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MÉXICO | México: o dólar em alta, os professores também, e “El Chapo” fugitivo

O governo de Enrique Peña Nieto (EPN) está assediado pela inverossímil fuga de “El Chapo”, a desconfiança em seus principais operadores políticos, a estrepitosa alta do dólar e o ressurgimento da luta dos professores em Oaxaca com reflexos em todas as regiões do país.

quarta-feira 29 de julho de 2015 | 00:05

TRADUZIDO POR VAL LISBOA

O presidente está só

Se com a crise iniciada pelo caso Ayotzinapa e as flagrantes violações aos direitos humanos em Tlatlaya, Apatzingán e Ostula – para mencionar alguns – o governo de EPN vinha muito estremecido, a fuga de “El Chapo” aumentou o repúdio popular, a incredulidade e o descrédito entre seus aliados incondicionais e o governo dos Estados Unidos.

Como define Jorge Carrasco da revista Proceso, “o presidente Enrique Peña Nieto está só. Depois da fuga de Joaquín “El Chapo” Guzmán se reduziu ainda mais seu círculo de confiança. Fora Aurelio Nuño, chefe de governo da Presidência, e Francisco Guzmán, seu coordenador de assessores, o presidente não tem em quem confiar”.

As duas principais figuras da segurança nacional estão bastante deslegitimadas.

De um lado, o secretário de Governo Miguel Ángel Osorio Chong, detentor de uma série de “poderes especiais” em matéria de segurança, é o responsável direto da insólita fuga. De outro, Salvador Cienfuegos, secretário de Defesa Nacional, teve que sair distanciando-se das agressões militares contra civis país afora. Inclusive setores que estão com o governo veem como escandaloso um comboio militar ter baleado e assassinado uma criança na comunidade de Ostula, Michoacán.

Jornalistas próximos ao executivo, como Ricardo Alemán, do El Universal, são obrigados a alertar sobre a solidão do Presidente: “Mas o ‘fenômeno avestruz’ foi mais nítido depois do grande golpe a todo o governo federal – e não apenas ao presidente – que significou a fuga de Joaquín ‘El Chapo’ Guzmán. A bronca social com o presidente foi equivalente ao rechaço que em 1994-1995 provocou o ‘erro de dezembro’ [crise econômica de dezembro de 1994, também conhecida como “efeito tequila”] e que depois custou ao PRI [Partido Revolucionário Institucional] e ao governo de Zedillo a perda do poder presidencial”.

O dólar pelas nuvens, a pobreza também

Neste contexto, duas questões incrementam a crise governamental. A alta do dólar, de um lado, que esta semana foi cotado para venda em 16,55 pesos mexicanos e que já gerou descontentamento nas entidades empresariais do país, e a notícia de que, segundo o Consejo Nacional de Evaluación de Desarrollo Social (Coneval), dois milhões de pessoas caíram para a linha de pobreza durante o atual mandato.

As duras palavras da titular da Secretaría de Desarrollo Social, Rosario Robles Berlanga, contradizendo o Coneval – que já enfrentara um escândalo pela corrupção da chamada “jornada nacional contra a fome” –, aumentaram o mal-estar do establishment que vê com preocupação a perda da imagem de “estabilidade para os negócios” que Peña pretendia passar.

Além disso… os professores

Do ponto de vista dos despossuídos, o elemento mais conflituoso para o PRI no poder é a mobilização dos professores confrontando a extinção e a militarização do Instituto de Educación Pública del Estado de Oaxaca (IEEPO). Ainda que o governo apostasse que o envio de forte operativo do exército mexicano e da polícia nacional à região desestimularia a mobilização dos professores, a megamarcha de 27 de julho na cidade de Oaxaca, aglutinando 60 mil pessoas, deixou claro que o combativo professorado mexicano não está derrotado e que conta, ainda, com grande respaldo entre a população.

Será possível que os valentes professores oaxaquenses, protagonistas da comuna de Oaxaca em 2006, conseguirão liderar o descontentamento contra o governo e aprofundar a crise? Veremos... Por ora há que estar lado a lado com os professores.




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