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ATAQUE ÀS ESCOLAS | Notas sobre a (des)organização escolar

Guilherme StoneProfessor de Guarulhos

segunda-feira 5 de outubro de 2015 | 22:36

O governo do Estado de São Paulo e a Secretaria da Educação, numa série de ações como determinações e decretos, vem promovendo a reorganização do sistema de ensino. A reorganização escolar é uma ação que modificará toda a estrutura de ensino. As mudanças atingirão a classe docente, os alunos, a comunidade, as práticas pedagógicas e a cultura escolar.

O argumento para tais mudanças, por parte do governo, provém da ideia de que existe uma queda da população escolar no Estado de São Paulo. Seria necessária uma readequação diante da queda de natalidade e da redução de alunos matriculados na rede pública.

De acordo com o SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) este dado sobre a taxa de natalidade está de acordo com o argumento do governo. Porem as transformações no sistema de ensino não corresponde com a real intenção da Secretaria de Educação. O recurso da análise de dados a partir da queda da taxa de natalidade é apenas uma falácia para sustentar o argumento. A intenção é enxugar os investimentos na área da educação.

Outro argumento utilizado pela secretaria diz respeito às realocações de alunos e professores da rede. De acordo com a secretaria, as escolas deverão instituir a divisão por ciclos. Cada escola terá o ciclo de segmento único. Teremos, então, escolas do 1º ao 5º ano, escolas do 6º ao 9º ano e escolas de ensino médio, ou seja, criar espaços adequados para cada ciclo.

Esse movimento tem como primeira conseqüência o fechamento de algumas escolas. Com isso teremos, também, a demissão de professores da categoria “O”, e outros funcionários do setor pedagógico da escola. A reorganização do sistema de ensino está sendo pensada a partir do ponto de vista econômico. O governo segue a cartilha do neoliberalismo, cortando investimentos (para o Estado lê-se gasto) para a educação e demitindo funcionários. A idéia de Adam Smith sobre proporcionar “educação mínima” para a classe trabalhadora é o elemento norteador para tais ações do governo estadual.

A educação é desprezada se levarmos em conta o ponto de vista pedagógico dessas ações. A preocupação é apenas tornar os alunos e professores “coisas” que reproduzem a ordem social. O modo imediatista, pragmático e utilitário de ensino não consegue explicar a realidade. Realidade esta que abarca a sociedade e a natureza, que por sua vez abrange o ser humano e a relação deste com a concepção de mundo. A ideia de liberdade não existe no que diz respeito à transformação da realidade, mesmo que seja o centro da concepção de mundo na contemporaneidade. O capitalismo, e suas formas de violências ao meio ambiente, difundem, por meio do neoliberalismo, a ideia que de não é possível tal transformação. Não há transparência nas visões de mundo no cotidiano, portanto a transformação da realidade não está visível no nível das aparências. Este ceticismo epistemológico se apresenta quando não podemos dizer quem é o Ser Humano e sua complexidade. Deste modo temos uma visão caótica e inexpressiva sobre o ser. O indivíduo é uma imensa incógnita. Se não soubermos quem é o Ser Humano, como criador e resultado da realidade, não saberemos como transformar a realidade.

Outro ponto a ser discutido diz respeito às relações construídas entre aluno, escola e comunidade. É o fim da cultura escolar. Um aluno que deverá se realocar em três momentos da sua vida escolar não criará uma identidade com a escola, pois não terá uma relação com a escola. Portanto, o grêmio escolar perderá sua função. Com a reorganização escolar perderemos a oportunidade de criar uma escola verdadeiramente democrática. Hoje essa ideia não existe, é um fato. Porem com o atual modelo ainda temos a possibilidade de criar a democracia na escola. Com a modificação estrutural das escolas essa possibilidade acaba. A comunidade estará fora definitivamente das decisões da escola. O aluno e o professor serão coisas.

Porem pais, alunos e professores resistem. Diversas manifestações em todo o Estado de São Paulo estão sendo realizadas para chamar a atenção da sociedade sobre a modificação do sistema de ensino. Na cidade de Guarulhos o ato contra a reorganização escolar foi realizado no dia 01 de outubro de 2015 na Diretoria de Ensino Guarulhos-Sul. Neste ato tivemos a presença de 700 pessoas incluindo pais, alunos e professores. Desta vez a aula de cidadania e democracia foi na rua…




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