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DIREITO DE GREVE | Nota de repúdio à ’Nota de Repúdio ao Cadeiraço’ enviada por docentes da Letras-USP

Esta é uma resposta pessoal de uma estudante de Letras em repúdio à ação tomada por docentes dirigentes de departamentos do curso de Letras, que decidiram se posicionar sobre o cadeiraço, instalado por estudantes após deliberação democrática na assembleia de curso do dia 13/04 para que assim fosse feito

sábado 17 de outubro de 2015 | 18:11

Foi uma triste surpresa receber esse e-mail hoje e saber que além de mim, todos os meus mais de 4 mil colegas também o receberam. O cadeiraço, que instalamos na noite de 4ª feira e desinstalamos na noite de 5ª feira tinha como propósito a defesa daqueles estudantes que, apesar de referendados por uma assembleia democrática e livre, são submetidos a estarem presentes em suas salas de aula devido a uma lamentável minoria de professores que segue se negando a aceitar as deliberações democráticas dos estudantes. Nesta carta, elenco alguns motivos para que, assim como eu, todos os estudantes de nosso curso se rebelem por receber um e-mail como esse:

1) Foi a primeira vez durante todo o ano que o conselho interdepartamental do curso de Letras deliberou uma nota de caráter político, e ao fazê-la, dirigiu-se contra a ação dos estudantes. Estes professores não estão alheios ao mundo, e sabem que vivemos um grave desmonte da universidade que se soma, nos recentes dias, a uma grave medida de reestruturação do ensino de base, que juntos, constroem um cenário de precarização do ensino a nível estadual e federal que mostra quem está pagando pela crise que se acirra no Brasil: a educação pública, a saúde pública, a previdência e o emprego. Durante todo o ano, esses professores não se manifestaram sequer uma vez, e a primeira vez que o fazem, é para atacar os estudantes em luta, e em sua carta, nada dizem sobre qual posicionamento tem em relação aos duros ataques que nós, estudantes, professores e trabalhadores da USP e de toda a educação pública estamos sofrendo. Ao escreverem essa carta de maneira isolada e como único posicionamento político público, fica clara uma posição reacionária por parte desses professores, que enquanto se calam para as manobras corruptas e de desmonte de Zago, atacam os estudantes, a esquerda e seus métodos;

2) É recorrente que os professores que assinam essa nota, assim como outros que fazem campanhas malignas nas salas de aula, tenham como prática a tentativa de deslegitimar o movimento estudantil, obrigando estudantes a assistirem suas disciplinas mesmo durante greves e paralisações – o que caracteriza assédio moral – e difamando aqueles que se posicionam politicamente em salas de aula. Tal postura, apesar de antipedagógica e antidemocrática, além de ilegal, condiz com a postura política permanente de alguns professores que assinam esse nota, como o Prof. Jorge de Almeida que sempre vota contra as greves nas assembleias de professores e foi inclusive contra a greve de trabalhadoras terceirizadas da USP - que lutava pelo pagamento de salários atrasados – ocorrida em 2011. Que fique claro: caso não houvessem professores fura-greve, anti-mobilização, praticantes de assédio moral e de medidas repressivas e ditatoriais contra os estudantes, o cadeiraço seria absolutamente desnecessário e certamente ausente;

3) Tais professores chamam esses métodos de violentos. Esquecem de dizer que cerca de ¼ do quadro de professores existentes hoje em toda a FFLCH advém de conquistas geradas por fortes lutas estudantis, como a greve de 2002, que garantiu a volta do gatilho automático de professores, e a greve de 2007, que lutou contra os Decretos Serra. Esquecem também de dizer que é com a sequência de greves, atos, paralisações e organização de base que os trabalhadores da USP – categoria da qual imagino não se reconheçam – que sua estabilidade de emprego, benefícios trabalhistas e direito a sindicalização foram mantidos. Se não nos mobilizamos agora contra as novas medidas de precarização e privatização da Universidade, são esses mesmos docentes que correm o risco de terem seus regimes de trabalho flexibilizado, tornarem-se horistas, etc;

4) Contra todos os debates mais libertários de educação, tais professores consideram-se no direito de dizer aos estudantes o que fazer, como fazer e quando fazer. A Universidade existe para nossa formação, nossos estudos, nossas carreiras. Quem pensam que são para nos dizer o que nossa assembleia deveria ou não ter votado? Se vamos influir nas decisões de uma ou outra categoria, cabe dizer: porque não foram a sua assembleia de docentes no dia 12 e definiram como nos ajudariam a criar dito diálogo, ditas medidas de unidade?! O que vocês professores propõe para que derrotemos o desmonte e conquistemos uma universidade mais profundamente pública, gratuita e de qualidade? Prof. Dr. Álvaro Faleiros – Chefe do DLM, Prof.ª Dr.ª Cristina Altman – Chefe do DL, Prof. Dr. Jorge de Almeida – Chefe do DTLLC, Prof. Dr. Paulo Martins – Chefe em exercício do DLCV, Prof.ª Safa Jubran – Chefe do DLO, O QUE VOCÊS PROPÕEM PARA LIDARMOS COM NOSSAS CRIANÇAS FORA DAS CRECHES, NOSSO BANDEJÃO FECHADO, NOSSAS SALAS LOTADAS, NOSSAS PÓS-GRADUAÇÕES FECHANDO, NOSSOS AMIGOS TRABALHADORES DO BANDEJÃO DOENTES, NOSSA UNIVERSIDADE SEM FUTURO?! PAREM DE NOS DIZER O QUE FAZER E DIGAM-NOS, POR FAVOR: O QUE VOCÊS PRETENDEM FAZER?

5) A critério de informe, agrego: o cadeiraço não depredou nenhum patrimônio – a não ser o conservadorismo -, não agrediu nenhum estudante, não desapareceu com nenhum ítem do prédio.

Ao ler a carta, penso também que algumas atitudes deveriam ser tomadas:

1) Se querem diálogo e conversa com o CAELL, que CAELL convide, formalmente, esses e todos os docentes para um debate público sobre o Desmonte da Universidade. Assim como em todos os outros debates, o canal sempre esteve aberto por parte dos estudantes, e pelo que sei, também de muitos professores;

2) Que esses professores se recordem que dia 15 foi dia do professor, e que apesar de que sejam estes beneficiados por uma jornada de trabalho agradável e um salário razoável, a imensa maioria dos outros professores do país e principalmente do Estado de São Paulo não sabem se ainda poderão ser professores a partir das reformas que propõe Alckmin. Graças a Dilma, também não sabem como serão suas aposentadorias, se seus filhos conseguirão pagar ou entrar nas universidades. Torço para que esses professores acordem na virada de hoje para amanhã na fila de atribuição de aulas na diretoria de ensino próxima à sua residência, com uma inscrição Categoria O.




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