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Distanciamento social, popularizado sob o slogan “cancelem tudo” – é essencial para diminuir a propagação do coronavírus. Mas para solucionar esse problema, nós precisamos passar o sistema privado de saúde para o controle público imediatamente. Nós precisamos nacionalizar tudo.

quinta-feira 19 de março de 2020 | Edição do dia

Tradução feita do artigo Nationalize All Healthcare Now!, publicado no Left Voice.

Enquanto eu escrevo essas palavras, eu tenho ficado em casa por mais de uma semana. O coronavírus está começando a supersaturar os sistemas de saúde em cada vez mais países – nesse momento existem mais de 200.000 casos confirmados e mais de 8.000 mortes mundo a fora. O tipo de afastamento social que venho praticando é essencial para diminuir a expansão do vírus.

Em um artigo popular do The Atlantic de oito dias atrás, Yascha Mounk fez o argumento “Cancelar Tudo” escrevendo que “apenas uma medida está sendo eficiente contra o coronavirus: isolamento social extremo.” Governos por todo o mundo tem seguido essa orientação: Grandes agrupações públicas tem sido proibidas, enquanto bares, restaurantes, escolas, universidades e museus são fechados.

Distanciamento Social, entretanto, apenas irá “achatar a curva.” Em outras palavras, apenas irá diminuir a velocidade com a qual pessoas são infectadas. Existe valor nisso, pois dará aos hospitais, com suas capacidades limitadas, mais tempo para tratar casos mais sérios. Mas o distanciamento social não irá mudar o número de pessoas que inevitavelmente serão infectadas.

Independente de como a pandemia se desenvolve, a capacidade dos hospitais precisa ser massivamente aumentada; por exemplo, não existem leitos suficientes em UTIs para cobrir a demanda futura. Hospitais no mundo todo estão permanentemente com falta de pessoal por conta de décadas de reformas neoliberais. Ao mesmo tempo, existe uma excasses de máscaras cirúrgicas, desinfetantes, roupas de proteção, ventiladores e outros equipamentos necessários para tratar o COVID- 19. Este não é apenas um problema de especuladores comprando o estoque já existente – há uma falta de tudo.

Medidas Radicais

Diferentes governos europeus estão tomando medidas radicais que vão além de apelos ou proibições para que pessoas fiquem em suas casas. O governo de Pedro Sánchez no Estado Espanhol, por exemplo, declarou que quais quer negócios capazes de produzir suprimentos a fim de combater o coronavírus devem reportar para o governo provincial.

Não existem muitas fábricas no mundo que produzam máscaras cirúrgicas ou ventiladores. Mas incontáveis fábricas poderiam ser reaproveitadas para essas funções imediatamente. Para isso acontecer, entretanto, o aparato industrial necessita ser centralizado pelo Estado para combater o coronavirus. Fábricas de carros, que no momento estão em sua maioria paradas, poderiam ser usadas para fábricas ventiladores para o bem público – pagos pelos próprios fabricantes.

Isso já aconteceu na história do EUA. Durante a segunda guerra mundial toda a economia ficou sobre controle do War Production Board (WPB), o diretório de produção de guerra. Todas as fábricas foram reaproveitadas para a produção de armas e munições. Em 22 de Fevereiro de 1942, por exemplo, toda a produção automotora do país foi parada, com essas fábricas alterando sua produção a fim de ajudar o país a passar a produzir mais de 50.000 aviões ao final de guerra, em comparação aos 100 produzidos no inicio da mesma. Por que não deveríamos então mobilizar essas fábricas da mesma maneira para combater um vírus mortal?

Não é suficiente que a população fique em suas casas. Achatar a curva não é uma panacéia, como Joshua Gans argumentou em um importante artigo; nós precisamos estar em “pé de guerra”. Existe um tremendo trabalho a ser feito: contruir centros de tratamento emergenciais, distribuir comida, medir temperaturas, rastrear a infecção, desinfectar centros médicos, apenas para nomear alguns pontos. Centenas de milhares e milhões de pessoas poderiam ser mobilizadas, providenciadas com treinamento adequado e equipamento de proteção, a fim de combater a epidemia.

Em vez de perguntar se esse tipo de mobilização emergencial é possível, nós
deveríamos perguntar justamente o oposto: É possível combater o vírus sem equipamentos essenciais apenas porque precisamos respeitar os direitos de propriedade de uma meia dúzia de empresários?

Nacionalizar a “Big Pharma”

A necessidade é ainda mais urgente quando se trata de vacinas. Governos no mundo todo estão financiando pesquisas para a criação de uma vacina contra o coronavirus. Mas como todas as vacinas, a produção e a distribuição dessas seriam colocadas nas mãos das grandes farmacêuticas e, como Gerald Posner escreveu no The New York Times, companhias farmacêuticas privadas representam um “obstáculo ao desenvolvimento da vacina". Isso por que elas iriam insistir em altos lucros.

Precisamos tirar o lucro da equação. Dinheiro público subsidiou o desenvolvimento de medicamentos que podem prevenir a propagação do HIV (PrEP, conhecido com o nome comercial de Truvada). Hoje, a patente desse remédio pertence a uma empresa privada, Gilead Sciences, que cobra milhares de dólares por mês por uma pílula que custa apenas alguns centavos para produzir. Em outras palavras, nós poderíamos estar parando a epidemia de AIDS, mas a propriedade privada impede isso. Nós não podemos permitir que uma vacina para o coronavírus vire outro exemplo absurdo de lucro na frente das necessidades humanas.

Nós já estamos presenciando governos capitalistas competindo para ter o monopólio de uma possível vacina. É fácil imaginar um cenário catastrófico em que a vacina fique disponível, mas custe milhares de dólares para cada pessoa que precisar.

A solução não é, como a Times propôs, desenvolver uma “parceria público-privada” para vacinas mais acessíveis. A solução é colocar todas as grandes farmacêuticas sobre controles democrático dos seus trabalhadores, cientistas, e representantes de organizações de trabalhadores. É assim que teremos certeza que as vacinas e os medicamentos serão produzidos para o bem comum.

Em outras palavras, já está na hora de um programa em larga escala de nacionalização. Em contraste com o que aconteceu nos EUA durante a segunda guerra mundial, isso não é sobre instalar um diretório de produção formado por executivos de corporações, nem tomar o controle dessas companhias por um tempo limitados para depois retorna-las aos seus patrões quando a crise passar.
Em vez disso, necessitamos de um controle democrático pelos trabalhadores da saúde, das fábricas, trabalhadores de limpeza, e todos aqueles que tem um papel na luta contra a crise. Eles, no final das contas, são as pessoas que melhor entendem de seus trabalhos. Os empresários capitalistas das companhias de carros não tem qualquer interesse em produzir ventiladores gratuitamente. Mas os trabalhadores dessas indústrias tem todo o interesse em democraticamente controlar a produção para salvar vidas.




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