações sobre eles. Estes se unem aos 2.745 juízes, incluídos vários dos mais altos tribunais, que foram despedidos (um sexto do total).

Os críticos de Erdogan dizem que se valerá dos expurgos para criar um sistema judicial dócil, ao eliminar todas as vozes dissidentes nos tribunais. Ao mesmo tempo a derrota da tentativa de golpe lhe permitiu ganhar o apoio de todos os partidos parlamentários (incluídos os opositores), atrás de seu discurso de “Unidade Nacional”, o que lhe permitiria avançar em suas aspirações de um regime crescentemente presidencialista.

Pode te interessar: "O golpe falido fortalece as tendências reacionárias do governo turco".

Além disso, 20 portais de notícias e páginas da internet foram proibidas pelo governo da Turquia, assinalaram hoje a plataforma Engelliweb e Yaman Akdeniz, um ativista que analisa este tipo de bloqueios. Que se somam às dezenas de milhares de páginas de internet censuradas, entre elas de plataformas políticas dissidentes. Também foram bloqueados temporariamente o Twitter e o YouTube.

Partidários do mandatário se reuniram em frente a sua casa em Istambul para pedir que quem se levantou contra o Governo enfrente a pena de morte, derrubada em 2004 como parte de seus esforços para somar-se à União Europeia. "Não podemos ignorar esta demanda", disse Erdogan à multidão. "Nas democracias é preciso fazer o que o povo pede".

Advertências internacionais

As detenções, e a possibilidade de legalizar a pena de morte geraram declarações ríspidas com seus aliados da União Europeia e dos Estados Unidos.

Sobre a quantidade de detenções o Ministro de Exteriores francês, Jean-Marc Ayrault, disse: “[A tentativa de golpe] não pode se transformar em um cheque em branco para Erdogan”. Por sua vez, o Secretário de Estado norte-americano, John Kerry, chegou a falar em nome da OTAN, a qual pertence a Turquia, para dizer: “Acompanharemos com muito cuidado o que está acontecendo”.

Enquanto isso, Erdogan fez um pedido aos Estados Unidos de extradição do clérigo Fethullah Gülen, acusado de estar por trás da tentativa de golpe, o que gerou tensões com os Estados Unidos que pediu provas. Erdogan disse “Agradecemos a nossos sócios pelo apoio oferecido. Os EUA é um amigo, um sócio estratégico, mas que provas mais querem [para extraditar Gülen]?”, e adicionou que em caso de que não os entreguem Turquia se perguntaria se o governo norte-americano “é um amigo de verdade”.

A respeito da pena de morte a União Europeia lembrou a Turquia que está obrigada por seus compromissos em virtude do Convênio Europeu de Direitos Humanos e como membro do Conselho da Europa a não reintroduzi-la. “Nenhum país pode transformar-se em membro da UE se introduz a pena de morte", assegurou a chefa de política exterior da UE, Federica Mogherini.

Tradução Francisco Marques




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