×

REFERENDO NO REINO UNIDO | O Brexit, o establishment e a classe trabalhadora

Josefina L. MartínezMadrid | @josefinamar14

sexta-feira 3 de junho de 2016 | Edição do dia

Em um artigo publicado dia 10 de junho no The Guardian, o jovem intelectual britânico Owen Jones observa que se a opção do brexit resulta vencedora (no momento da publicação desse artigo as pesquisas favoreciam a opção pelo brexit sob a escolha do “remain”), será em parte sobre os votos de um setor da classe trabalhadora descontente. Que o partido laborista está fracassando em chegar – com a campanha a favor de seguir dentro da UE- a um grande número de trabalhadores e setores pobres, camadas sociais que o laborismo supostamente “representava”.

Segundo uma pesquisa de YouGov realizada nos dias 5 e 6 de junho, os partidários por permanecer alcançavam 43% frente a 42% dos dispostos a saírem. A separação por afinidades políticas mostra que entre os votantes conservadores a opção por sair sobe para 50%, enquanto apenas 39% se pronuncia por permanecer e 10% se mantem indeciso.

A comparação da intenção de voto entre homens e mulheres não expõem grandes diferencias percentuais. Mas um contraste notório aparece pela segmentação social do voto. Nesse caso, os integrantes da franja ABC1, de maior renda, escolhem permanecer com um percentual de 52%, contra 36% pela proposta de sair. Enquanto que no outro polo social, o C2DE de menor renda, se inverte a proporção: 32% se inclinam por permanecer, enquanto 50% preferem sair da União Europeia.

Um primeiro Ministro conservador como Cameron, alinhado com o establishment numa campanha por permanecer, fortalece a vontade de “sair” de parte dos setores sociais descontentes, os que não se pode convencer ameaçando com o risco de instabilidade, pois suas vidas já são por si inseguras, diz Jones. Um sentimento de descontentamento e medo, aproveitado pela extrema direita e os partidários da campanha pelo brexit. Do lado do “remain” se encontra a City londrina, os ricos com empresas off shore e seus amigos os políticos de Westminster, um conjunto que gera profundas rejeições.

Por isso os líderes da campanha do brexit representam uma sorte de “trumpismo” em toda a linha, aponta Jones, uma campanha de setores que buscam uma maior concentração da riqueza e do poder, fazendo se passar por protetores da “rebelião anti establishment” que destila um forte sentimento anti- imigrante.

É dessa forma, que expressam, por uma direita e de forma reacionária, as frustrações, de setores de trabalhadores que viram se degradar suas condições de vida, que identificam essa situação com os “políticos de Londres”, com a adesão à UE e que percebem os imigrantes como ameaças.

A campanha de Corbyn, em oposição, se diferencia da “oficial” dirigida por Cameron e promove o discurso de que no abandono da UE se perderá o “marco social europeu” de direitos. Sua campanha encontra apoio em outros setores de trabalhadores e jovens, que repudiam a ofensiva xenófoba de Farage.
Sem dúvidas, a campanha do laborismo tem sido pouco convincente. Owen Jones, que esta terça feira se encontrava na Espanha apoiando a campanha de Unidos Podemos para as eleições de 26 de junho, considera que ao laborismo falta mais ênfase na proposição de “permanecer na União Europeia para mudá-la” por dentro. Sem dúvida, as próprias contradições de Corbyn no laborismo – com os setores mais conservadores do mesmo -, assim como as limitações de seu frágil programa de reformas, impedem contrapor a “radicalidade” do discurso da direita e os eurocéticos.

Racismo e Euroceticismo

Nas últimas semanas da campanha do brexit adotou-se um viés cada vez mais centrado na questão da imigração. Os cartazes de campanha de Farage do UKIP, colocaram o eixo claramente nessa questão.
Según la encuesta de YouGov, ante la pregunta “¿Usted cree que habrá más o menos inmigración en Reino Unido si salimos de la UE, o no hará ninguna diferencia?”, los partidarios de salir de la UE, se inclinan en un 87% por la afirmación de que el brexit significará menos inmigración en Reino Unido, algo que esperan lograr.

Segundo a pesquisa YouGov, diante da pergunta “Você acha que haverá mais ou menos imigração no ReinoUnido se sairmos da UE, ou não haverá nenhuma diferença? ”. Os partidários da saída da UE, se inclinam em 87% pela afirmação de que sair significará menos imigração em Reino Unido, algo que esperam alcançar.
Um forte sentimento anti imigrante que promove e aproveita a campanha da extrema direita, mas que também tem sido estimulada pelo governo Cameron e outros defensores de seguir na UE. É dizer, que na “cruzada ant imigrante”, Farage e os seus semelhantes são tidos como representantes mais decididos de uma política e um discurso que também tem influenciado dirigentes políticos do campo de continuar como parte da UE.

Enquanto que Corbyn e uma ala a esquerda do laborismo sustentam a solidariedade com os refugiados, o rechaço ao racismo e a xenofobia como questão central, sua campanha se vê prejudicada nesse ponto por compartilhar o campo de “permanecer” com os conservadores e Cameron.

Permanecer ou sair?

Os trabalhadores que lutam contra os ataques do governo, pela defesa da saúde e da educação, a juventude que se solidariza com os imigrantes e forma parte de redes de ativistas solidários, não tem nada a ganhar com esse referendum em que competem duas opções igualmente reacionárias: uma política nacionalista anti imigrante representada por Farage e os partidários do Brexit, ou uma alternativa europeísta xenófoba e austeritária, dentro da União Europeia.

Owen Jones, como Podemos e grande parte da esquerda “europeísta”, propõem uma estratégia de votar por “permanecer para mudar por dentro”. Mas se esta estratégia já fracassou na Grécia com o governo do Syriza, se mostra ainda mais equivocada nesse caso, quando a campanha por seguir na UE liderada por Cameron e as grandes multinacionais britânicas.

Então, votar por “sair” ou por “permanecer”? Nesse caso, a única opção política independente de classe passa pela abstenção e por difundir uma posição anticapitalista e internacionalista.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias