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OPINIÃO | MNN: inventando lições pra não aprender nada com a FIT

sexta-feira 6 de novembro de 2015 | 23:46

Que bom seria se a esquerda brasileira se contaminasse com o exemplo da FIT na Argentina. Ao contrário, o que parece é estar tendo uma epidemia de delírio. Primeiro foi o MES/PSOL, e agora o MNN, que fala em lições, mas inventa uma outra realidade justamente pra não aprender nada com a FIT - Veja as análises do PSOL e do MNN aqui e aqui.

Primeiro faz um malabarismo de números, somando votos da FIT e de outros partidos, pra dizer que “ao que tudo indica os próprios votos da FIT diminuíram entre as primárias e as eleições”. Têm que torcer pra que ninguém que leia isso tenha se dado ao trabalho de olhar os resultados das eleições, em que a FIT passou de 733 mil votos nas primárias a 813 mil em outubro.

Aí explicam essa "realidade" inventada com duas ideias. A primeira é que a FIT cometeu um erro de leitura da conjuntura ao combater o voto útil em Scioli (governista) como “mal menor” em relação a Macri (da chamada “direita gorila”). Assim como no caso do MES/PSOL, que lá critica a falta de uma “unidade ampla” e aqui está numa frente permanente com o governismo, a crítica do MNN à FIT fica mais compreensível quando olhamos pra sua política aqui. Esse ano o MNN chamou diretamente a construir os atos convocados por Aécio, Serra e toda a direita de fora do governo Dilma, propondo que “Em vez de equipará-los e propor uma terceira via, mais proveitoso seria, nos parece, engrossar atos como o do dia 15 [de março, chamado por essa direita] com setores organizados da classe trabalhadora” (veja o texto completo aqui), defendendo unidade com a reivindicação do impeachment, argumentando justamente que era preciso se colar (não importa como) à reprovação popular de Dilma, e que se ela cai (não importa como) isso é melhor, só porque assume um partido sem o peso do PT no movimento social. Nem sombra de independência de classe aqui! Supostamente a luta dos trabalhadores avançaria ao fortalecer o bando da burguesia supostamente mais fraco para contê-la! Diga-se de passagem, é o mesmo tom de quase comemoração com que dizem que lá “A vitória de Macri em novembro, se se realizar, constituirá um fenômeno político interessante a ser analisado, pois se tratará da primeira derrota das forças de tendências bonapartistas num país economicamente relevante da América Latina” que “pode iniciar um processo de maior luta de classes no continente, na medida em que realiza a queda do kirchnerismo e enfraquece seu aparato de controle da classe trabalhadora”. Provavelmente só não vão fortalecer algum ato chamado por Macri lá porque não têm condições de fazer isso, da mesma forma que aqui também não tiveram condições de levar adiante a orientação que eles mesmos defenderam de participar dos atos da oposição de direita.

A segunda ideia é que a FIT “abandonou o Programa de Transição”, especialmente as escalas móveis de salários e de horas de trabalho, e “se diluiu em pautas democratizantes de direitos humanos (sic!), pequeno-burguesas e estatistas-burguesas” como “educação pública e gratuita”, que supostamente não dependem da luta dos trabalhadores, apresentando um programa pra “gerir o Estado burguês” e "apareceu muito similar" aos candidatos burgueses por defender o aumento do salário mínimo (equiparação à “canasta familiar”), o aumento da aposentadoria e o fim dos impostos sobre os salários. A maior parte disso é simplesmente mentira. Pra algum desavisado que esteja imaginando a campanha da FIT só a partir do que o MNN escreve, aqui vai parte da campanha televisiva que chegou a milhões de trabalhadores:

Vídeo 01 (no youtube) - "O capitalismo não vai mais, a FIT luta para que a crise seja paga por eles [capitalistas], e por um governo dos trabalhadores, uma sociedade sem explorados e exploradores".

Vídeo 02 - "A Frente de Esquerda propõe igualar o salário mínimo com o custo das necessidades básicas de uma família [a ’canasta familiar’] e que se reajuste mensalmente com a inflação".

Vídeo 03 - "Para que a próxima crise não seja paga pelos trabalhadores, lutamos para acabar com o trabalho precário, pela efetivação de todos [os terceirizados], proibição das demissões, e trabalhar todos menos horas pra que ninguém fique sem trabalho, sem redução salarial, e que o salário mínimo cubra a ’canasta familiar’. Nossas vidas valem mais que seus lucros. Só a FIT propõe fazê-lo com a mobilização dos trabalhadores e do povo."

O que não é mentira é que a FIT defende “pautas democratizantes de direitos humanos”, que o MNN chama de “pequeno-burguesas”, como essa aqui - "Propomos um plano de emergência pra combater a violência contra as mulheres, e pelo aborto seguro e gratuito".

Aqui realmente se trata de divergências. E a FIT também defende sim o aumento do salário mínimo, e de fato o MNN contrapõe a defesa do reajuste mensal dos salários de acordo com a inflação (escala móvel) à defesa do aumento do salário mínimo, deixando este na boca dos candidatos demagógicos. A FIT também defende sim a “educação pública e gratuita”, enquanto o MNN se coloca contra a defesa de mais verbas pras universidades, do fim do vestibular, da estatização do ensino privado, diz que “A única e verdadeira educação que o povo deve ter hoje é a educação da luta, mas ela passa muito longe das salas de aula” e que "não lastimamos o seu desaparecimento [da universidade pública], pelo contrário, o comemoramos" (veja a publicação completa aqui).

O MNN, pra terminar o texto que começou lamentando que “infelizmente” a FIT não inclui correntes sem independência de classe, diz que o PTS, partido do candidato a presidente pela FIT, apresenta o mesmo programa e é da mesma tradição que o PSTU brasileiro. De novo, aqui é simplesmente uma mentira. Como sabem bem, o PTS é da mesma organização internacional que nós do MRT brasileiro. Num comentário cujo objetivo não se pode entender, feito de forma risível, recomendam que essas organizações se unifiquem e dizem “Nos parece que nada justifica hoje a separação desses dois partidos em duas internacionais”, já que ambos seriam morenistas. Mais uma simples mentira: o PTS não é morenista. Mas aí vão, como se desconhecessem, “alguns” motivos dessa separação: nossa polêmica com o morenismo, de décadas atrás, mas que de modo nenhum “ficou no passado”.




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