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VACINAÇÃO | "Nunca fui contra a vacina" diz Bolsonaro tentando apagar seu negacionismo

Nesta segunda (8), Bolsonaro afirmou na TV Bandeirantes que nunca se opôs à vacinação contra o coronavírus, buscando apagar todo seu histórico negacionista, anti-imunização e de promoção de tratamentos precoces sem comprovação científica. O que a mudança de tom indica é a pressão por uma possível recuperação econômica fruto do retorno ao trabalho com a vacinação. Mas não nos enganemos com a demagogia.

terça-feira 9 de fevereiro de 2021 | Edição do dia

Foto: Edu Andrade/Fatopress / Estadão Conteúdo

Em entrevista na TV Bandeirantes na segunda-feira (8), Jair Bolsonaro - que riu das centenas de milhares de mortos, negou a gravidade da pandemia e disseminou inconsequentemente orientações de uso de medicamentos sem comprovação científica como tratamento precoce para a Covid - buscou lavar a cara e afirmou que nunca foi contra a vacinação. Como justificativa para sua nova postura, Bolsonaro afirmou que os comentários que fazia tinham a ver com a situação incerta da aprovação emergencial das vacinas na Anvisa, que agora já foram formalizadas.

Diante da pressão nacional e internacional proveniente da vacinação nos principais países, Bolsonaro e seu ministro da saúde autodenominado profissional da logística, Pazuello, passaram a correr atrás de doses de imunizantes, ao passo que os estoques das principais produtoras já estavam negociados. Nos levaram assim, à uma situação onde menos de 40% dos trabalhadores da saúde terão acesso à imunização na primeira fase, sem falar dos outros grupos prioritários e setores como as trabalhadoras terceirizadas da limpeza, essenciais em todos os hospitais e postos de saúde, porém completamente ignoradas pelo programa de imunização oficial.

"A política de fechar tudo e ficar em casa não deu certo. O povo brasileiro é forte, o povo brasileiro não tem medo do perigo. Nós sabemos quem são os vulneráveis: os mais idosos e os com comorbidades. O resto tem que trabalhar" - Bolsonaro em 28 de janeiro.

A frase acima é só uma das diversas barbaridades emitidas pela boca do presidente. Evidentemente, sem testes massivos para detectar a disseminação do vírus e isolar os infectados, sem um auxílio que pudesse liberar do trabalho os setores não essenciais e sem um plano de vacinação com capacidade real de ser cumprido, o projeto de Bolsonaro e dos capitalistas sempre foi manter a economia aberta o máximo possível, ao passo que busca equilibrar a própria popularidade com medidas paliativas insuficientes (como mostram os quase 230 mil mortos).

Veja também: Residentes do HSP entram em greve contra a precarização da estrutura hospitalar

O presidente também foi, segundo um estudo da Universidade de Bourgogne, na França, o primeiro líder político da história a dar diversas demonstrações públicas desencorajando uma campanha de vacinação. “Não vou tomar [vacina]. Alguns falam que eu estou dando um péssimo exemplo. Ô imbecil, idiota. Eu já tive o vírus. Eu já tenho os anticorpos. Para que tomar vacina de novo?", disse em dezembro, mesmo com diversos relatos já confirmados no mundo de reinfecção pelo vírus.

Como diz a declaração da Fração Trotskista: "A luta por vacinas para todos e pela liberação de patentes é levantada como uma necessidade urgente em face da catástrofe da pandemia. Da mesma forma, é necessária a imediata intervenção estatal de todas as empresas farmacêuticas e laboratórios, para colocá-los sob o controle dos profissionais de saúde e servir a planos racionais de produção e distribuição de vacinas e testes, com vistas à nacionalização dessas empresas sob controle operário, junto com os recursos da saúde privada."

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A paralisação dos trabalhadores e trabalhadoras do Hospital Universitário da USP, no final de janeiro, deu um grande exemplo de enfrentamento com a política negacionista de Bolsonaro e a demagogia de setores como Doria, confiando apenas na unidade e na força da própria classe trabalhadora para garantir a vacinação. Tendo recebido um lote pífio de 200 doses para cerca de 2 mil funcionários, ao final do processo de lutas foram mais de 800 doses conseguidas para vacinar o conjunto do pessoal, incluindo as trabalhadoras terceirizadas da higienização, atendimento e segurança.

Uma batalha que rompeu a fragmentação que buscam impor entre diferentes categorias do hospital, como é praxe nos diversos locais de trabalho: a divisão de efetivos e terceirizados, entre os “da casa”, os temporários e os residentes. A unidade e solidariedade demonstrada no HU da USP é exemplo para o conjunto dos trabalhadores do país. Isso porque, como todos os dados indicam, o posicionamento “favorável” que Bolsonaro passa a ter em relação à vacinação é apenas demagogia, diante da impossibilidade técnica de fornecer imunizantes para toda a população na velocidade em que a situação catastrófica em que nos jogaram exige.

A produção da vacina e sua distribuição não podem depender de Bolsonaro, nem dos governadores ou dos interesses dos capitalistas donos de grandes grupos farmacêuticos. Para colocar todos os recursos disponíveis a serviço da resolução da crise sanitária e romper o impasse da gestão capitalista da pandemia, é preciso lutar para impor a quebra das patentes e da nacionalização, sob o controle dos funcionários dos laboratórios privados.

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