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Enchentes | “Lutemos por um plano de emergência em Minas” diz diretora de Centro Acadêmico da UFMG

O Esquerda Diário conversou com Elisa Campos, diretora do Centro Acadêmico de Filosofia da UFMG sobre a situação do estado nos últimos dias, diante das intensas chuvas que atingem algumas regiões do país e as consequências dos anos de depredação e exploração ambiental das empresas capitalistas e do descaso dos governos com a população.

segunda-feira 10 de janeiro de 2022 | Edição do dia

Diante da situação do estado, a jovem estudante defende a necessidade de que as entidades estudantis se articulem junto aos sindicatos e movimentos sociais na luta para exigir dos governantes e das empresas um plano emergencial controlado por uma comissão de representantes das famílias atingidas pelas chuvas, dos trabalhadores das empresas responsáveis pelas barragens, e de representantes dos sindicatos, entidades estudantis e dos movimentos sociais junto a especialistas das universidades como a UFMG.

São as maiores chuvas em quase 30 anos, porque em sua visão a responsabilidade é dos governantes e das empresas?

Em primeiro lugar queria prestar minha solidariedade a todas as famílias atingidas por essa situação. Muitos perderam tudo que lutaram a vida toda para conquistar, outros estão sendo obrigados a abandonar tudo para não perder a sua vida. É revoltante ver o que acontece hoje em nosso estado, por isso mesmo precisamos dizer que Zema, Bolsonaro, todos os governantes e empresários capitalistas são responsáveis. Há alguns meses atrás sofríamos com a possibilidade de escassez de água, agora com as chuvas intensas, isso não é um desastre natural, isso é a consequência da degradação capitalista contra o meio ambiente. Em todo mundo vemos como a desenfreada exploração capitalista está levando a um desequilíbrio ambiental de enormes proporções. Vimos isso em nosso estado com Mariana e Brumadinho, enquanto a Vale considera absurdo o valor da indenização às famílias, segue explorando seus trabalhadores e degradando o meio ambiente, gastando milhões de reais com propaganda de TV para limpar sua imagem, e para isso conta com o apoio dos governos, como Romeu Zema. Mas nós não nos esquecemos.

Hoje novas barragens como a da Vallourec em Nova Lima e a Usina do Carioca em Pará de Minas estão sob risco de rompimento, a Região Metropolitana de BH e a Zona da Mata estão sob risco geo-hidrológico muito alto, 138 cidades do estado estão em situação de emergência, e especialistas dizem que a tragédia de Capitólio poderia ter sido evitada. A responsabilidade por termos chegado a essa situação é de todos os governantes. É de Zema e Bolsonaro que sequer apresentam um plano emergencial diante dessa situação dramática, mas também de todos os governos anteriores, inclusive o do PT que governaram o país e nosso estado atendendo aos interesses das mineradoras e dos empresários. Em 2020, na RMBH as chuvas causaram uma destruição intensa e agora estamos vivendo novamente essa situação, Kalil e os prefeitos da região não fizeram absolutamente nada para impedir que isso se repetisse.

E qual seria o papel das entidades estudantis e da UFMG nesse momento?

Estamos vendo surgir diversas campanhas de solidariedade da qual nos somamos e ajudamos a construir desde o Cafca e a representação estudantil das Artes Visuais, entidades estudantis da UFMG da qual somos parte como juventude Faísca Anticapitalista e Revolucionária. Achamos muito importante que o DCE e outras entidades estudantis da UFMG construam essa campanha de solidariedade entre os estudantes, pensando nas medidas unitárias que podemos fazer. Essa rede de solidariedade é fundamental agora no imediato. Mas como disse as consequências são muito profundas, as chuvas devem seguir e com ela o risco de rompimento de barragens, novas inundações e deslizamentos, além das famílias que já perderam tudo.

Por isso, defendemos a necessidade de articularmos uma campanha unitária das entidades estudantis, dos sindicatos e movimentos sociais exigindo que os governos e das empresas garantam já um plano de emergência controlado pelos trabalhadores, moradores das áreas atingidas e pelas entidades sindicais, estudantis e os movimentos sociais. Os governos e empresários precisam arcar com a responsabilidade diante dos acontecimentos, nossas vidas valem muito mais que o lucros deles e sabemos que a única forma de garantir esse plano é com a nossa mobilização. Em todo mundo, jovens e trabalhadores tem se mobilizado contra as consequências das mudanças climáticas e ambientais como nas greves globais pelo clima, semana passada vimos na Argentina uma importante mobilização de milhares contra a exploração petrolífera no mar desse país, são exemplos que servem de inspiração para fortalecer nossa luta aqui em Minas Gerais e em todo Brasil.

VEJA TAMBÉM: "É a ganância capitalista que faz com que as chuvas signifiquem destruição para o povo", diz Flavia Valle

E qual seria o papel dessa campanha?

Uma campanha desse tipo poderia permitir que a solidariedade expressa nas campanhas de arrecadação e o ódio contra essa situação pudesse se canalizar de forma organizada em uma mobilização para um plano efetivo, respondendo às demandas mais imediatas com a garantia de abrigo para os moradores desabrigados ou em áreas de risco, pensando as alternativas para de fato impedir que aconteça novos desastres. Essa articulação também poderia exigir da reitora da UFMG, que mantém um absurdo convênio com a Vale, que ao invés disso ela organize um chamado aos pesquisadores e especialistas da nossa universidade e de outras universidades do estado para que em aliança com os trabalhadores e a população possamos dar uma resposta a essa situação.

Imaginem como seria diferente, se ao invés dos patrões que calculam se o gasto será maior pagando as consequências da tragédia ou evitando que ela aconteça, fossem os trabalhadores da Vallourec ou da Vale os que pudessem decidir sobre o que fazer com as barragens ameaçadas de rompimento em nosso estado? Tenho certeza que estaríamos em uma situação muito diferente. Com o auxílio de especialistas e do conhecimento que produzimos aqui na UFMG e em outras universidades, poderíamos ajudar os trabalhadores e moradores a decidir a melhor forma de organizar as obras para evitar novas tragédias e ao mesmo tempo prevenir as consequências das chuvas. Desde as nossas entidades estudantis poderíamos formar comitês de estudantes para levar as mais diversas formas de apoio a população e para se aliar aos trabalhadores que levariam adiante esse plano de emergência, numa verdadeira resposta operária e popular diante da crise. Esse é o chamado que fazemos ao DCE da UFMG, hoje dirigido majoritariamente pelo Afronte (Resistência-PSOL), mas também a todas as outras organizações e entidades estudantis e de trabalhadores da UFMG, a UEE-MG e a UNE, para que possamos impulsionar essa campanha de forma unitária junto aos estudantes e aos trabalhadores de dentro e fora da nossa universidade.




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