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Luta de Classes na América Latina | O governo colombiano fecha fronteiras e militariza o país frente à paralisação nacional

O Governo de Duque, com medo de que os acontecimentos latinoamericanos cheguem com tudo ao seus país, mandou fechar as fronteiras com o Equador, Perú, Brasil e Venezuela, além de militarizar as principais cidades

quinta-feira 21 de novembro de 2019 | Edição do dia

Com os ventos das rebeliões em Equador, Chile e a resistência ao golpe de Estado na Bolívia, a Colômbia fará uma paralisação nacional hoje (21). O Governo de Duque, com o medo de que os acontecimentos latinoamericanos cheguem com tudo em seu país, mandou fechar as fronteiras com Ecuador, Perú, Brasil e Venezuela, além de militarizar as principais cidades, sobretudo Bogotá, e habilitou prefeitos e governadores a aplicar o toque de recolher.

O que foi uma paralisação convocada inicialmente pelas centrais sindicais e movimentos sociais no começo de outubro contra as medidas antipopulares de Duque, foi ganhando cada vez mais força ao ponto de que atemorizou o debilitado Duque, que chegou a tomar medidas extremas e se vê cruzado também por fortes questionamentos políticos. A sombra da rebelião no Chile chega na Colômbia, um país que também escolheu por décadas o neoliberalismo em sua imagem e semelhança ao país andino sulamericano.

Os índices de rechaço a Duque, de acordo com as últimas pesquisas, chega a 69% e está há apenas 15 meses na Casa de Nariño (sede da Presidência). Trata-se de um governo onde a presença do ex-presidente Álvaro Uribe é permanente, inclusive, para muitos, é quem decide quem vai ou quem fica entre os integrantes do alto escalão.

A partir do Governo e do Centro Democrático (partido de Álvaro Uribe) fizeram tudo que era possível para desmontar a jornada recorrendo a uma campanha midiática e buscando impor o medo. A militarização é parte desta política, inspirada no rançoso uribismo, ao que se somaram uma série de ataques a líderes sociais e populares e à sedes de organizações sociais, com um total de 27 ataques em Bogotá, Cali e Medellín.

Como escreve um meio local de Bogotá “com este preocupante espelho a 6.481 kilometros de distância, transmitido ao vivo e diretamente pela televisão, o presidente Duque tomou uma decisão nesta noite: ativou todos os alarmes na Casa de Nariño para evitar a qualquer custo que a Colômbia siga o mesmo caminho” (La Semana, 19.11.2019). Desde segunda-feira foi mandado o aquartelamento em primeiro grau (alerta máximo) das forças militares.

Não é para menos, com uma rançosa classe dominante e políticos que tem feito da Colômbia o que lhes dá vontade, existem níveis alarmantes de desigualdade social, uma altíssima precarização da juventude cujo descontentamento já veio se expressando com as mobilizações estudantis de outubro, uma população camponesa pobre junto a pequenos agricultores envelhecidos, além de uma política de cada vez mais marginalização dos povos indígenas.

Não à toa, a juventude junto aos trabalhadores está cumprindo um papel de destaque nas mobilizações, é que entre as razões iniciais do descontentamento se encontram iniciativas do governo como a de reduzir o salário para os jovens até que fique em 75% do mínimo. Tudo isso como parte do chamado pelos convocantes de “pacotão do Dque”, que inclui reformas da previdência, de trabalho e tributárias, além de um plano de privatização de empresas estatais como a Ecopetrol.

Somado ao aumento da violência contra o povo, assassinato de indígenas, homicídios de líderes sociais e dissidentes das FARC (de acordo com o último informe do Instituto de Estudos sobre Paz e Desenvolvimento, somente até abril deste ano e desde que se assinaram os acordos de paz -24.11.2016-, se contabilizavam 702 líderes sociais e 135 ex combatentes das FARC, número que já aumentou no decorrer do ano); e recentemente o massacre de 8 menores de idade em um bombardeio do exército no estado de Caquetá. De acordo com muitas mídias, e como se pode notar nas redes sociais, as marchas serão e já estão massivas, a insatisfação social e a raiva se sentem contra o pacotão de Duque.

É que junto a paralisação nacional estão convocadas mobilizações em praticamente todas as principais cidades do país. Além de trabalhadores dos mais diversos setores privados e públicos, dos movimentos sociais, estudantes, camponeses, indígenas e da população pobre urbana, aderiram também diversos setores sociais, setores da classe média que expressam também a insatisfação social, artistas e intelectuais se unificaram ao chamado à paralisação. Obviamente existirão setores da oposição que tentarão tirar proveito mas é difícil fazê-lo em cima da grande insatisfação generalizada que se desenvolve no país.

Alguns analistas compararam esta jornada do 21N inclusive com a grande paralisação do dia 21 de setembro de 1977, quando a Colômbia viveu uma das paralisações mais fortes de sua história, que naquele momento marcou a decadência da presidência de Alfonso López Michelsen. Uma jornada de manifestações, que assim como esta do 21N foi inicialmente convocada pelos movimentos sociais sindicais, à qual se foram somando diversos setores de diferentes estratos sociais produto do desgaste da população com o governo e o regime de então.

O impacto e a massividade das mobilizações em todo o país poderia ir configurando que seja a Colômbia o próximo país das rebeliões que sacodem o continente. Nada está escrito de antemão, e a situação imperante indica que pode ser que o que seja vivido hoje tenha continuidade nos próximos dias. A jornada pode fazer explodir a indignação latente do povo colombiano.

Da continuidade deste caminho, os trabalhadores, a juventude, os pobres urbanos, camponeses pobres, indígenas junto aos demais setores oprimidos e explorados da sociedade colombiana tem o desafio de se colocar no centro do cenário nacional sem se deixar usar pelas diferentes manobras que podem ser levadas adiantes pelos diferentes partidos da oposição, inclusive a centro-esquerda, que procuram canalizá-lo em uma espécie de “manifestação cidadã” para então buscar reformas cosméticas no regime. Por isso, a inspiração encontrada no povo chileno que está há mais de um mês em contínuas mobilizações, inclusive saindo para enfrentar as armadilhas que buscam colocar por meio de acordos dos de cima.

Ainda que o governo tenha buscado impor o medo, e se temem repressões e infiltrados da Polícia Nacional nas mobilizações, a tendência é que hoje se encham as ruas. Nesta ocasião as mobilizações podem ser massivas pelo que o governo já demonstrou com seu medo e todas as medidas que está tomando. Não é menor neste momento a força que chega ao continente, a força das manifestações de Porto Rico, Equador, Chile, que demonstram o desgaste popular frente às medidas capitalistas.




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