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Marília Campos em Contagem: repetindo os passos da conciliação de classes com golpistas

Nas primeiras eleições sob o governo Bolsonaro e o regime do golpe institucional, o PT mantém sua velha política de conciliação de classes. Em Contagem, Marília Campos, repetindo os passos nacional de um partido que se coligou com o próprio PSL em 140 cidades, se alia nada mais nada menos do que com o MDB de Michel Temer e do golpe institucional, que abriu caminho para ataques mais duros contra os trabalhadores e para a extrema direita de Bolsonaro.

Flavia ValleProfessora, Minas Gerais

terça-feira 3 de novembro de 2020 | Edição do dia

Marília compõe uma aliança com PSB, PCdoB e MDB para disputar mais uma vez a prefeitura da cidade de Contagem. A candidatura do PT na cidade mineira segue em perfeita consonância com as inúmeras candidaturas pelo país, as quais vêm se dando por meio de coligações espúrias com o que existe de mais a direita no cenário político brasileiro, levando o partido a se coligar inclusive com o PSL (partido pelo qual Bolsonaro e deputados bolsonaristas se elegeram) em 140 cidades brasileiras. Entretanto, alianças com o PSL não parece grande novidade para a candidata de Contagem, que também governou com o próprio partido e outros da direita brasileira em gestões anteriores.

Tendo como vice o ex-deputado estadual Ricardo Faria (MDB), Marília demonstra que frente ao regime do golpe institucional e do reacionarismo de Bolsonaro está disposta a formar alianças com os mesmos setores responsáveis por levar a cabo o impeachment de Dilma em 2016 como forma de aprofundar os ataques contra os trabalhadores, as mulheres, os negros, as LGBTs e a juventude.

Oferecer uma saída para o conjunto dos trabalhadores e setores oprimidos de Contagem e de todo o país passa por combater todos os pilares desse regime degradado, como o judiciário e todos os políticos golpistas também responsáveis por aprovar todos os ataques no Congresso e no Senado sob a benção de juízes que não são eleitos por ninguém e recebem verdadeiras fortunas.

Por isso, frente a situação reacionária na qual vivemos no país, afirmamos categoricamente que, diferente das promessas de fazer Contagem “feliz de novo”, dizemos a verdade: que para garantir melhores condições de vida, moradia, educação e saúde para os trabalhadores da cidade de Contagem, vamos precisar nos enfrentar nacionalmente com os arquitetos do golpe e com o bolsonarismo, ou seja, precisamos batalhar por uma alternativa política anticapitalista de independência de classes e que combata não apenas Bolsonaro, mas todo o regime do golpe institucional responsável, inclusive, por garantir ataques tão profundos como a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência.

Conciliação com os patrões, grandes capitalistas e golpistas

A história petista se fez sobre os alicerces da conciliação de classes, pelas mais variadas alianças com grandes empresários, setores reacionários e conservadores da política brasileira. Agora, mesmo após o golpe institucional e os ataques da extrema direita sustentada por esse mesmo regime podre, o partido de Marília Campos segue a mesma e velha cartilha de se aliar aos grandes capitalistas e, como diria Lula, fazer com que ganhem mais dinheiro do que em outros governos. Afinal, em Minas Gerais, a fórmula é a mesma, dos governos passados de Marília Campos na Prefeitura de Contagem ao Governo Estadual de Fernando Pimentel: financiamento de grandes capitalistas como os das mineradoras e conciliação com os partidos fisiológicos do regime.

Em 2015, depois do primeiro crime ambiental da Vale/Samarco em Mariana, o PT (com o governador Pimentel e Marília Campos na ALMG) foi responsável – ao lado do mesmo MDB da coligação de Marília – em aprovar o PL 2946 na ALMG, acelerando as licenças ambientais para as mineradoras graças ao financiamento de grandes capitalistas como os da Vale, MBR e MCR. Somente Marília recebeu 80 mil reais das mineradoras na campanha de 2014 e foi parte da defesa da aprovação do PL. Por outro lado, o MDB era relator do Novo Código da Mineração com o deputado Leonardo Quintão, que teve 42% do financiamento de sua campanha ligado às empresas de mineração como Vale, Gerdau, Usiminas, Anglo Gold Ashanti, Arcellor Mittal, V&M, entre outras. Todos os políticos financiados pelos mesmos capitalistas responsáveis 4 anos depois por mais um crime socioambiental, agora na cidade de Brumadinho arrasada pela lama da Vale.

O financiamento de mineradoras a políticos e partidos mineiros foi prática corriqueira entre os diversos partidos do regime, o investimento em campanhas como de Marília em 2014 vem acompanhado por vários outros partidos, mas, também, por diversos deputados do PT, além de Pimentel.

Nessas eleições, Marília segue reeditando o que foi marca de suas candidaturas e gestões anteriores: financiamento de grandes empresários, como é o caso dos irmãos Fabrício Aparecido Mendonça Santos, Diego Geraldo Mendonça Santos e Vitor Vilaça Mendonça Santos, donos da empresa Whargo Reciclagem, principal financiadora por fora do partido da campanha de 2020. Sendo a mesma empresa envolvida em escândalos de sonegação de impostos.

Justamente por essas alianças e coligações com partidos da direita e grandes empresários é que Marília teve suas gestões, como deputada e prefeita, marcada pela provação do PL das mineradoras, administrando em benefício dos patrões, privilegiando as empresas do transporte, terceirização na educação, garantindo o fechando a Funec, beneficiando metalúrgicas e grandes construtoras.

Por isso, hoje, frente ao governo Bolsonaro, a maior depredação ambiental e ataques aos direitos trabalhistas, seria possível, repetindo os passos da conciliação de classes com empresários e partidos como MDB, enfrentar verdadeiramente Bolsonaro, militares e todo o regime do golpe institucional? Seria possível “fazer Contagem feliz de novo” se aliando com patrões e seus representantes, como os partidos da burguesia, responsáveis por soterrar famílias inteiras como em Mariana e Brumadinho?

Para que os capitalistas paguem pela crise: nenhuma aliança com golpistas

A promessa de Marília de “fazer Contagem feliz de novo” se assenta sobre as mesmas bases que foram responsáveis por garantir a viabilidade do golpe institucional no Brasil: aliança com burgueses e seus representantes políticos, alimentando ilusões de que seria possível governar Contagem para os trabalhadores junto aos mesmos velhos políticos de sempre e em meio ao mar bolsonarista. Portanto, não nos enganamos sobre as ilusões municipalistas de que seria possível um oásis em meio ao deserto, sem se enfrentar verdadeiramente com o bolsonarismo e com todos os atores políticos do regime golpista, não será possível responder as demandas mais sentidas da classe trabalhadora.

Mantendo alianças com políticos e grandes empresários, além de não se enfrentar com os mecanismos responsáveis por garantir que governos sejam verdadeiros administradores da burguesia, como faz a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), não será possível governar para os trabalhadores, muito pelo contrário, as práticas políticas do PT durante seus governos demonstraram que em última instância administram o Estado burguês e ainda abrem espaço, no interior de seus próprios governos, para os atores mais direitosos da política brasileira.

Para derrotar Bolsonaro e enfrentar todos os ataques contra nossa classe, não apenas em Contagem, mas em todo o país, vamos precisar se chocar com todo o regime golpista, o qual inclui o judiciário – que por meio do STF abriu caminho para privatizações de refinarias da Petrobras, por exemplo –, contra o Congresso, com o qual Bolsonaro pode contar com toda ajuda para a aprovação da Reforma da Previdência e contra os militares saudosistas de Brilhante Ustra. Contudo, para levar a cabo essa batalha, precisaremos também se enfrentar com o caminho traçado pelo PT de aliança com a direita, oligarquias regionais e nacionais. Precisamos nos enfrentar com a paralisia das burocracias sindicais, como a CUT e a CTB dirigidas pelo PT e PCdoB, ambos os partidos sendo parte da mesma coligação com a direita em Contagem e país a fora, enquanto no terreno da luta de classes não organizam nenhuma luta séria, como por exemplo, contra as inúmeras perseguições aos petroleiros em Betim, acompanhadas das tentativas de privatizações e ataques contra esses trabalhadores, bem como ao dos Correios meses atrás.

Neste sentido é que dizemos ser importante superar o PT pela esquerda e por isso fazemos um chamado a toda esquerda para colocar de pé um polo nacional anti-burocrático para organizar a luta dos trabalhadores e da juventude contra todos os ataques. Minha candidatura à vereadora de Contagem do MRT por filiação democrática pelo PSOL, também é parte dessa batalha nacional ao lado das demais candidaturas que soltamos no país, como parte de nos enfrentar não apenas com Bolsonaro, mas como todo o regime podre do golpe institucional.




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