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CRÔNICA | Maratona pedagógica. Professora, como foi seu primeiro bimestre?

Tatiana CardosoProfessora da rede municipal e estadual de São Paulo e militante do Movimento Nossa Classe Educação

terça-feira 25 de maio de 2021 | Edição do dia

Iniciamos mais uma reunião online, o ATPCE, o que já foi um momento de descontração e de aproximação virtual na Pandemia, hoje o silêncio sufocante toma conta do espaço de uma forma avassaladora, aquele silêncio que fala o que o cansaço nos impede de pronunciar.

A coordenadora abre a câmera, começa com os cumprimentos corriqueiros e nota-se tristeza no seu tom de voz, o que chama a atenção de todos nós porque ela sempre mostra ser alguém positiva e esperançosa. Questionada sobre seu estado de espírito, nossa coordenadora espontânea e sinceramente diz que não consegue normalizar a situação pandêmica que vivemos. Viver presa, sem contato pessoal e presenciar milhares de mortes a afeta constantemente, “há dias como hoje que é impossível esconder tamanha frustração pelo descaso das autoridades para com a vida dos brasileiros”. Ela expressou o que sentíamos, pois muitos de nós abriram suas câmeras em solidariedade e tentaram, à distância, dar apoio a ela.

Sufocados por todos os comandos enlouquecedores da Secretaria Estadual da Educação, não tivemos tempo de nos acalentar e partimos para a pauta do ATPCE. Abre-se a discussão sobre o primeiro bimestre que está no final.

Um bimestre que foi de superação cardíaca, marcado pelo agravamento da Pandemia, com as vagas de enfermaria e UTI dos hospitais lotadas, com a crise do oxigênio, dos medicamentos de intubação, nosso medo de ser infectados e sermos mais uma vida ceifada a entrar nos grupos de WhatsApp das escolas que virou um espaço de homenagens aos companheiros perdidos. Com as mudanças abruptas no calendário da Educação assistimos todo trabalho da tão famigerada busca ativa sendo jogado no lixo quando adiantaram o recesso escolar e diversos feriados, que paralisaram tanto a aula presencial quanto a remota, esta medida nos afastou ainda mais dos nossos alunos. E o que dizer sobre o ensino híbrido? Que sugou todas as nossas forças ampliando a jornada de trabalho e colocando nas nossas costas problemas estruturais que assolam a educação há décadas!? Ele transformou o processo de ensino-aprendizagem em meras planilhas de controle de frequência, os números de acesso valem mais do que o desenvolvimento das habilidades e competências citadas no Novo Currículo Paulista.

A SED, site onde temos que lançar notas, frequência e planos de aula, foi um capítulo à parte, verdadeiro desrespeito conosco e uma prova incontestável do despreparo em oportunizar uma plataforma que comporte milhares de acessos concomitantes e nos transformando em máquinas burocráticas. Ela é uma parafernália inútil e motivo de surtos coletivos.

Aos trancos e barrancos chegamos ao fim do bimestre e se avizinha uma demanda pedagógica que em eras tão, tão distantes foi um ritual de passagem: a reunião de pais. Eis que a pauta do ATPCE nos coloca esse desafio: O que propor na a reunião de pais para uma comunidade escolar que sofre tantos impactos com a pandemia, com a economia, da sociedade quando é sistematicamente excluída das políticas públicas que poderiam dar uma vida mais estruturada? Como dialogar com pais para auxiliar seus filhos nas atividades enviadas no Google Classroom que perderam entes queridos, perderam empregos, que não têm acesso à internet ? Foi difícil conseguir um consenso entre nós, afinal estamos entre apoiar a nossa comunidade e seguir minimamente as ordens da SEDUC. Nos apoiamos no que definiu nosso trabalho até o momento: olhar o ser humano e ser empático com nossa comunidade que tanto nos apoia apesar de todos os 9problemas cotidianos. Organizar uma reunião de acolhimento e suporte para nossos pais.

Seguimos com a pauta e a cada tópico as coordenadoras nos colocam um novo desafio. Chegou a hora de avaliar o bimestre, criar nossa nuvem de palavras para caracterizá-lo, foram muitas palavras: adaptação - superação - reconstrução - conhecimento - empatia - tecnologia - frustração - nervosismo - ansiedade… Retornando para aquele parágrafo lá de cima sobre como foi este bimestre, é fácil compreender tantos sentimentos e reflexões por meio dessas palavras. As dúvidas e angústias nos acompanharam até aqui e devem persistir durante este ano letivo porque a Educação é alvo de muitos ataques sistemáticos, a implementação das PEIs goela abaixo é mais um marco da precarização que se aprofunda em SP.

Enfim, o ATPCE foi finalizado com palavras de apoio, de parceria, numa atmosfera de solidariedade. Não podemos negar o quão difícil foi o início deste ano letivo exemplificado com esta reunião de professores, mas também não podemos deixar de destacar o quanto nossa categoria está disposta a superar as adversidades e se unir contra os ataques da mídia, dos empresários da educação privada, do governo para garantir ensino público de qualidade para nossas crianças. Também não podemos desconsiderar o papel que as direções de muitas unidades escolares têm cumprido nas organizações dos bimestres, na falta de diálogo, apoiadas numa gestão autoritária e unilateral que diz amém à SEDUC e cumprem à risca suas determinações, passando por cima da engrenagem que mantém a escola de pé - o corpo docente. Nesses casos, que não são exceções, as batalhas também são internas e cotidianas, agravando ainda mais a situação caótica que se aprofundou com a pandemia.

Vamos em frente, apoiados e por nas nossas comunidades escolares, seguir firmes na batalha do 2° bimestre, na luta diária pela valorização da Educação Pública, por um ensino de qualidade para nossos alunos.

Mesmo sendo a engrenagem vital que somos e que se mantém ativa, não avançaremos sozinhos, apenas quando todas se unirem em prol do melhor para a Educação que venceremos!!!

Sigamos...




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