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EFEITOS DA PANDEMIA | No México, Covid-19 aumenta casos de ansiedade: o problema não somos nós, é o sistema

Os números de casos de ansiedade disparam com a pandemia. O problema somos nós ou esse sistema de miséria que permite que 50 mil pessoas morram por uma gripe?

sábado 11 de abril de 2020 | Edição do dia

Um ano atrás, havia 264 milhões de pessoas em todo o mundo com ansiedade, a grande maioria das pessoas com esse transtorno sofre em silêncio e às vezes até sabe que o tem, podemos imaginar que o número real é muito maior.

A ansiedade é desencadeada por altos níveis de adrenalina no corpo, alguns especialistas também a atribuem à falta de serotonina e dopamina no corpo, razão pela qual geralmente é acompanhada de depressão. Alguém pode sentir-se ansioso de vez em quando, mas quando esse sentimento se converte em um impedimento para a realização de suas atividades cotidianas, é porque se sofre de ansiedade.

Nos últimos anos, as estatísticas sobre essa enfermidade explodiram de maneiras que só foram vistas após as duas guerras mundiais ou após a crise econômica da década de 1970.

Os especialistas costumam atribuir esse mal-estar ao uso das redes sociais, mas, embora isso possa ser um fator, a realidade é que a incerteza gerada por um mundo em crise profunda parece ser uma causa mais científica.

Com a pandemia em nível internacional que já tirou mais de 59 mil vidas (de 1,1 milhões casos confirmados), a confusão sobre o futuro imediato de milhões de famílias é a regra e os governos fornecem apenas soluções individuais para “não adoecer”, indicando que o ideal é o isolamento e evitar o contato com as pessoas.

O isolamento e o “salve-se quem puder”

Mas para aqueles de nós que sofrem de ansiedade, confinamento e a percepção de que essa catástrofe deve ser enfrentada sozinha, é um potente detonador daqueles sentimentos que já temos em tempos normais e que são fortalecidos pela ideia de que estamos sozinhos contra o mundo.

Um constante medo irracional de morrer ou de alguém importante perder a vida, de não ter dinheiro suficiente, de que as pessoas te abandonem, de preconceito social, tudo isso aumenta com a pandemia do Covid-19 e é aprofundado pelo discurso de “salve-se quem poder”.

De acordo com uma pesquisa realizada nos EUA, um terço da população experimentou um aumento no sentimento de ansiedade, metade teme estar doente, 60% temem que um membro da família fique doente ou morra de Covid-19 e 57% se preocupa que sua renda seja reduzida assim como seu acesso a alimentos ou medicamentos.

Crescemos na Crise

Isso não deve ser uma surpresa, a ansiedade é o reflexo natural do corpo de um perigo potencial. Hoje esse “perigo potencial” chegou. A ansiedade é em resumo medo e estresse, e esta é a realidade da grande maioria das pessoas. Para se ter uma ideia, os 26 milionários mais ricos do mundo têm a mesma riqueza que os 3,6 bilhões de pessoas mais pobres.

Entre 2013 e 2018, a ansiedade aumentou 75% no país e nos cinco anos anteriores, aumentou 20% em crianças e adolescentes. Até então, estimava-se que 1 em cada 3 adolescentes entre 13 e 18 anos sofria de algum transtorno de ansiedade.

Aqueles de nós que crescemos com a crise decorrente da queda do Lehman Brothers em 2008, vivemos a adolescência e até nossa infância sabendo que esse sistema não tem nada a oferecer.

O discurso de que o sucesso e a dedicação se pode ser bem-sucedidos está mais senil do que nunca e desmorona com a crise que hoje nos abate. Não é verdade que, se eu fizer um esforço, terei um futuro melhor, o futuro está sendo tirado de nós aqui e agora.

Quantos idosos que fizeram tudo “o que tinham que fazer” e que durante décadas trabalharam mais do que seus corpos lhes permitia, não morreram na Itália, no Estado espanhol, na China e no Equador porque seus governos destruíram a saúde pública durante anos?

A psiquiatria tradicional estigmatiza aqueles que sofrem de ansiedade, depressão e outros distúrbios psicológicos - melhor chamados de “neurodivergentes” -, individualizando o problema e dando a medicação como a única saída. Embora isso possa ajudar em alguns casos, quando há receita e uso responsável, em geral eles acabam entorpecendo as pessoas e, pior ainda, reforçando a ideia de que o problema é o indivíduo e não a sociedade.

Nos tiraram tanto que tiraram nosso medo

A terrível pandemia que assola o mundo inteiro, especialmente as mulheres, jovens e trabalhadores que durante anos nos roubam o direito de não morrer de uma gripe, comprova mais uma vez que os políticos da burguesia e os empresários que lucram com nossa saúde física e mental, não têm nada a nos oferecer.

Na Agrupación Juvenil Anticapitalista1, acreditamos que devemos nos organizar para um futuro e um mundo diferentes. Está em nossas mãos fortalecer a luta dos profissionais de saúde para enfrentar esta crise de sanitária, porque com o discurso "salve-se quem puder", ninguém será salvo. Com a força da juventude com os trabalhadores, podemos lutar pelo direito à saúde, não apenas para sobreviver ao Covid-19, mas para que todos tenhamos acesso à saúde mental com uma perspectiva social e não individualizante.

Temos a capacidade de fortalecer a luta daqueles que hoje lutam contra as demissões e o “desemprego tecnológico” das patronais que temem perder seus lucros milionários, mas não se importam em deixar milhões de famílias nas ruas e na incerteza. Se o fizermos, estaremos em melhores condições para lutar para não deixar o resto das nossas vidas com salários de pobreza, empregos que duram 6 meses ou um ano em que não temos nem o direito de sair para comer. Vamos lutar por uma vida que valha a pena ser vivida.

[1] A Agrupación Juvenil Anticapitalista é uma agrupação de jovens estudantes e trabalhadores impulsionada pelo MTS (Movimiento de los Trabajadores Socialistas), organização irmã do MRT no México.




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