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Demissão em massa | "Nem precisa de doença, a fábrica e o convênio já estão nos matando", relata demitido da Embraer

Trabalhador demitido da Embraer relata que a empresa demitiu-o em janeiro durante tratamento médico para trombose causada pela Covid-19. Além disso, sua esposa está passando por um tratamento, com necessidade de cirurgia urgente, correndo risco de morte. O convênio Sulamérica, que será pago pela empresa apenas até o fim do mês, tem criado uma série de barreiras e postergado a cirurgia.

segunda-feira 7 de junho de 2021 | Edição do dia

Trabalhador demitido da Embraer relata que a empresa o desligou mesmo estando com trombose causada pela Covid-19 e outras doenças ocupacionais como hérnia de disco, com a esposa (que conta com o plano de saúde da empresa) tratando enfermidades decorrentes de um câncer, tendo ela necessidade de cirurgia urgente, correndo risco de morte. O convênio Sulamérica, que deveria estar funcionando para o trabalhador e sua família até julho (segundo o que havia sido acordado com a empresa), tem criado uma série de barreiras e postergado a cirurgia. O sindicato pressionou e conseguiu a liberação da cirurgia junto ao plano, porém a Sulamérica não está liberando parte do material necessário para o procedimento:

“Ela tá com 80% de obstrução na artéria. Então é assim, o caso é bem delicado e a SulAmérica mandou para ela por email que a resposta final é essa: que só libera parcialmente a cirurgia. E como é que você vai fazer uma cirurgia pela metade? Ela tem que colocar um stent onde está a coagulação na artéria que ela teve por causa do câncer. (...) a gente já tá preocupado, desempregado, não arruma emprego em lugar nenhum por causa da covid, eu estou com problema de trombose também por causa da covid, agora minha mulher também tem trombose por causa do câncer, agora a gente já está com todo esse problema na nossa vida pessoal e ainda mais a Sulamérica mete uma burocracia dessa…”

E não apenas o convênio, mas a própria empresa não tem ajudado em nada nessa situação. A começar pelo fato de que, mesmo conhecendo todo esse histórico de dificuldades deste trabalhador, a Embraer o demitiu em meio à pandemia, como ele relata:

“(...) nem precisa mais de doença para matar as pessoas, a fábrica e convênio já estão matando. Quando precisavam de mim, com 17 anos de Embraer, eu estava sempre lá, toda vez que pediram para eu colaborar, quantas vezes que eu trabalhei de domingo a domingo, deixei minha família em casa, se tivesse reconhecimento não teriam me demitido - e depois dessa, mesmo eu com problema de saúde pós-covid com trombose, eles simplesmente me desligaram. Só que isso daí é o que é Embraer tá fazendo, ela foi bem clara, ela está trocando seus funcionários a troco de nada. Então é assim ó: tira os antigos, aí depois passa essa maré aí, e a gente pega cara novo. A sensação que tá dando é essa aí, infelizmente, isso é triste.”

A Embraer realizou ao final do ano passado uma demissão em massa de 2500 funcionários. Muitos destes possuem doenças ocupacionais e não poderiam ter sido demitidos. Os funcionários relatam que foram desligados mesmo apresentando todos os laudos de saúde solicitados. Nesses casos, a Embraer está desrespeitando a Convenção Coletiva da categoria ao demitir os lesionados, que teriam estabilidade garantida.

O sindicato conseguiu uma liminar que garante aos demitidos a extensão do vale-alimentação e do plano de saúde até junho de 2021. Como o prazo se encerra no final do mês, é urgente que a Embraer prorrogue o prazo, para que os trabalhadores e suas famílias não fiquem sem assistência.

O Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, que deveria reverter a demissão dos mais de 2500 trabalhadores, suspendeu o julgamento do dissídio coletivo da Embraer após pedido de vista regimental feito pelo desembargador Lorival Ferreira dos Santos. Não se sabe quando o julgamento será retomado. A lentidão do TRT 15 em se posicionar pela readmissão dos trabalhadores está levando a situações dramáticas:

“A gente fica de mão amarrada então esperando eles resolverem o dia que eles querem ver esses julgamentos, que eles postergam sempre para frente... E a gente por estar desempregado, a gente não tem nem como manter nossa família, agora imagina só pagar um convênio particular com a SulAmérica então? (...) Um detalhe aí, não é só eu como os demais que foram demitidos, são pessoas que são demitidas todo dia, por que a Embraer todo dia demite pessoas, ela não está demitindo aquele mutirão em massas para não alarmar na mídia, mas todo dia ela manda 5, 10, 30, 40, todos os dias… Ela manda assim ó, desse jeito picadão.”

A empresa usa como desculpa para as demissões a crise sanitária e o fim do contrato com a empresa estadunidense Boeing. Essa desculpa, no entanto, é desmascarada quando vemos que a empresa paga salários superiores a R$ 1 milhão para, pelo menos, 3 pessoas, e outros 46 salários superiores a R$ 100 mil e mais 127 superiores a R$ 50 mil. Segundo o Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos, os salários de 170 funcionários do alto escalão da Embraer pagariam os salários de 2.553 trabalhadores.

“(...) cada dia que passa a gente da classe trabalhadora, a gente só tem a perder, e a gente está vendo aí, ainda mais com esse governo aí, sei lá o que o cara tem na cabeça, cara, parece que sente prazer em ver as pessoas morrendo…”

A batalha contra essas demissões tem implicação nacional, afinal se isso passa na Embraer, abre precedente para que siga ocorrendo em todo o Brasil. Essas milhares de demissões e a situação de catástrofe social que vemos se espalhar pelo país são responsabilidade também do governo Bolsonaro e Mourão, que além de considerarem a Covid uma “gripezinha” e negarem vacinas para a população, deixaram as empresas demitirem sem nenhum impedimento.

Os governadores dos estados e o judiciário, mesmo aqueles que se dizem suposta “oposição” ao governo, como Dória e setores do STF, seguem a mesma toada e nada fazem para impedir essa situação, pelo contrário. É por isso que a única saída contra isso é que os trabalhadores confiem em suas próprias forças. Consideramos muito importante a participação da Conlutas nos atos de rua do dia 29 de maio (29M), como o que ocorreu em São José dos Campos. Mas é preciso ir além. É preciso aproveitar a enorme força que se viu nas ruas nesse dia, mostrando que as mobilizações contra esse governo podem ser muito maiores, podem chegar no coração da produção.

Os sindicatos precisam chamar uma paralisação nacional para potencializar as ações de rua. Grandes centrais sindicais, como a CUT(dirigida pelo PT), não podem mais seguir nessa passividade, deixando “passar a boiada” a espera das eleições de 2022 (para eleger um Lula que já disse “perdoar os golpistas” e aceitar privatizações), enquanto a classe trabalhadora está morrendo hoje. É para ontem que organizem assembleias de base em cada local de trabalho, para organizar essa batalha. Chamamos as centrais sindicais da esquerda (a Conlutas e a Intersindical) a darem exemplo desde os sindicatos que dirigem e fazerem parte dessa exigência às grandes centrais. É apenas com essa força que será possível impor que não sejam os trabalhadores, mas sim os capitalistas que paguem pela crise que criaram.

No caso da Embraer, é urgente que a empresa prorrogue o plano de saúde e o vale-alimentação dos demitidos, que se encerram no final deste mês. O Esquerda Diário se solidariza com o drama dos trabalhadores e suas famílias e se soma na luta pela readmissão imediata de todos os demitidos da empresa.

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