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MACHISMO | Mesmo mulheres com escolaridade superior têm mais trabalho doméstico que homens

Um estudo realizado com ex-alunos da universidade de Harvard, em Massachusetts nos EUA, revela que mesmo tendo frequentado a mesma instituição, as mulheres, depois de formadas, ainda tomam como uma tarefa obrigatória para elas o serviço doméstico.

Zuca FalcãoProfessora da rede pública de MG

segunda-feira 22 de janeiro de 2018 | Edição do dia

Imagem: VIX

Um estudo intitulado Vida e liderança após a Harvard Bussines School - uma das instituições mais conceituadas na formação de dirigentes empresariais no mundo todo - revelou que 60% dos ex-alunos homens, quando questionados sobre a satisfação com sua vida profissional após formados, afirmavam estarem satisfeitos, enquanto esse percentual para as mulheres entrevistadas se reduzia a 40%. Mais de 80% dos 25.000 alunos entrevistados eram casados.

O estudo buscou avaliar o desfecho da vida profissional de pessoas que, embora tenham recebido o mesmo treinamento para assumir postos de liderança, na mesma instituição, são de sexos opostos, o que demonstrou fazer muita diferença. 75% dos homens entrevistados admitiram que esperavam das suas mulheres que assumissem a tarefa do cuidado dos filhos e 50% das mulheres entrevistadas admitiram que já esperavam que seria assim. Também, 70% dos homens que responderam a pesquisa acreditam que suas carreiras são mais importantes do que a das suas mulheres, pensamento confirmado por 40% das mulheres entrevistadas.

Essa realidade se reflete no mundo todo: Na Espanha, de acordo com um relatório da IE Bussines School, apenas 13,4% das empresas com ações na bolsa são lideradas por mulheres, 47 das 100 maiores empresas da América Latina não possuem sequer uma mulher em posto de liderança segundo a Corporate Woman Directors International e no Brasil apenas 6,3% das mulheres ocupam cargos de alta administração em grandes empresas. Pesquisas do IBGE, com dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD) revelam que o tempo médio dedicado às tarefas domésticas pelas mulheres é de 20 horas semanais, enquanto aos homens correspondem 5 horas semanais. Além disso, 85% das mulheres brasileiras segundo a PNAD se dedicam ao cuidado da casa contra 45% dos homens.

Apesar das mudanças ocorridas na sociedade que após grande luta das mulheres permitiu que elas saíssem de casa para trabalhar, estudar e até mesmo ocupar altos postos de trabalho, o pesado fardo das tarefas domésticas ainda recaem sobre elas, como uma obrigação natural que elas em grande medida vão aceitando como inevitável e que é reforçada com a postura dos companheiros de deixarem para elas tais tarefas enquanto fazem outras coisas, como cuidar da carreira profissional.

Esse fato só vem demonstrar o fracasso do discurso do feminismo liberal, que prega a libertação das mulheres através da ascensão econômica e da projeção nas posições de liderança na sociedade e nos locais de trabalho. Essa é uma fórmula falida enquanto estratégia de libertação para o conjunto das mulheres trabalhadoras, antes de mais nada, pelo simples fato de vivermos em uma sociedade capitalista, baseada na exploração de mão de obra e na extração do lucro, onde sempre será necessário que existam pessoas sendo exploradas nos piores postos de trabalho para que uns poucos empresários obtenham seus lucros, o que impossibilita portanto que todas as mulheres conquistem seu sucesso e sua liberdade através de melhorias nos postos de emprego. Isso sem falar em todas as dificuldades enfrentadas pelas mulheres que desejam trabalhar e investir na qualificação profissional como baixa oferta de empregos, falta de creches públicas para ter onde deixar os filhos, preconceito e assédio no trabalho, tudo isso ainda mais grave para as mulheres negras trabalhadoras que ainda por cima carregam todo o peso do histórico atraso econômico imposto ao seu povo.

E por último, como demonstra a pesquisa, não é suficiente para as pouquíssimas mulheres que nesse mundo competitivo e excludente conseguem ter acesso a uma formação de qualidade, por mais que seja em uma das instituições mais renomadas do mundo como Harvard, pois na realidade se deparam com uma sociedade patriarcal, onde as mulheres são reduzidas a um papel de aparador para servir aos homens e de cuidadoras do lar, realidade que só pode ser transformada com a destruição desse sistema capitalista que se beneficia em manter as mulheres presas a tarefas vazias e manter um regime de exploração onde homens e mulheres são limitados a uma vida de escravidão e despojados de seu direito a uma vida plena.




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