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GOLPISMO | Mourão: quando a farsa da oposição de "centro" se encontra com Bolsonaro

Essa semana, em que se escancarou mais as fissuras no governo federal e nas próprias alas do exército, que tentam parcialmente se desvencilhar da tragédia bolsonarista, e que o centrão ganhou mais força interna ao governo, também foi atravessada pela data do aniversário dos 57 anos do golpe militar, dia em que Braga Netto estreou como ministro da defesa celebrando a ditadura. Portanto, as disputas no regime também se expressaram diante dessa data.

quinta-feira 1º de abril de 2021 | Edição do dia

Foto: Adnilton Farias

Depois de Braga Netto ter estreado como ministro da defesa com uma nota que celebra o horror da ditadura militar, chamando o golpe de 1964 de “O movimento de 1964” que “é parte da trajetória histórica do Brasil”, foi a vez de outro verme da ditadura também celebrar esse dia.

“Neste dia, há 57 anos, a população brasileira, com apoio das Forças Armadas, impediu que o Movimento Comunista Internacional fincasse suas tenazes no Brasil. Força e Honra!”

Qualquer pessoa minimamente crítica à realidade, diria que essa frase é de algum mentecapto, rato de esgoto, defensor da ditadura militar. Os que se dizem paladinos da democracia, que fazem cartas aqui e acolá, deveriam também se atormentar com um discurso desse que defende o regime militar terminando com “Força e Honra”. Mas o Brasil é muito mais complexo e um simples jogo de xadrez não dá conta do jogo político nesse país.

Essa frase, no mínimo repulsiva, é de nada menos do que twittada pelo vice-presidente de Bolsonaro, o General Hamilton Mourão, um general que apesar de também defensor da ditadura militar como Bolsonaro, não é visto com problemas por aqueles que se dizem defensores da democracia.

Doria, Amoedo, Eduardo Leite, Ciro Gomes, Mandetta e Luciano Huck foram os que lançaram contra Bolsonaro o “Manifesto pela consciência democrática”, dizendo que a democracia “é nosso legado, nosso chão, nosso farol. Cabe a cada um de nós defendê-la e lutar por seus princípios e valores”. Segundo a jornalista Vera Magalhães, Moro também foi procurado mas não quis assinar.

Esse setor de centro-direita busca uma alternativa política que possa ser capaz de tirar Bolsonaro e relocalizar o centro na condução da política nacional frente a Bolsonaro e agora à reabilitação de Lula. Esse era o plano da lava-jato, da globo, do judiciário e de todos aqueles que apoiaram o golpe institucional (que nada tem de democrático), para que esse centro, com a máscara da democracia, que, diga-se de passagem, é a democracia dos ricos, pudesse ser o agente dos ataques e reformas.

Como não conseguiram emplacar Alckmin acabaram por apoiar Bolsonaro, o Bolsodoria não nos deixa mentir. Mas agora o dilema é: quem pode ser essa figura do centro para derrotar Bolsonaro? Apostam suas fichas em Doria como defensor das vacinas, porque sabem que a condução da tragédia sanitária que a cada dia se aprofunda no país, vai ser fundamental para estabelecer as posições para as eleições de 2022, para isso precisam desgastar Bolsonaro e seguem usando a retórica do impeachment, que coloca Mourão no governo, como uma possível saída.

“O Manifesto pela consciência democrática” mostra na verdade o desespero de setores como a Globo que antes apoiava Moro, e depois dos escândalos lavajatistas tenta cavar espaço para emplacar uma “terceira-via” com figuras como Mandetta, ex-ministro de Bolsonaro, governadores como Doria e Leite que são também responsáveis pela tragédia sanitária, por Huck, que não sabemos se vai se candidatar ou apresentar o Domingão do Faustão, e por Ciro, que tinha todo um discurso de centro esquerda neodesenvolvimentista e agora se cola no PSDB mostrando sua verdadeira face.

Merval Pereira, um dos principais colunista político do Globo, disse essa semana em sua coluna que Bolsonaro cava sua cova, que está cada vez mais isolado e embelezou o exército na condução da pandemia:

“Mourão tem tido comportamento correto diante das grandes crises, demonstra bom senso na maior parte das vezes, coloca-se como alternativa natural ao gênio explosivo de Bolsonaro, sem precisar fazer declarações críticas, apenas usar o bom senso.”

Parece que Merval não quis se lembrar que o exército está completamente metido no governo Bolsonaro e também é responsável, junto aos governadores, pelas milhares de mortes por Covid, além disso, ainda termina sua coluna dizendo: “Ciro Gomes tem razão. Bolsonaro está mais perto do impeachment do que de uma quartelada.” Faz referência a fala de Ciro Gomes essa semana, que de esquerda já mostrou que não tem nada, e que defende o impeachment como uma saída, Merval ainda termina com:

“O fato de ter Mourão como vice traz tranquilidade diante do futuro, caso Bolsonaro seja impedido pelo Congresso.”

Tranquilidade para quem? O “centro” golpista desse país mostra toda sua hipocrisia burguesa em defender a democracia, ao mesmo tempo em que, ainda que esteja mais na retórica política do que no horizonte concreto, defendem o impeachment e assim um militar racista e defensor da ditadura no poder. Nada mais contraditório. Não para eles, que como a rede globo, também foi uma das defensoras do golpe de 64, e agora se diz uma das defensoras da democracia (sic).

Mais assustador ainda é ver que o programa do impeachment, que quer o rato da ditadura no poder, é defendido com unhas e dentes pelo PT, e até por partidos da esquerda, como PSOL, PSTU e PCB. Isso tudo para buscar atalhos contra Bolsonaro.

Mas o certo é, não existem atalhos contra a extrema direita, toda a crise que atravessa o governo Bolsonaro hoje mostra que precisamos exigir que as centrais sindicais saiam do sono profundo que se encontram e organizem nossa classe para escancarar as debilidades desse governo e desse regime, lutando por Fora Bolsonaro, Mourão e os militares, e contra o STF e Congresso golpistas, impor com a luta dos trabalhadores uma verdadeira Assembleia Constituinte, livre e soberana, para que possamos mudar todas as regras do jogo político, revogar as reformas e levantar um programa de fundo para a crise sanitária do país.

A defesa do impeachment, que significa a defesa de Mourão no governo, não pode trazer nada de democrático para o país. Mourão é um rato de esgoto herança da ditadura militar, defensor do torturador Ustra, assim como Bolsonaro. Para varrer de vez as heranças da ditadura, precisamos varrer também Bolsonaro, os militares e os golpistas. E somente a luta dos trabalhadores, com as mulheres, negros e lgbts, levantando hoje uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, é capaz disso.




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