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LUTA ANTIRRACISTA E ANTIFASCISTA | "Manifesto da Unidade exclui a classe trabalhadora e os negros, que mais sofrem com a crise", diz Maíra Machado

sexta-feira 5 de junho de 2020 | Edição do dia

No domingo estão propostas manifestações em diversas cidades do país, como aconteceu na semana passada em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. A fúria negra dos EUA em resposta ao assassinato de George Floyd tomou várias partes do mundo, atravessou o Atlântico e se alastrou para Europa, assim como também ocupa os sentimentos antirracistas e antifascistas, contra Bolsonaro, de jovens e trabalhadores brasileiros.

Vimos o exemplo disso com a fúria dos trabalhadores de aplicativos, em sua maioria negra, na Av. Paulista essa sexta-feira, denunciando o racismo e a exploração das empresas.

Vemos nossas crianças, jovens, serem assassinados pela polícia racista do Estado, como João Pedro morto com tiro da polícia de Witzel. Mas também como vemos com a injustiça e barbaridade de uma criança, Miguel, de 8 anos, filho de empregada doméstica, em Recife, cair do nono andar do prédio, por desleixo, negligência, desprezo de patrões que não tiveram nem a capacidade de supervisioná-lo enquanto sua mãe passeava com o cachorro. Nesse cenário, é fundamental se inspirar na força dos trabalhadores precarizados negros e unificar a luta contra o racismo, o trabalho precário e o capitalismo.

Como responder às necessidades da luta do povo negro e classe trabalhadora brasileiros? Como podemos nos organizar para botar abaixo essa corja da direita e esse sistema de opressão e exploração, que se sustenta com racismo, que é o capitalismo?

Sobre isso, Maíra Machado, professora do Estado de São Paulo e dirigente do Movimento Revolucionário de Trabalhadores, afirmou ao Esquerda Diário:

"É nesse marco que precisamos debater qual a estratégia para seguir nossa luta. Expressões políticas em manifestos surgem para tentar canalizar o sentimento de revolta. Esses manifestos dizem que "somos 70%” contra os 30% da base bolsonarista. O Manifesto "Estamos Juntos", por exemplo, é assinado por empresas e figuras e partidos da direita, como FHC (PSDB), Luciano Huck, mas também por figuras e partidos progressistas e de esquerda, como Haddad (PT), Flávio Dino (PCdoB), Marcelo Freixo e Guilherme Boulos, do PSOL. Querem retomar o Diretas Já, em defesa da democracia, tentando apagar as diferenças entre direita e esquerda, sendo que vimos esses mesmo setores de direita e empresariais unificados com Bolsonaro para tomar nossa aposentadoria, encaminhando mais ataques como a MP936, rifando nossos direitos para que sejam eles a sair ilesos da crise econômica, acelerada pela pandemia.

Saídas que vêm sendo debatidas, como o impeachment, acabam canalizando nosso ódio contra Bolsonaro, para colocar no seu lugar um general defensor da ditadura militar, Mourão, alimentam a ilusão de que o STF e o judiciário de conjunto, golpistas, que mantém 40% da população encarcerada sem julgamento (em sua maioria negros) pode defender os direitos democráticos dos trabalhadores e especialmente das massas negras. Medidas como essa não podem ser uma alternativa em defesa das vidas negras, trabalhadoras, do povo pobre."

Ontem, quinta (4), Bolsonaro cortou o auxílio emergencial pela metade. Caiu para R$300 e ainda com extensão de 2 meses. Essa corja da extrema direita tem desprezo pelas nossas vidas. Sabemos que quem mais precisa do axílio, quem tem seus salários cortados, estão sendo demitidos ou ocupando os postos de trabalho mais precários sem medidas de prevenção na pandemia são os negros e as mulheres trabalhadoras.

Por isso, nós merecemos uma estratégia que nos unifique na ação, não em confiança com quem se unifica para nos atacar com Congresso e com Maia, que excluem a classe trabalhadora e os negros, mas sim fortalecer as manifestações. No último domingo vimos as torcidas saindo na dianteira do movimento, antes mesmo que os sindicatos. As centrais sindicais da CUT e CTB, as entidades estudantis da UNE e Ubes, dirigidas pelo PT e PCdoB devem colocar todas as suas forças para organizar os trabalhadores e a juventude brasileiros.

Essas burocracias estão com seus privilégios mantidos e protegidos em suas quarentenas, enquanto dão de bandeja o aprofundamento da reforma trabalhista, por exemplo, fechando os olhos para os setores mais precários da classe trabalhadora, como os trabalhadores de aplicativo, que já realizaram manifestações nesses tempos de pandemia, que estão sendo expostos sem proteção.

Sobre isso, Maíra afirmou:

"Na Argentina, a juventude do PTS (Partido dos Trabalhadores Socialistas), que faz parte da FIT-Unidad (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores), impulsiona La Red, uma rede de trabalhadores precários que se manifestam pelos seus direitos, o que poderia servir de exemplo para pensar medidas similares no Brasil. Também temos que falar das trabalhadoras da linha de frente da saúde, que batalham por EPIs, máscaras. Não é possível que seja aceita essa paralisia generalizada das direções do movimento operário e do movimento estudantil, que apesar de falarem que apoiam as manifestações até agora ficaram dentro de suas casas e buscam mascarar os efeitos de ataques como a MP 936 e o aprofundamento da reforma trabalhista.

É necessário atuar com força nas manifestações antifascistas e antirracistas, porque as vidas negras importam. Basta de morrer pelas balas, pela violência policial que nos sufoca, pela COVID-19 e pelo lucro capitalista. Precisamos fortalecer uma estratégia da classe trabalhadora para derrotar Bolsonaro, Mourão e os militares, sem que isso busque fortalecer os crescente autoritarismos do STF e outros poderes sem voto. Por isso batalhamos por uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, para transformar essa revolta e indignação contra Bolsonaro e contra o desprezo pelas vidas negras em auto-organização da classe trabalhadora e da juventude, coordenando desde cada local de trabalho e estudo. Para mudarmos as regras do jogo, e não apenas os jogadores."




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