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Celeste MurilloArgentina | @rompe_teclas

quarta-feira 15 de abril de 2015 | 00:01

O governo francês de François Hollande havia nomeado Laurent Stefanini como titular para sua embaixada no Estado Vaticano. Após três meses da nomeação, a Santa Sede não aprovou seu cargo.

Recentemente se tornaram conhecidas as declarações do Papa a um grupo de deputados franceses, relacionadas com a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

A mensagem aos legisladores foi categórica: “Vossa obrigação é propor leis, emendá-las, mas também aboli-las. Por isso é necessário colocá-las um espírito, uma alma que não reflita apenas os modos e as ideias do momento, mas também que possibilitem uma qualidade vital que eleve e enobreça ao ser humano”.

Ao contrário de uma das demandas básicas de organizações de mulheres, feministas e da comunidade LGBTI ao redor do mundo, que é a separação da igreja do Estado, o Papa visa consolidar e aumentar a interferência da Igreja na vida pública.

A demora em aceitar o diplomata francês e a recusa em fazer declarações não faz mais do que confirmar que a doutrina do Vaticano segue intacta, muito longe da suposta nova imagem que quis mostrar Bergoglio com o Sínodo da Família.

A federação LGBTI italiana denunciou a recusa do Vaticano em nomear Stefanini. Segundo a agência de notícias EFE, o dirigente da organização, Flávio Romani, comparou a situação com a perseguição que sofrem gays e lésbicas em Uganda, onde “são perseguidos ‘em nome de Deus’”, e disse claramente que “no Vaticano, as pessoas homossexuais são rejeitadas, apesar das palavras que pregam o acolhimento”.

Fontes diplomáticas francesas asseguram que ainda esperam receber a aprovação vaticana: “Esperamos esperando a resposta ao nosso pedido de aprovação”. Segundo o jornal Le Monde, o cargo está vago desde o começo de março, já que o antigo representante da França ante o Estado Papal, Bruno Joubert, já regressou ao país.

“Se alguém é gay e busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-lo?”, havia dito o Papa em 2013. Longe ficaram essas declarações, que papistas e próximos fizeram percorrer o mundo para mostrar a transformação que Bergoglio levava ao Vaticano. Hoje, dois anos depois, o Papa Francisco já possui uma coleção de declarações que confirmam que a Igreja Católica segue no caminho inquisitorial que recorreu sua história.

Até sexta-feira, dia 10, o Vaticano se negou a fazer declarações. O diplomata Laurent Stefanini já havia ocupado um posto na embaixada francesa no Vaticano entre 2001 e 2005. O diplomata não seria o primeiro embaixador homossexual proposto para o cargo, mas sim o primeiro em assumir abertamente. Evidentemente, aceitá-lo é um precedente que o Vaticano não quer abrir.

O matrimônio entre pessoas do mesmo sexo foi aprovado em 2013 na França, logo após uma intensa discussão na Assembleia Nacional. Durante o debate, foram realizadas manifestações a favor e contra, mostrando uma sociedade polarizada, com uma maioria de 65% a favor deste direito civil e 37% contra. A aprovação gerou indignação entre a direita conservadora e os setores religiosos.

Essa não é a primeira vez que o Papa Francisco busca influenciar na vida política. Na Argentina, quando era cardeal, Jorge Bergoglio encabeçou em 2010 a oposição ao direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, o que denominou de “movimento do diabo”, hoje esquecido pelos renovados laços entre o governo e o Papa. E até hoje o governo de Cristina Fernandez tem cumprido religiosamente seu pacto com o Vaticano, e bloqueou qualquer debate para aprovar o direito ao aborto legal e acabar com as 300 mortes por abortos clandestino por ano. A presidenta espera receber em junho, quando visita o Vaticano em pelno ano eleitoral, um novo apoio do Papa para seu mandato.




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