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51 ANOS DA MORTE DE MALCOLM X | Malcolm X: Por trás do mito

Negro, presidiário, muçulmano, mártir e revolucionário. Muito foi escrito sobre a sua vida, ideologia e luta para tentar dar uma resposta a pergunta: Quem foi Malcolm X?

quinta-feira 25 de fevereiro de 2016 | 01:00

Em 19 de maio de 1925 nascia, em Omaha, sul dos Estados Unidos, Malcolm Little. Também conhecido como Al Hajj Malik Al-Habazz, nome muçulmano usado após sua conversão ao islamismo. Homem mundialmente conhecido como Malcolm X. Malcolm Little, o quarto dos oito filhos de Louise e Earl Little, conheceu desde cedo o racismo: seu pai foi assassinado por simpatizantes da Ku Klux Klan, sendo jogado no trilho de um trem. Pouco depois sua mãe, que teve que cuidar sozinha de 8 filhos trabalhando como empregada doméstica, teve um colapso nervoso e foi internada. A família se separou.

Nas décadas de 1930/1940 era uma árdua (e ingrata) tarefa ser negro nos Estados Unidos. Naquele momento ainda vigoravam nos EUA as “Leis de Jim Crow”, criadas pouco depois da libertação dos negros escravizados, este conjunto de leis mantinham o status de “inferiores” que os negros herdaram da escravidão, criando ambientes separadas para negros e brancos, seja em espaços públicos, como ônibus e trens, ou privados, como restaurantes. Porém, sua vida muda radicalmente quando vai morar no Harlem, em Nova Iorque, após passar por lares adotivos e detenções infantis. Lá, ficou conhecido como “New Iorque Red” ou apenas Red, devido seus cabelos estarem bastante danificados pelo uso constante de alisantes. Alex Haley, que escreveu a autobiografia de Malcolm, chegou a afirmar que “Nessa época, ele não parecia ter orgulho de ser negro”.

Aos 17 anos entrou para um grupo do crime organizado local, que era envolvido com tráfico de drogas, roubo, prostituição e jogos. Nesse período ele se envolveu com um homem mais velho, branco, com o qual mantinha uma relação que se iniciou na prostituição infantil e avançou alguns anos depois e com quem Malcolm continuou se correspondendo. Após ter sido preso duas vezes, voltou para a casa da irmã mais velha em Boston, mas continuou no crime: havia se tornado ladrão de casas. Foi pego vendendo um relógio roubado e condenado a 10 anos de cadeia. Foi lá que conheceu o islamismo.

Foi através de um de seus irmãos, Wilfred, que lhe enviava cartas na cadeia, que Malcolm conheceu a “religião natural para os homens negros”, como escreveu Wilfred em carta uma de suas cartas, falando como membro da Nação do Islã (NoI na sigla em inglês). Mas foram os textos de Elijah Muhammad, líder da Nação do Islã, que convencera, Malcolm. Elijah dizia que Deus era negro e se chamava Alá. “O negro americano deve ser reeducado. O Islã dará a ele as qualificações para sentir orgulho, e não vergonha ao ser chamado de negro”. Marcado por um discurso segregacionista, Elijah defendia países separados para brancos (“os demônios da humanidade”) e para os negros ou afro-americanos. Após cumprir 6 anos e meio de prisão, foi libertado. O que se via, no entanto, era um outro Malcolm: cabelos cortados e natural, roupas alinhadas e um devoto do islã.

Em pouco tempo cresceu dentro da NoI e se tornou um de seus mais habilidosos e famosos oradores, fato este que chamou a atenção de Elijah que trouxe Malcolm para cada vez mais perto de si, conforme este se destacava em aproximar cada vez mais adeptos, sendo que comandou a construção de templos em Boston, Hartford e Filadélfia, virou líder do Templo Número 7, no Harlem, e assumiu o posto de porta-voz da organização, tudo isso em apenas 2 anos. Mas o real tom de seu discurso mudou após o boicote aos ônibus de Montgomery, no Alabama, onde Rosa Parks, uma mulher negra se negou a ceder seu lugar para um branco dentro de um ônibus, fato este que iniciou uma série de manifestações populares que ficariam conhecidas como “Movimento pelos Direitos Civis”, que teve entre seus líderes, Martin Luther King jr. Nesse momento Malcolm adicionou ódio aos seus discursos, pregando que os negros deveriam se erguer contra seus opressores brancos. Ele havia se tornado o representante mais famoso da história da Nação do Islã. Sua figura imponente e seus discursos haviam sido fundamentais para o crescimento da organização, que passou de 500 membros para 30 mil em dez anos.

Com o crescimento das tensões raciais, seus discursos passaram a ter mais sentido para nos negros norte-americanos, o que colocava Malcolm em colisão direta com o discurso de pacifistas de Martin Luther King. Na noite de 27 de abril de 1962, um grupo de policiais matou um membro da Nação do Islã, Ronald Strokes, deixou outro paralítico e cinco feridos ao invadir um templo em Los Angeles. Revoltado, Malcolm X convocou a comunidade negra para protestar nas ruas. Milhares atenderam, cerca de 80 foram presos e 14 feridos, entre eles dois policiais. “Não há nada no nosso livro, o Alcorão, que ensine a sofrer tranqüilo. Nossa religião ensina a ser inteligente, pacífico, cortês, obedecer a lei e respeitar os outros. Mas, se alguém bota a mão em você, mande-o para o cemitério”, disse Malcolm, em 1962. Malcolm defendia que os negros deveriam se defender “Por qualquer meio necessário”.

Seus discursos chamaram a atenção do FBI, que passou a seguir seus passos e manter vigilância constante das declarações de Malcolm, tendo gravado diversas delas. Segundo o historiador, Manning Marable, vários destes arquivos seguem em sigilo até hoje. Porém, internamente o crescimento da popularidade de Malcolm também atraia olhares atentos. Elijah começou a se incomodar com o destaque que Malcolm estava recebendo, que ofuscava o seu próprio. Passou então a questionar Malcolm e este contra-atacou descobrindo e denunciando que Elijah mantinha relações amorosas com integrantes da NoI, entre casadas e menores de idade, fato este que levou a ira de Elijah.

Em 1963, Malcolm, após dar uma declaração polêmica sobre a morte do presidente Kennedy, na qual dizia em uma expressão local “aqui se faz, aqui se paga”, foi sancionado pelo NoI, tendo que ficar calado por 90 dias, sem poder discursar ou falar a mais de uma pessoa. “Alguns observadores crêem que Elijah aproveitou-se do momento em que a opinião pública se voltou contra Malcolm, para livrar-se dele”, afirma Clayborne Carson, historiador da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Terminado o silêncio, em 8 de março de 1964, Malcolm X anunciou que deixaria a Nação do Islã.

Este período foi marcado por uma viagem a Meca, na qual ele teve contato com uma outra forma de islamismo, uma que não pregava o ódio entre negros e brancos como colocava Elijah, mas sim a cooperação e integração entre eles. Entendeu que a doutrina que defendera com tanto afinco era uma farsa. Á sua família escreveu “Durante os últimos 11 dias aqui no mundo muçulmano, eu tenho comido no mesmo prato, bebido do mesmo copo e dormido na mesma cama – enquanto rezo para o mesmo Deus – que seguidores muçulmanos cujos olhos são os mais azuis dos azuis, cujos cabelos são o mais louro dos louros e cujas peles são as mais brancas das brancas. Nós somos todos iguais”. Sua viagem a Meca se estendeu a alguns outros países africanos, aonde teve contato com líderes nacionalistas africanos e com vertentes socialistas que, apesar de infectadas pelo stalinismo, lhe permitiram ampliar seus horizontes quanto a luta dos negros. Em suas palavras: "Não é o caso de nosso povo... querendo qualquer separação ou integração. O uso dessas palavras , na verdade nubla a imagem real. Os 22 milhões de afro- americanos não procuram qualquer separação ou integração. Eles buscam o reconhecimento e respeito como seres humanos."

Ao voltar para os EUA, Malcolm funda a Organização da Unidade Afro-Americana, no Harlem. Esta organização pregava a união dos Afro-americanos e demais “pessoas de boa vontade”, na luta contra o racismo e a opressão aos negros. O líder cubano Che Guevara chegou a confirmar presença em um evento da organização, mas achou que estaria desprotegido e não foi ao encontro, mas enviou uma mensagem, lida pelo próprio Malcolm a um auditório eufórico: “Caros irmãos e irmãs do Harlem, eu gostaria de estar com vocês e Brother Babu, mas as condições atuais não são boas para esse encontro. Recebam calorosas saudações do povo de Cuba e especialmente de Fidel. Unidos, nós vamos vencer”. O Brother Babu, citado por Che, era Abdul Rahman Muhammad Babu, líder socialista africano que virara ídolo no Harlem. Malcolm chegou até a se encontrar com Fidel Castro.

Pouco depois sua casa é incendiada, mas Malcolm escapa ileso. Sua esposa Betty recebia seguidos telefonemas ameaçando ela e Malcolm de morte. No dia 21 de fevereiro de 1965, uma semana após a sua casa ter sido atingida por uma bomba incendiária, Malcolm X foi alvejado mortalmente 14 vezes, enquanto discursava em seu palco favorito, o Harlem, em Nova Iorque, perante 400 pessoas.

A Vida de Malcolm X foi carregada de transformações e marcada por uma personalidade forte, que faz de Malcolm um dos ícones da luta contra o racismo. Para Marable, Malcolm é um dos líderes mais mal-entendidos da história americana e desvendar sua morte é apenas o primeiro passo para entender quem foi o homem por trás de Malcolm Little, Red, Malcolm X e El-Hajj Malik El-Shabazz, nome que assumiu ao voltar da meca.
Malcolm nos deixa um legado, nos últimos anos de sua vida, que deve ser lembrado: a luta contra o racismo, apenas pode ser dada através da luta contra o capitalismo.

"Em minhas recentes viagens para países africanos e outros, fiquei impressionado com a importância de ter uma unidade de trabalho entre todos os povos , preto , bem como branco.” (Malcolm X)


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