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OPINIÃO | O PT aplaude a intervenção de Bolsonaro e desorganiza a greve petroleira

E se um dia, de repente, seu inimigo não fosse mais seu inimigo? Meio absurdo não? Mas é exatamente isso que o PT está pensando da intervenção de Bolsonaro na Petrobras. E é por isso que a greve petroleira contra a privatização em curso foi desorganizada.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

segunda-feira 1º de março de 2021 | Edição do dia

A sucessão de elogios do PT e PCdoB à intervenção de Bolsonaro na Petrobras semeia no mínimo confusões entre os trabalhadores. Estaria Bolsonaro realmente dando uma guinada “nacionalista” ou “estatista” como a Globo News o acusa? Esses elogios se não semeiam essa confusão podem até mesmo gerar ilusões de que o “inimigo agora é outro”, tal como o assassino do BOPE que se torna boa gente em Tropa de Elite 2. Não é estranho ao elogio petista que a greve petroleira contra as privatizações está sendo desmontada pela Federação Única dos Petroleiros, entidade dirigida por sindicalistas ligados ao PT. O exemplo de 1995 ou da greve do ano passado mostram que os petroleiros podem enfrentar as privatizações.

Bolsonaro anunciou a privatização da Eletrobrás e dos Correios para provar que está comprometido com a agenda do golpe. E não podemos ter dúvidas de que a privatização da Petrobras segue e ainda é imediata na Bahia. Sua intervenção na Petrobras visa alguma blindagem eleitoral ao mesmo tempo que mantém intactos os interesses capitalistas que apoiaram ou o aceitaram como presidente do país. Bolsonaro já discursou mais de uma vez que não intervirá no preço dos combustíveis, será praticado o preço internacional: só não vê quem não quer ver. Quem não vê isso e semeia confusão? Em primeiro lugar a grande mídia e os “investidores” porque querem garantir o máximo de lucro em ações da Petrobras, mas também o PT e seus aliados. E assim estão fazendo os petroleiros se desarmarem diante de um interventor que já anunciou que quer atacar seus direitos e fazer o máximo pelos acionistas. E assim, a crise dos combustíveis passa a ser respondida pelo “mercado”, pelo governo, por direções reacionárias de caminhoneiros, por patronais organizando locautes como vimos em BH, por quem for, menos pela classe trabalhadora.

O presidente da Comissão Parlamentar Defesa da Petrobras, senador Jean (PT-RN) declarou que se tratava de uma decisão correta de Bolsonaro. O influente Aloízio Mercadante foi além, atestou um nacionalismo do general: “Até onde eu sei, o general Luna é também um militar nacionalista”. Revisitando a lenda dos generais nacionalistas, como argumentado nesta coluna. Jandira Feghali, do PCdoB, foi além, está prestes a aplaudir Bolsonaro: “para aplaudir mesmo a iniciativa do governo, quero antes ter certeza de que o novo presidente da estatal vai quebrar essa política de preços”.
É exatamente uma cópia deste discurso o que está sendo dito pelos sindicatos dirigidos pelo PT. Mas fazem mais do que discursos. Adiaram e desorganizaram a greve petroleira que primeiro seria no dia 18, depois no 25, em 1/3, em 4/3 e agora nem se sabe se haverá.

A ilusão criada pelo PT de que o inimigo virou aliado não termina na farda. Divulgaram positivamente as ações dos acionistas (!) que criticam o valor da privatização da RLAM ou ainda o pedido de análise da privatização pelo CADE – o mesmo órgão que mandou a Petrobras privatizar as refinarias. Como que os acionistas e os indicados por Bolsonaro para ter assento no CADE se tornaram aliados?

Não é possível barrar algo da importância da destruição de todas instalações da Petrobras na Bahia, como ponta de lança de uma ofensiva que atingirá o país todo, pelas mãos de nenhuma instituição deste regime, muito menos das mãos de um General de 4 estrelas que os petroleiros conquistarão algo. Vale destacar o que o PT não fala deste general dito “nacionalista”: ele escreveu, junto de Villas Boas, a chantagem contra o STF ameaçando-o se fosse favorável ao habeas corpus de Lula, e além disso, ele foi ministro de Temer.

É infinita a capacidade do PT de seguir orientando a classe trabalhadora no mesmo caminho que só tem levado a derrotas. É incorrigível. Tem pavor a luta de classes e amor e confiança infinita em instituições golpistas. Alegam que alguma negociação, vai parar um impeachment, reforma, ou privatização. Não é assim que a banda toca. E justamente agora que esta instaurada uma crise nas alturas que desorganizou o alto comando da Petrobras, e toda população trabalhadora olha atentamente para a trama dos preços dos combustíveis, possibilitando que a categoria petroleira se prepare e construa uma forte greve nacional em melhores condições de tempo e força, é justamente agora que as direções petistas da FUP e da CUT pisam no freio da mobilização.

Qual motivo desse jogo do PT? Interessa a esse partido mostrar duas caras. Aos trabalhadores mostrar-se opositor dos ataques dos golpistas. Aos empresários, ao imperialismo, aos militares e instituições, mostrar-se como um ator sensato e disposto a tudo que é ponte institucional com o mesmíssimo golpismo. Com esse duplo discurso, buscam pavimentar o caminho a 2022. Esse caminho exige que as derrotas aconteçam sem luta de classes séria, algo que sirva para filme publicitário mas sem arriscar negociações com a FIESP, com Wall Street.

Essa atuação do PT é facilitada pela atuação dos partidos que estariam à esquerda do mesmo, os parlamentares do PSOL limitaram-se a ingressar com ação no TCU contra o valor da privatização, nenhum chamado à mobilização, nenhuma crítica a desorganização da greve. Os sindicatos da FNP (federação minoritária onde atuam PSOL, PSTU e sindicalistas independentes) adotaram a mesma postura da FUP diante do general e sequer marcaram assembleias contra as privatizações.
Construir uma greve nacional em uma situação reacionária não é das coisas mais fáceis. Mas com essa orientação já se sabe que não será construída, ou caso construída, será como desfile e não como a batalha necessária. A crise dos combustíveis segue aberta e clama para que alguma resposta seja dada mobilizando a insatisfação popular. Se não forem os petroleiros e a classe trabalhadora, outros darão respostas.

Para que seja possível outro caminho é preciso, primeiro, reconhecer os inimigos. Nada além de privatizações, perda de empregos e direitos virá das mãos de um general e de Bolsonaro. A partir desta visão construir desde a base a mobilização, impor aos sindicatos uma coordenação que represente as refinarias, terminais e plataformas de todo país, unindo todos sindicatos e as duas federações petroleiras. Para que esta unidade seja possível e supere a desorganização dessa greve pelo PT, as correntes sindicais na FNP, com um peso importante daquelas orientadas pela CSP-Conlutas e pelo PSOL, deveriam fazer o contrário do que estão fazendo. Deveriam construir assembleias e mobilizações contra as privatizações para ajudar a superar o entrave e garantir a unidade da categoria. A partir desta organização de um polo democrático e consequente na luta contra as privatizações, e caso a CSP-Conlutas e os parlamentares e figuras políticas do PSOL se colocassem a serviço de fortalecer esta luta, aí se poderia batalhar seriamente pela unidade da categoria e exigir que as grandes centrais sindicais deixassem sua inação diante de Bolsonaro, coordenando os petroleiros com outros setores em luta.

É possível nesta conjunta que coloca a crise dos combustíveis como um tema nacional e expõe divisões entre os poderosos melhor enfrentar as privatizações e, nesta luta erguer a demanda de uma Petrobras 100% estatal, administrada democraticamente pelos trabalhadores, para garantir empregos, combustíveis baratos e que as vastas riquezas do petróleo sirvam ao povo brasileiro e não ao enriquecimento imperialista e de seus poderosos parceiros locais. Deixar de dar uma batalha séria neste sentido facilita o caminho não somente para as privatizações mas para que a crise dos combustíveis seja explorada por Bolsonaro, pelos generais e por toda ordem de inimigos dos trabalhadores.




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