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FUTURE-SE | O “Future-se”, sim, será o verdadeiro “viés ideológico” nas universidades

Junto ao processo de desmonte das universidades brasileiras em curso, o lançamento do programa “Future-se” por Weintraub dá o passo seguinte, fortalecido pelo avanço da Reforma da Previdência. As metas de maior “empreendedorismo” e novo financiamento por parte de Organizações Sociais (OSs) e maior presença de capital privado nas universidades, utilizando verbas públicas para especular na Bolsa, serão também, na prática, um ataque à liberdade científica, em especial às Humanas. Afinal, cada vez mais quem decidirá os rumos das pesquisas serão os interesses das empresas.

quinta-feira 18 de julho de 2019 | Edição do dia

Não é novidade para ninguém que Bolsonaro se elegeu atacando os setores mais críticos da sociedade, encampando o projeto Escola sem Partido para censurar os professores nas escolas e pintando as universidades brasileiras como reduto de “esquerdistas”, do “marxismo cultural” e da “ideologia de gênero”, local de “militância política” e “viés ideológico”. O pensamento crítico, em especial a teoria revolucionária de Marx, vem mostrando como incomoda essa extrema direita, famosa por declarações sucessivas que esbanjam seu desprezo pela intelectualidade e pela ciência, com terraplanismo e “nazismo de esquerda”.

Desde o primeiro semestre, o que ficou evidente é que a tentativa de “isolar” as universidades do conjunto da população e dos trabalhadores, pintando-a como um “mal” para os valores “de bem” da sociedade e um desperdício de dinheiro público, apoiada no histórico projeto elitista e excludente das universidades, era das piores demagogias para fortalecer ajustes contra a juventude e a classe trabalhadora. Os cortes orçamentários, que significam a cada dia nas federais anúncio de congelamento em contratações, fechamento de unidades, cortes na permanência estudantil e nos salários, principalmente de trabalhadores terceirizados, ganharam corpo com esse discurso.

Por sua vez, a resposta vinda das ruas, com o movimento estudantil na linha de frente como oposição contundente aos planos de Bolsonaro e do golpismo da Lava Jato, surpreendeu e mostrou que um recuo era possível. A questão é que as “necessidades ajustadoras” da burguesia, em sua sanha para superexplorar, são parte de um projeto de conjunto de descarregar a crise sobre a classe trabalhadora. Justamente por isso, com o avanço da Reforma da Previdência, um “centro de gravidade do governo”, cujo caminho foi pavimentado pela separação consciente das lutas contra os cortes e contra a Reforma por parte das direções do movimento de massas (UNE e centrais sindicais como CUT e CTB), entregando nosso futuro, mais uma vez esses ataques à educação se fortaleceram.

Agora, a dimensão ideológica se torna ainda mais evidente. A necessidade de “fontes alternativas de financiamento”, entregando tarefas de gestão a OSs e atacando a autonomia universitária com a presença ainda maior de empresas, com verbas públicas na Bolsa de Valores e avanço no processo privatista, representa uma ameaça à existência de uma série de produções de conhecimento.

Isso porque o aprofundamento da ingerência das empresas, como fonte de financiamento das quais devem depender crescentemente as pesquisas nas universidades, impõe uma seleção dos conteúdos produzidos. Nesse sentido, quem realmente quer ditar o “viés ideológico” nas universidades, por uma ciência a serviço dos lucros das empresas, é Bolsonaro e sua corja.

Por um lado, isso atinge em cheio as Humanas, as Artes e as licenciaturas, áreas menos lucrativas e interessantes para as empresas, principais afetadas nos cortes de bolsa e financiamento, e contra a qual sempre que pode o governo esbraveja. Por outro, torna ainda mais difícil que as descobertas científicas se voltem aos interesses da população e dos trabalhadores. As Exatas e Biológicas, se possuem mais “serventia” aos interesses das grandes empresas, demandam também mais infraestrutura e investimentos e se tornariam ainda mais amarradas aos ditames do capital e ao projeto de país em curso.

Isso nem ao menos quer dizer que o Brasil deve se tornar um “grande pólo tecnológico”, uma vez que o país ruma a uma maior subordinação e dependência do imperialismo, aprofundando seu papel de Fazenda do Mundo. Como o próprio Bolsonaro anunciou, áreas como Veterinária e suas vinculações ao agronegócio podem ser um grande foco de financiamento. O que não é garantia nenhuma para a imensa maioria das pesquisas.

Nesse sentido, em momentos de crise capitalista internacional, as amarras que esse modo de produção impõe ao desenvolvimento das forças produtivas e à solução das mazelas sociais se escancaram. Uma ciência precária e a serviço dos lucros e interesses empresariais não pode ser uma ciência livre. É na realidade esse o projeto que verdadeiramente torna ainda maior a separação das universidades dos interesses da população e dos trabalhadores, uma vez que seu conhecimento não está a serviço da resolução dos problemas candentes na vida cotidiana da maioria.

É por isso que a resposta ao “Future-se” passa, de um lado, pelo combate ao conjunto dos planos ajustadores, a começar pela Reforma da Previdência, como uma só luta. Isso significa exigir e denunciar das direções do movimento estudantil e do movimento operário, como UNE, CUT e CTB, que seguem dividindo as lutas, enquanto seus governadores apoiam a Reforma, para que parem de deixar o tempo correr e preparem um combate sério, em defesa do nosso futuro. Isso poderia apontar para um programa que ataque os lucros dos inimigos dos trabalhadores, com o não pagamento da dívida pública, o combate ao desemprego, com a divisão de horas entre empregados e desempregados, sem redução de direitos e com o salário mínimo do Dieese.

De outro, mais do que nunca, na luta contra os ajustes, é preciso que o programa de uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre, expulsando a ingerência das empresas seja uma tarefa urgente do movimento estudantil que quer se ligar à população. Não só a luta da juventude pode incendiar a classe trabalhadora, como o desafio de colocar o conhecimento que foi historicamente impedido de acessar os trabalhadores, os negros, as mulheres e LGBTs e é uma urgência que este tempo nos coloca. Ligado a isso, fortalece-se a luta pela defesa das cotas e pelo fim do vestibular, junto à estatização das universidades privadas.




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