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Nas telinhas do Plim Plim, mais uma vez uma novela do horário nobre, Babilônia, apresenta personagens homossexuais, e como comum da vida de um casal, um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo. Desta vez, as ilustres atrizes Fernanda MonteNegro e Nathália Timberg, protagonizam um casal lésbico.

Virgínia GuitzelTravesti, trabalhadora da educação e estudante da UFABC

segunda-feira 23 de março de 2015 | 14:26

A sexualidade lésbica, completamente invisibilizada, ao ser destacada por duas mulheres idosas em rede nacional, contra a tendência do fetiche da heteronormatividade ou o discurso de ser "apenas uma fase", se enfrenta com amplo descontentamento de setores conservadores contrários a visibilidade da população LGBT.

A frente parlamentar Evangélica do Congresso Nacional presidida por João Campos (PSDB-GO) divulgou nesta quinta-feira (19) uma nota de repúdio à cena do beijo gay bastante coerente com suas inúmeras ações homofóbicas no Congresso, como os projetos de lei pela "Cura Gay" barrados pelas massivas mobilizações de Junho de 2013 e os novos projetos também de autoria de Eduardo Cunha como "Dia do orgulho Heterossexual", "Criminalização da heterofobia" e outras bizarrices.

Dizendo-se contrários ao "modismo" da homossexualidade e que o beijo gay é um "estupro moral" novamente os setores conservadores reafirmam sua intransigência aos direitos mais elementares da comunidade LGBT e convocam um boicote a novela e aos produtos dela propagandeados.

A estratégia da visibilidade e seus limites para combater a direita e os conservadores

Quando foi a vez de Niko e Carneirinho se beijarem na novela Amor a Vida, polemizamos com uma estratégia do movimento LGBT da visibilidade.
Naquele momento, muitos propagandeavam como o primeiro beijo gay na Emissora Rede Globo, o que logo foi revisto, e o aplaudiam como uma grande vitória da luta do movimento LGBT. Já neste artigo definíamos que a emoção e identificação da comunidade LGBT com a cena era completamente compreensível de acordo com a profunda homofobia e transfobia existente em nosso país, recorde de assassinatos e agressões.

Todavia polemizamos com os setores ativistas de variados grupos e organizações da esquerda que não apontavam os limites da estratégia da visibilidade, isto é, buscar como forma de luta a aparição de personagens, reportagens e outras expressões de pessoas não heterossexuais ou trans na grande mídia. Enquanto, a rede Globo e outras emissoras abriam espaço para incorporar uma pequena parcela dos LGBT em suas novelas e filmes, as fazia de maneira a demonstrar qual classe poderia ser representada, novamente excluindo os setores pobres, periféricos e trabalhadores LGBT.

Ainda que com essas limitações, não nos colocamos ao lado dos setores conservadores contra o beijo ou a existência desses personagens. Entendemos que essa visibilidade poderá abrir debates dentro das casas e das famílias e demonstrar com maior naturalidade a vivencia LGBT, ainda que de maneira insuficiente para enfrentar os inúmeros casos de discriminação no país.

Luciana Genro: a visibilidade como saída política

As eleições de 2014 anteciparam as fissuras políticas no regime político brasileiro. Alertaram para o desgaste do PT nacionalmente, um partido que se aliou com todos os inimigos dos LGBT, e também deram voz a uma candidata de esquerda que conseguiu no enfrentamento ao reacionário Levi Fidelix aproximar a comunidade trans e obter cerca de 1,6 milhão de votos. Muitos diziam que ser a primeira candidata a falar transfobia já valeria o voto e a confiança.

É claro que num sistema político profundamente antidemocrático, onde os trabalhadores e a juventude que protagonizaram Junho não podem se candidatar e expressar suas ideias e os grandes partidos com financiamentos milionários impedem uma verdadeira disputa de ideias, Luciana Genro teria chances de ganhar a Presidência do país. Todavia, qual política poderia ter Luciana Genro a partir de sua figura para fortalecer a luta por direitos dos LGBT?

Se a homofobia está expressa em todos os âmbitos sociais. É preciso combatê-la tornando vivas as discussões que houveram nas eleições e se renovam com os cotidianos assassinatos e agressões, nos locais de trabalho e de estudo. Somente assim é possível criar um movimento forte e desde as bases que questione essa profunda opressão e ganhando as ruas com milhares colocar um basta nessa situação. Luciana Genro e os deputados do PSOL não podem se limitar a dar "visibilidade" as pautas sem colocar seus mandatos e suas figuras a tarefa de construir um verdadeiro movimento ativo e militante para arrancar esses direitos.

A visibilidade aprofunda as polarizações sociais, mas nem de longe conquista ou firma os direitos elementares que são negados a lésbicas, gays, travestis e homens e mulheres transsexuais. A novela Babilônia, mesmo com seus limites, recupera esse profundo debate que no cenário nacional dinâmico como está, permite pensarmos uma grande unidade dos grupos, organizações e as entidades estudantis assim como os sindicatos para lutar contra a opressão.




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