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ANÁLISE ECONÔMICA | O “Pibinho” de 2014 e os ajustes do governo

Flávia SilvaCampinas @FFerreiraFlavia

sábado 28 de março de 2015 | 00:01

Segundo pesquisa do IBGE divulgada nesta sexta-feira, o PIB do país variou 0,1% em relação a 2013. O PIB é uma medida do conjunto das riquezas produzidas no país no período de um ano. No último ano, na verdade, houve uma estagnação do PIB em relação ao período anterior, a economia ficou parada, é o pior resultado desde 2009.

Por setor, o setor Agropecuário (0,4%) - devido ao aumento nas exportações de alguns alimentos - e o setor de Serviços (0,7%) apresentaram uma fraca elevação, já a indústria caiu em 1,2%. Um importante destaque negativo foi a queda no investimento produtivo em 4,4%, o que se justificou, principalmente, pela queda na produção de bens de capital (máquinas para produzir máquinas). Esta queda refletiu a retração no setor da construção civil em 2014.

Com relação ao consumo, os gastos das famílias desaceleraram, crescendo menos de 1%, valor menor do que em 2013; assim como os gastos do governo (para este ano a queda neste índice deve ser maior devido aos ajustes, o que vai empurrar ainda mais o PIB de 2015 para baixo). O acesso ao crédito também deixou de crescer.

As exportações (-1,1%) e as importações (-1,0%) de bens e serviços tiveram queda em 2014. O resultado negativo nos dois dados são reflexo da queda na produção na indústria automotiva que reduziu suas exportações, principalmente para a Argentina.

Repercussão do "Pibinho"

Segundo a nota do BC divulgada hoje, Alexandre Tombini afirma que o dado do PIB confirmou uma “pausa no crescimento econômico” e que para o próximo período “os ajustes macroeconômicos em curso tendem a construir bases mais sólidas para a retomada da confiança e do crescimento econômico”.

No Congresso, a oposição a direita ao governo Dilma afirmou que “resultado do PIB é retrato do fracasso” da política econômica nos últimos anos, porém, nem PSDB de Aécio, nem PMDB de Eduardo Cunha, por seus interesses juntos aos empresários e latifundiários, não podem apresentar uma alternativa de política econômica que não corte na carne da população o ônus da recessão econômica.

Ainda no dia de hoje, diante da queda no PIB, a cotação do dólar diante do real voltou a aumentar, com o real sendo a moeda em maior desvalorização dentre 34 moedas da Bolsa. A notícia do PIB é negativa para o real, pois confirma a estagnação do crescimento da economia e as perspectivas de crescimento negativo do PIB para este ano.

O PIB dos EUA e o Brasil

Outro fator que está contribuindo este ano para a desvalorização do real, ou seja, para um dólar cada vez mais caro, são as notícias sobre a “recuperação” dos EUA. De fato, nos últimos trimestres, a economia norte-americana tem melhorado relativamente seus indicadores econômicos principais como queda no desemprego e nos seguros-desemprego, e aumento da produção de riqueza total do país, que é medida pelo crescimento do PIB que foi anunciado nesta sexta-feira.

O PIB dos EUA cresceu 2,4% em 2014, segundo dados do governo do país, e isto reforça o reajuste monetário que as autoridades do país planejam para este ano, esta medida levará a uma política dos EUA de aumento “gradual” em suas taxas de juros, o que já tem impactos, por exemplo, na desvalorização do Euro..

Porém, devido à baixa demanda global com a desaceleração chinesa, a crise na Europa e o baixo crescimento na América Latina, faz com que as exportações dos EUA não cresçam o suficiente para empurrar o país a uma recuperação econômica definitiva desde o início da crise em 2008. Ou seja, o quadro da economia mundial ainda está marcado pela instabilidade nos principais centros econômicos que são os EUA a Europa e a China.

Para o Brasil e para o restante dos países do globo, a política de aumento nos juros dos EUA levará a um enxugamento da liquidez mundial em direção aos EUA, em outras palavras, o dinheiro que circula no mundo irá se deslocar para se valorizar nos EUA, que é considerado lugar “mais seguro” para os capitalistas (investidores) do que países como os BRICS (Brasil, Rússia, Índia e China, estes países representam 30% da economia mundial e estão desacelerando empurrando a economia mundial a um baixo ritmo de crescimento).

Dessa forma, se inicia o encerramento de um ciclo de “dinheiro fácil” e barato que se deslocava para o Brasil (país com a maior taxa de juros do mundo) e o restante da América Latina. Este ciclo de dinheiro barato viabilizou o aumento nos empréstimos dos bancos às empresas privadas (muitas “Campeãs Nacionais” estão com altas dívidas em dólares) e famílias, como a onda de empréstimos consignados a aposentados e funcionários públicos.

Um dólar mais caro, também vai elevar os custos da dívida externa do país, o que aumenta a pressão do “mercado internacional” (ou melhor, dos capitalistas dos países ricos) para que o Brasil faça cortes nos gastos públicos para pagar parcelas cada vez maiores dos juros da dívida pública – ou o chamado “aumento da meta de superávit primário”.

O impacto na inflação, com a valorização do dólar, por exemplo, já está elevando o preço do pãozinho francês nas padarias, pois a farinha de trigo é em sua grande parte importada da Argentina e tem preço cotado em dólar.

O fim de ciclo lulista na economia

A queda no consumo das famílias, nos gastos públicos do governo e nos investimentos produtivos da indústria, somados a queda das exportações e do setor da construção civil, apontados pela pesquisa do IBGE, são os sintomas de que a recessão econômica deve se aprofundar. É a evidência do esgotamento do ciclo de crescimento que deu sustentação econômica ao petismo nos últimos 10 anos.

O ministro da Casa Civil, Mercadante (PT), em declaração esta semana, reafirmou o recado de Dilma: “o ajuste fiscal é indispensável e inadiável”. Claramente a agenda do governo é atender aos interesses dos investidores internacionais, do FMI e Banco Mundial (Mercadante anunciou que irá recorrer a empréstimos para estes órgãos internacionais do capital estrangeiro).

Infelizmente percebe-se que frente ao “pibinho” brasileiro a política econômica do governo Dilma e seus ministros será aprender com os governos dominantes europeus, fazendo empréstimos de instituições internacionais (que aumentam a “dependência econômica”) e importando os “planos de austeridade”, que na linguagem nacional tornaram-se “ajustes” econômicos.




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