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segunda-feira 23 de fevereiro de 2015 | 07:00

Mais uma vez o reacionarismo de Jair Bolsonaro, deputado do PP-RJ, da base aliada do governo Dilma, o coloca na linha de frente contra os setores oprimidos. Ele está respondendo a uma ação no STJ movida pela deputada Maria do Rosário, PT-RS , pela declaração absurda que fez em meados de dezembro de 2014, na qual dizia que “não estupraria a deputada porque ela ‘não merecia’”, em mais uma de suas recorrentes afirmações pró-estupro e violência contra as mulheres. Semana passada, em uma coletiva de imprensa sobre o assunto, Bolsonaro fez mais uma declaração, que entrará para sua coleção de frases machistas, dizendo que “acha injusto que as mulheres recebam salários iguais aos dos homens”.

A postura conservadora e contra as mulheres de Bolsonaro já tem fama e não surpreende mais ninguém. São dele também afirmações reivindicatórias das torturas, perseguições e assassinatos na Ditadura Militar. Além do seu apoio aos projetos de lei como o Estatuto do Nascituro, que submete as mulheres a prosseguir uma gravidez indesejada, mesmo nos casos previstos por lei, obrigando-as a manter relação com os seus estupradores e que coloquem seus nomes nas certidões. Entretanto a declaração de Bolsonaro “Entre um homem e uma mulher jovem, o que o empresário pensa? Essa mulher está com aliança no dedo, daqui a pouco engravida, seis meses de licença maternidade (...) Por isso o cara paga menos para a mulher! Se Dona Maria não quiser ganhar menos, que procure outro emprego! O patrão sou eu.” Indica, além de seu conservadorismo de classe, uma dura realidade vivida pelas mulheres brasileiras.

A “justiça” da burguesia impõe mais trabalho e menos direito às mulheres

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em média as mulheres brasileiras recebem apenas 72% do salário recebido pelos homens, apesar de em muitos dos casos produzirem mais e não receberem o correspondente a esse trabalho. Esse percentual cai drasticamente quando se tratam das mulheres negras, que recebem em média 35% do salário dos homens brancos e, também, as mulheres das zonas rurais entram na queda estatística, recebendo apenas 27%. Esses números seriam contraditórios pelo avanço das mulheres na ocupação dos espaços sociais e nos empregos (Hoje já são as maiores responsáveis pelos rendimentos familiares em nosso país) se não vivêssemos num sistema no qual essa desigualdade é uma de suas partes estruturais e serve para explorar mais.

Além de ser crescente a participação das mulheres nas atividades de produção da vida, as pesquisas realizadas indicam que elas também estudam mais, passam a ter diploma e atuar de forma especializada. No entanto, uma atenção aos dados mostra que às mulheres estudantes falta direitos, como creche e bolsas, o que faz com que muitas abandonem seus cursos em busca de trabalhos precários e se tornem parte dos 60% da chamada “geração nem-nem” (nem estuda, nem trabalha). Já às mulheres trabalhadoras faltam também direitos essenciais, elas estão empregadas em áreas subvalorizadas econômica e socialmente, como a área da Educação e, em especial, a área do trabalho doméstico “fora de casa” (sendo 6,7 milhões de 7,2 milhões trabalhadores domésticos do Brasil!), nos quais possuem poucos direitos, com jornadas extenuantes, salários baixos e sem auxílios.

Se já nos anos 70 a mulheres de países com economias centrais, como EUA e Inglaterra, experimentavam uma maior “saída dos lares” para o trabalho formal e informal, devido às medidas neoliberais adotadas por seus governos com o intuito de responder à crise econômica instalada, as mulheres do Brasil e outras partes do mundo viram esse processo se intensificar nos anos 90-2000 e sob o governo do PT essa realidade faz com que Dilma dedique bons minutos de seu discurso a colocar que “as mulheres estão no centro das preocupações de seu governo”, quando na verdade esse projeto de governo se ergue na subvalorizarão do trabalho das mulheres, a falta de direitos e este ano como o “pacote de maldades” e ajustes que já está implementando, as mulheres, que são grande parte da chamada “classe C”, serão as mais afetadas.

Emancipação só contra os patrões, os governos e os conservadores!

A chamada feminização do trabalho, ao contrário da defesa unilateral das feministas burguesas, não veio como uma medida de emancipar a mulher das algemas do lar e da vida privada. Apesar de ter possibilitado uma maior participação na vida social, e inclusive permitir sua organização junto à sua classe. Às mulheres foram designados os trabalhos mais precários, temporários e rotativos, justificados pela falsa ideia de que somos inferiores aos homens ou que somos suas propriedades, quando na verdade esconde que é a burguesia, os patrões, quem se beneficia da exploração combinada à opressão, que divide nossa classe e reduz o salário geral dos trabalhadores. A declaração de Bolsonaro expressa essa posição de classe, da burguesia contra a classe operária, como parte de um governo burguês, que trabalha contra os trabalhadores para satisfazer a sede de lucros dessa casta.

A história de luta das mulheres é repleta de resistência, insubordinação e solidariedade. Foram as mulheres russas que primeiro se organizarem e saíram em greve por seus direitos no que precedeu a Revolução de 1917 da Rússia, para depois, junto aos homens trabalhadores, conquistarem um Estado sem exploração e direitos inéditos no mundo de até então- como o divórcio, os restaurantes públicos e o direito ao aborto seguro e gratuito. Em “nossos tempos” também as mulheres se levantam contra os estupros na Índia, contra os planos de austeridade da crise dos capitalistas europeus na Grécia, contra as famílias nas ruas pelas demissões em fábricas montadoras e, no Brasil, contra a falta de água e os ataques à Educação. Recentemente as trabalhadoras terceirizadas e as das universidades federais, as servidoras da educação e as professoras do estado do Paraná se mobilizaram contra os cortes do governo do PT e do PSDB, as demissões e não pagamento de salários.

Com uma greve forte que já fez tremer a Assembleia Legislativa e o governo tucano, as trabalhadoras e trabalhadores da educação do Paraná nos mostram o caminho. Através da nossa auto-organização, nas escolas, universidades e locais de trabalho, não deixaremos que os patrões e os setores reacionários como Bolsonaro, Eduardo Cunha e companhia, falem pelos quatro cantos contra nossos direitos! Lutaremos por salários iguais para trabalho igual, pela efetivação dos trabalhadores temporários sem a realização de concurso e por condições iguais com direitos garantidos para o estudo e trabalho entre homens e mulheres.




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