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Marielle Franco | Nova entrevista sobre o caso Marielle reforça: O Estado é responsável

Hoje foi ao ar entrevista de Ronnie Lessa, preso pelo assassinato de Marielle Franco. A entrevista mostra, para além das afirmações do miliciano, como a investigação segue sem apontar os mandantes do crime bárbaro e como o Estado é responsável.

sexta-feira 4 de março de 2022 | Edição do dia

Foi publicada hoje, 04/03, uma reportagem na revista Veja que detalha alguns fatos revelados por Ronnie Lessa, policial militar acusado do assassinato de Marielle Franco, acerca de sua ligação com o presidente Jair Bolsonaro. As informações vêm de uma entrevista concedida à Veja por Lessa de dentro da Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Campo Grande (MS), a realização da entrevista foi autorizada por Gilmar Mendes. Na entrevista, Lessa, que era vizinho de Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, zona Oeste do Rio, fala sobre a relação que tinha com o atual presidente, além de citar que, em 2009, teria recebido ajuda de Bolsonaro, então deputado, para pular a fila da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação e conseguir uma prótese após um acidente. Ele nega envolvimento no assassinato de Marielle e busca apontar relação de outro grupo, do qual alega não fazer parte, e que esse grupo, comandado pelo assassinado Nóbrega que seria responsável. No grupo de Nóbrega também há elos de ligação com a família Bolsonaro.

Sobre a revelação de mais essa ligação entre a familia Bolsonaro e um miliciano preso pelo assassinato de Marielle, Carolina Cacau, professora da rede estadual em Nova Iguaçu-RJ e militante do movimento de negras e negros Quilombo Vermelho declarou:

Já passados anos do brutal atentado que ceifou as vidas de Marielle e Anderson, as investigações seguem sem grandes avanços. Desde que o crime ocorreu, foram inúmeras provas “perdidas”, ou destruídas, mudanças de mãos, além de denúncias de interferências de todos os lados e o inquérito - mesmo com a prisão dos executores - segue tão longe quanto no primeiro dia de responder a pergunta entalada na garganta de todos: quem mandou matar Marielle?

A completa ineficiência com a qual são levadas a frente as investigações não é acidental. Revela, na realidade, o caráter reacionário e racista desse Estado podre, que, com seus mil laços com as milícias, o crime organizado, e mesmo com pessoas diretamente implicadas no crime, que integram as fileiras da mesma polícia e possivelmente outras instituições que deveriam investigar o assassinato, buscando sempre não levar de fato à resolução do crime e à justiça. Ditando exclusivamente os rumos da investigação, a polícia não tem feito outra coisa senão garantir que os fatos desse crime bárbaro sejam varridos para baixo do tapete. Não é possível ter qualquer ilusão de que essa instituição racista e criminosa estruturalmente e passados quatro anos dessa condução do caso tenha qualquer interesse de resolver o crime.

O assassinato de Marielle ocorreu durante a autoritária intervenção federal no Rio de Janeiro, instituída pelo governo golpista de Temer e comandada pelo reacionário general Braga Netto, hoje ministro da Defesa de Bolsonaro e cotado como seu possível candidato futuro a vice-presidente. As ligações de diversos integrantes do Escritório do Crime - bando miliciano do Rio de Janeiro - além do próprio Ronnie Lessa com o assassinato, conjuntamente com a leniência na investigação realizada pela mesma polícia da qual os fascínoras fazem parte mostra a profunda ligação do Estado e seus instituições com esse crime bárbaro.

As ligações dos executantes com o Estado, o assassinato político ter acontecido debaixo de uma autoritária Intervenção Federal, e essa condução da investigação tornam ainda mais categórica uma definição que insistimos como Esquerda Diário desde os primeiros dias depois do brutal assassinato: O Estado é responsável.

Não é possível, portanto, acreditar que a justiça para Marielle e Anderson virá de bom grado deste mesmo Estado. Contra a incompetência proposital e criminosa nas investigações, que age para livrar os culpados e garantir a impunidade para o assassinato de Marielle, é preciso retomar uma forte mobilização, com mobilizações de rua e outras iniciativas, que, coloque contra a parede o Estado force outro rumo nas investigações, denunciando e combatendo fortemente cada sinal de uma tentativa de desvio. Ao mesmo tempo, não é possível atingir justiça apenas esperando e confiando ao mesmo Estado responsável pela morte o controle das investigações. É preciso que, no curso da luta, batalhemos pela conformação de uma investigação independente, e que lutemos para impor ao Estado que ele garanta as condições desta investigação, com a disponibilização de recursos, materiais, arquivos, etc para organismos de direitos humanos, peritos especialistas comprometidos com a causa, parlamentares do PSOL, representantes de organismos de direitos humanos, de sindicatos, de movimentos de favelas, e mais, para que estes possam, também, estar a par do que é conhecido e impedir o abafamento do caso.

Somente com essa luta, que não deixa em pune a responsabilidade do Estado, e ao mesmo tempo que batalha para arrancar dele meios para chegar à justiça com nossas próprias forças, é que poderemos finalmente chegar ao fundo desse crime brutal, e conquistar justiça para Marielle e Anderson!




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