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"Messi do debate": Myriam Bregman do PTS vira fenômeno nas redes ao enfrentar cara a cara a extrema direita de Milei

Matias Aires

"Messi do debate": Myriam Bregman do PTS vira fenômeno nas redes ao enfrentar cara a cara a extrema direita de Milei

Matias Aires

O primeiro debate presidencial argentino mostrou uma clara diferença entre o que faz a esquerda latino-americana, adaptada aos reformismos nacionalistas, e a esquerda na Argentina, que defende a independência de classe no enfrentamento à extrema direita. Myriam Bregman viralizou em todo o país (com 12 milhões de reproduções em seus vídeos divulgados por toda a grande imprensa), e internacionalmente, ao enfrentar cara a cara Javier Milei, rosto da extrema direita ideologicamente trumpista na Argentina, com uma política socialista revolucionária, claramente diferenciada e oposta ao peronismo-kirchnerismo, defensores da candidatura do atual ministro ajustador, Sérgio Massa. A candidata da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade apareceu com uma clara denúncia contra as políticas de ajuste fiscal, a subordinação ao Fundo Monetário e as tentativas de regular os protestos social e o direito de greve. Os comentários de analistas e jornalistas nas redes sociais e na mídia deram conta desse desempenho excepcional. Várias das declarações que fez durante o debate viraram tendência na rede social X (Twitter). Em primeiro lugar nos trending topics do último domingo, em todo o país, foi a expressão "gatinho mimoso do poder econômico", ataque que Myriam desferiu contra Milei sobre seu relacionamento com os grandes empresários.

O primeiro debate presidencial deixou poucas novidades e uma clara diferenciação entre Myriam Bregman e os demais candidatos. A candidata da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade apareceu com uma clara denúncia contra as políticas de ajuste fiscal, a subordinação ao Fundo Monetário e as tentativas de regular os protestos social e o direito de greve. Os comentários de analistas e jornalistas nas redes sociais e na mídia deram conta desse desempenho excepcional. Várias das declarações que fez durante o debate viraram tendência na rede social X (Twitter). A primeira foi "gatito mimoso", pela referência que fez a Milei sobre seu relacionamento com os grandes empresários.

Bregman foi muito incisiva, respondendo aos ataques, questionando a demagogia e as mentiras. Ela expôs abertamente o discurso duplo de Milei, que fala contra a casta política, mas negocia candidaturas com o peronismo. Denunciou Sergio Massa por tentar esconder seu papel fundamental na aprovação do acordo com o FMI. Confrontou Bullrich quando esta atacou abertamente o direito de greve. Além disso, foi a única candidata a repudiar a negação explícita da ditadura por parte de Milei.

Apresentação

Após a apresentação dos jornalistas responsáveis pela moderação, foi Myriam Bregman quem abriu o debate. O fez reivindicando sua militância: "Eu sou Myriam Bregman, sou advogada e socialista, e luto todos os dias para transformar esta sociedade a partir de suas raízes". Ela imediatamente se distanciou das forças políticas como um todo. Chamou a "nenhuma resignação" e argumentou que "os trabalhadores são a grande maioria e, se nos unirmos, temos a força para mudar a história". Ela exemplificou esse enorme poder, ressaltando que "as mulheres já mostraram que, quando nos mobilizamos, somos imparáveis".

Desde o início, deu o tom ressaltando que a crise pela qual o país está passando "tem responsáveis: o Fundo Monetário, o poder econômico e seus políticos". Ao mesmo tempo, se diferenciou claramente dos partidos políticos dos patrões, anunciando que "agora vocês vão ouvi-los fazer muitas promessas e até brigar. Mas eles estão juntos no escândalo do chocolate na Assembleia Legislativa de Buenos Aires. E enquanto eles matam o povo de fome, vão para a Europa em iates de luxo".

Por sua vez, Milei começou com um trecho quase cantado: "Sou um economista, um liberal, um libertário. Sei como fazer uma economia crescer e como exterminar a inflação. Minha companheira de chapa é uma especialista em questões de segurança e defesa. Estamos enfrentando a casta empobrecedora. Somos a única fórmula em condições de acabar com a inflação e a insegurança”. Por sua vez, Sergio Massa tentou uma falsa empatia, no contexto de ser um agente que está aplicando o ajuste atual: "Entendo as dificuldades que a Argentina está enfrentando e os problemas que temos de resolver. A melhor maneira é sentar e encontrar soluções". Em seguida, veio a previsível apresentação de Patricia Bullrich: "O kirchnerismo nos deixou com uma Argentina caótica. Precisamos de uma mudança". Por sua vez, Schiaretti defendeu o "modelo de Córdoba", um tom que marcaria todos os seus discursos.

Economia

No início desse ponto, Milei visava, como esperado, atacar "a casta". Por sua vez, Massa ensaiou uma demagogia explícita, falando como se não fosse o principal responsável pelo ajuste em curso, que está afundando a maioria trabalhadora. Bullrich apostou em falar de um "programa abrangente" que, no entanto, não envolveu nenhuma medida. Por sua vez, Schiaretti apresentou mais uma vez o que considera ser o "modelo de Córdoba".

Desde o início, Bregman criticou duramente Milei e Massa. Ela mostrou ao candidato de La Libertad Avanza o que ele é: um gatinho mimoso do poder econômico e um político que negocia com o pior da casta sindical e política. Lembrou ao Ministro da Economia que ele foi um dos principais garantidores do acordo com o Fundo Monetário e denunciou que estão preparando novas desvalorizações e ajustes contra os trabalhadores.

Em sua apresentação, entre outras coisas, a candidata de esquerda lembrou que “quando o acordo com o Fundo foi debatido no Congresso com Nicolás del Caño e Alejandro Vilca, alertamos que ele seria inflacionário e estávamos certos. Agora, alertamos que, nesse caminho, o que está por vir será muito pior para os trabalhadores. Por essa razão, não há saída se essa dívida ilegal, ilegítima e fraudulenta não for cancelada". Além disso, denunciou que as ideias de Milei não são novas: "Elas já foram aplicadas com Domingo Felipe Cavallo, outro grande servidor do FMI. E elas foram um desastre". Nesse contexto, Myriam argumentou que "para fortalecer a moeda, precisamos nacionalizar o comércio exterior e acabar com a porta giratória de dólares no Banco Central. Assim como se evadem muitos dólares, há também muitos evasores".

Educação

O primeiro a falar sobre Educação foi Sergio Massa. O responsável pelo atual ajuste afirmou que "é um direito de todos. Enviei ao Congresso uma lei que eleva o orçamento para 8% do PIB". No entanto, ele imediatamente repetiu o roteiro que ataca o direito de greve dos professores, afirmando que promoverá o presentismo. Bullrich, por sua vez, não apresentou nenhuma surpresa: atacou o governo nacional e insistiu mais uma vez no velho argumento de que "as escolas estavam fechadas há dois anos". Schiaretti, fiel ao esquema concebido, disse que "muitas das coisas que estão propondo aqui já foram feitas em Córdoba". Insistiu, no entanto, em propor que "quem não estuda não passa de ano", um claro ataque aos jovens como se a crise educacional fosse responsabilidade deles. Milei, por sua vez, falou de "capital humano" e se perdeu em generalidades.

Bregman começou dizendo que "se a educação ainda está de pé, é graças aos esforços diários dos professores, em que a maioria são mulheres, e são elas que se encarregam todos os dias da crise social e dos problemas que as crianças trazem para a sala de aula". Ele também questionou seus rivais, que atacam o direito de greve: "Se não fosse pela luta dos professores, dos alunos, das cooperativas e de toda a comunidade educacional, a situação seria muito pior. Aqueles que têm filhos em escolas públicas sabem disso.”

Ela também denunciou o discurso duplo do Ministro da Economia: "O candidato Sergio Massa promete 8% do orçamento da educação, mas o ministro Sergio Massa não cumpre nem mesmo os 6% que é o mínimo estabelecido pela lei atual. Eles falam sobre o ’Estado estar presente’ e não conseguem nem mesmo garantir aquecimento em cada sala de aula". Também criticou Bullrich e Macri por "afundarem a educação pública" e Milei por propor o sistema de vouchers escolares, que já fracassou em países como o Chile. Dsse ainda: "Vamos defender o ESI (Educação Sexual Integral) obrigatório em todas as escolas. Porque está comprovado que, entre outras coisas, ele serve para identificar situações de abuso em crianças e adolescentes. Não vamos retroceder 150 anos".

Por fim, Myriam dedicou outro trecho àqueles que atacam o direito de greve. Em particular, ela criticou o candidato da Unión por la Patria: "Sergio Massa disse que os professores ficaram sem graça. A única piada é a de seus funcionários públicos que estão indo para a Europa".

Direitos humanos e coexistência democrática

Nesse ponto, ficou evidente que há dois perfis diametralmente opostos. De um lado, a direita reacionária de Bullrich e Milei. Do outro, a esquerda, com a figura de Bregman.

Bullrich, candidata do Juntos por el Cambio, defendeu a repressão aberta, atacando o direito de manifestação e enviando "um abraço" aos policiais envolvidos no desaparecimento e na morte de Santiago Maldonado. Milei, pela LLA, justificou diretamente o terrorismo de Estado da última ditadura, falando dos "excessos" cometidos pelas Forças Armadas. Por sua vez, Sergio Massa e Juan Schiaretti ensaiaram discursos sobre direitos humanos que, no entanto, ficaram muito aquém da direita.

Bregman, sem dúvida a protagonista no final do debate, confrontou abertamente a direita negacionista e seus discursos repressivos. Ela também denunciou o duplo discurso de Sergio Massa, que nunca teve qualquer compromisso com a luta pelos direitos humanos e que pediu um governo de unidade nacional com o repressor de Jujuy, Gerardo Morales.

Entre outras coisas, em sua apresentação, ela relembrou sua carreira na luta do movimento de direitos humanos: "Fui advogada em crimes de lesa humanidade, contra genocídios como o de Astiz, El Tigre Acosta. Atuei no julgamento contra Etchecolatz, no caso do desaparecimento de nosso companheiro Julio López. É por isso que estou indignada e não posso aceitar o retorno de ideias negacionistas ou que aqueles que justificam os campos de concentração e os sequestros da ditadura falem de "liberdade". Nunca foi fácil lutar contra a impunidade. Nossa luta nunca foi uma farsa.” Ao mesmo tempo, ela condenou "todos os desaparecimentos ou assassinatos de crianças que ocorreram durante os governos constitucionais nas mãos das forças de segurança, como Luciano Arruga, Facundo Astudillo Castro ou Lucas González. Não foram “excessos”, mas sim parte de um política orquestrada pelo Estado” finalizou.

Ao final desse ponto, ela criticou duramente Milei por "turvar a ideia de liberdade". Bregman denunciou que "ele fala de liberdade para que você possa ser demitido sem indenização; para baixar os salários o quanto o mercado quiser, mesmo que você morra de fome ou tenha que vender uma mão cheia para pagar as contas. Para ele, liberdade é: se você quer saúde, pague por ela. Ele até defende a liberdade de poluir os rios. Em resumo, a liberdade para Milei é "cada um por si". Mas enquanto houver desigualdade social, a liberdade será apenas para os ricos. Aqueles ricos que foram capazes de impor uma ditadura em nosso país e impor 30.000 desaparecidos".

Perguntas cruzadas

O momento das perguntas cruzadas trouxe trocas e disputas entre Massa, Milei e Bullrich. Schiaretti continuou repetindo o seu discurso, respondendo com o ’modelo Córdoba’. No entanto, o destaque veio do ministro da Economia, que afirmou que poderia incluir em um eventual governo setores da direita liberal-libertária, dos quais Milei faz parte.

Já o candidato do Liberdade Avanza fez perguntas previsíveis. Uma delas foi usada por Myriam Bregman para denunciar a irracionalidade do sistema capitalista e, ao mesmo tempo, levantar a necessidade de uma sociedade socialista, onde a economia seja democraticamente planejada no interesse das grandes maiorias populares. Nesse bloco, a candidata da Frente de Izquierda voltou a defender o direito de greve contra os ataques de Bullrich; respondeu às falsas acusações de Schiaretti sobre os votos no Congresso e voltou a questionar Massa por propor um governo comum com o repressor Morales. Além disso, criticou Milei por sua defesa do patriarcado, o que implica, entre outras coisas, defender a desigualdade salarial entre homens e mulheres.

Encerramento

No final do debate, nas considerações finais, os candidatos repetiram o mesmo roteiro. Massa defendeu a "construção de uma Argentina com um governo de unidade nacional". Milei mais uma vez criticou as coalizões que governaram nos últimos anos e propôs "o modelo de liberdade". Schiaretti, por sua vez, se repetiu, ressaltando que "ouvimos candidatos que se culpam, que representam a divisão e propõem coisas que são uma jornada desconhecida. Eu ofereço minha experiência de governo". Por sua vez, Bullrich encerrou dizendo que "há 20 anos estamos lutando contra o kirchnerismo, que trouxe tanta dor. Sempre matamos essa bola no peito e hoje estamos na batalha final".

Em seu último discurso, Bregman voltou a denunciar: "Como eu disse no início, além do discurso, nenhum dos candidatos conseguiu esconder o fato de que todos eles são cúmplices do poder econômico. Vocês sabem que nós não somos, porque nosso objetivo é construir uma sociedade sem qualquer tipo de opressão ou exploração. Por isso nos veem em todas as lutas".

Nesse contexto, ela convocou o fortalecimento da Frente de Esquerda neste 22 de outubro: "Vamos mostrar que somos muitos, somos muitas, aqueles que não querem pagar o FMI com a fome do povo, que não querem que os trabalhadores continuem perdendo, que não podemos continuar destruindo o planeta porque não há planeta B, que nós, mulheres, não podemos continuar esperando. Não abaixe a cabeça. Vote com suas convicções".

Para finalizar, voltando a responder aos discursos negacionistas, ela afirmou: "Foram 30 mil e foi um genocídio".

Myriam Bregman provou que é possível atingir setores de massas enfrentando a extrema direita com uma política socialista revolucionária, sem sucumbir à conciliação de classes ou aos governos nacionalistas burgueses, como o governo de Frente Ampla de Lula-Alckmin, governo ao qual pertence o PSOL, ajudando a aprovar ajustes antioperários como o Arcabouço Fiscal em nome de "enfrentar o bolsonarismo" (que conta com dois ministros na Esplanada, do PP e do Republicanos). A Frente de Esquerda e dos Trabalhadores na Argentina é um exemplo internacional da independência de todos os setores da burguesia, e a política do PTS atuando nas eleições está a serviço da construção de uma força material da classe trabalhadora para enfrentar o Estado capitalista, seus governos e suas burocracias, para que a política seja entendida como impulso à auto-organização independente dos trabalhadores e dos oprimidos contra os donos do poder econômico.


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