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PEPSICO EM LUTA | Luta PepsiCo na Argentina: “Vamos fortalecer uma corrente classista no movimento operário”

Entrevista com Camilo Mones, representante da Comissão Interna da PepsiCo. A luta da PepsiCo, a crise da central sindical CGT (Confederação Geral do Trabalho), a política para os grandes sindicatos e a necessidade de colocar de pé um movimento de agrupações classistas para lutar por outra perspectiva no movimento operário.

sexta-feira 25 de agosto de 2017 | Edição do dia

Todas as mídias dizem que além da CGT, os operários da PepsiCo e da esquerda foram outro protagonista da jornada

Bom, a verdade é que conseguimos reunir por trás da bandeira da PepsiCo, que pedia por “paralisação nacional já”, uma grande quantidade de organizações. De outras fábricas da Alimentação agrupadas na Bordó, de sindicatos como o SUTNA, SUTEBA recuperados, Ademys, AGD-UBA, MadyGraf, dirigentes combativos do SUBTE e comissões internas e delegados de aeronáuticos, ferroviários, telefônicos, assim como correntes piqueteiras e partidos de esquerda que nos apoiam.

Nossa decisão foi entrar na Praça de Maio, coisa que fizemos enquanto ocorria o breve discurso de Schmid. Ali colocamos a bandeira com as consignas que tínhamos levado e a exigência de “paralisação geral”, que estivemos cantando todo o tempo. Esse fato, assim como a jornada que fizemos de manhã cedo na avenida Nove de Julho, foram destacados por todas as mídias, que nos tomaram como os protagonistas da jornada.

A convocatória e o discurso de Schmid deixaram a desejar...
Totalmente. A mobilização, que foi uma das mais fracas dos últimos anos, mostrou a crise que a central sindical CGT e sua gestão têm. A maioria dos sindicatos participou e quase todos estavam com delegações muito escassas, com exceção dos Caminhoneiros que convocaram para a mobilização. Se nota cada vez mais que depois dos 19 meses de trégua, e com a crise do peronismo depois das PASO (eleições primárias que ocorre no país), as cúpulas do sindicalismo também estão em uma forte crise.

Conscientes dessa situação, mas convencidos da importância de participar nessas jornadas com nossas próprias bandeiras e reivindicações, assim como fizemos no dia 22, seguiremos exigindo das centrais uma paralisação geral para que todo o movimento operário enfrente o ataque do governo e dos empresários, que estão cada vez mais arrebatadores.

“A mobilização, uma das mais fracas dos últimos anos, mostrou a crise da CGT (Confederação Geral de Trabalho)”

O anúncio de um confederado que vai decidir medidas não pode conformar ninguém. Nós acreditamos que as decisões não podem mais ser tomadas entre quatro paredes. Por isso, como historicamente colocamos desde a Bordó da Alimentação e das agrupações classistas que o PTS impulsiona, as centrais e os sindicatos têm que convocar de maneira urgente assembleias para discutir um plano de luta, que pode começar com uma paralisação nacional e mobilização por todo o país, até conseguirmos frear o plano de ajuste do governo e dos empresários.

Como avançar em uma alternativa às cúpulas sindicais peronistas?

Bom, esse é um dos grandes desafios que temos diante de nós. Como dissemos, uma parte importante da central CGT tem acordos com o governo, chegaram inclusive a boicotar a marcha. Há outro setor, como a Corrente Federal ou as CTAs, que fazem um discurso crítico, mas não levam adiante um plano de luta para enfrentar os ataques que a classe trabalhadora sofre. A CTA, que não está dentro da CGT, não reivindicou a marcha do dia 22, assim como também não exige que termine com a trégua que possui com o governo e que se convoque uma paralisação nacional.

Entretanto, há um outro setor, que ninguém pode ocultar, que é o sindicalismo combativo e de esquerda, um setor que é protagonista de duras lutas e da recuperação de comissões internas e de sindicatos. O PTS e as agrupações classistas que impulsionamos em mais de 60 grêmios somos parte fundamental desse fenômeno. O movimento da PepsiCo é um exemplo que continua a tradição. Como também as fábricas sem patrões, como hoje são a Zanon e a MadyGraf, de duras lutas como a Jabón Federal, Mafissa, Kraft, os terceirizados ferroviários, Lear, para nomear algumas. Não só conquistamos comissões internas em muitos grêmios, mas também somos parte, junto a outros companheiros, da recuperação de sindicatos como os dos Ceramistas, Subte, Stna e grêmios docentes (SUTEBA, SUTE, Ademys). Estamos com companheiros perseguidos por defender os contratados, com companheiras que pararam fábricas contra os assédios ou pelo NiUnaMenos, que colocaram de pé comissões de mulheres. Além disso, muitos avançaram se tornando candidatos da Frente de Esquerda (FIT), que hoje tem referentes políticos como Alejandro Vilca, Raúl Godoy, Nathalia González Seligra, entre tantos outros.

“Sempre lutamos por esses blocos do sindicalismo combativo e de esquerda, que programática e organizativamente se diferenciam das distintas alas da burocracia, sendo parte de nossa luta pela independência política”.

Mas o desafio, conforme você disse, é conquistar novas forças...
O sindicalismo combativo e de esquerda, para nós, tem que sair para conquistar novas forças, ainda mais agora que vem um ataque maior das patronais e do governo. Nós queremos unir todos os que, assim como nós, defendem por igual aos efetivos e contratados, unir todos os que lutam pelas assembleias nos locais de trabalho, os que lutam pelos direitos das mulheres trabalhadoras, os que querem recuperar sindicatos que sejam realmente independentes do governo e de todos os partidos dos patrões. Já vimos no conflito docente, como a estratégia do “vamos voltar” debilitou a luta. Com essa dependência com os Kirchner, era impossível fazer uma luta nacional que enfrentasse seus próprios governadores, como Alicia Kirchner que é “a primeira ajustadora”. A luta pela independência política dos sindicatos para liberá-los da tutela do Estado e dos partidos patronais, sejam oficialistas ou opositores, é um problema de primeira ordem. A falta de independência se paga, e se paga bastante rápido as vezes.

Por outro lado, nós tentamos, em cada conflito, desencadear todas as forças possível, como eu disse, não só na PepsiCo, mas também anteriormente na Kraft, Lear e outros conflitos. Nos preparamos para novas lutas onde é preciso demonstrar que se os trabalhadores têm vontade de luta, se combate de verdade, podendo se conseguir um apoio enorme para enfrentar as patronais.
Somos conscientes do ataque que está por vir e que para enfrenta-lo, é necessário conseguir a unidade da classe trabalhadora para poder estar à altura, porque se os milhares de trabalhadores lutarmos unificadamente, o ajuste de Macri e a prepotência dos patrões, vão ser fracos frente a nós, que somos milhões.

Assim é que fomos à Praça em um ato organizado pela central CGT para exigir a Paralisação Nacional. Alguns jornais, como o La Nación, se perguntam inclusive como podemos ter coincidido nesse ato a esquerda e os dirigentes da CGT. Bom, como todos viram, nós “golpeamos juntos, marchamos separados”. Para poder enfrentar o governo e os patrões se necessita colocar de pé milhares de trabalhadores e com essa força seremos invencíveis. Devemos exigir ativamente desses dirigentes que se convoquem ações de luta, sabendo que assim os trabalhadores e os mais combativos se fortalecerão e que se não o fazem, os setores classistas dentro dos sindicatos burocratizados podem ganhar influência até que tenham força para impor as medidas que realmente se necessitam e conquistar novos sindicatos para os trabalhadores. Essa política para as organizações de massas da classe operária tem anos de história e se conhece como Frente Única Operária.

Alguns jornais, como o La Nación, se perguntam inclusive como podemos ter coincidido nesse ato a esquerda e os dirigentes da CGT. Bom, como todos viram, nós “golpeamos juntos, marchamos separados”

Para dar todas essas disputas, nós impulsionamos também a unidade dos setores que nos reivindicamos classistas. Fizemos isso no dia 22, na marcha da central CGT. Organizamos um importante bloco independente que saiu da nossa barraca da PepsiCo e chegou até a Praça de Maio para exigir a paralização nacional e terminar com a trégua. Para nós, os blocos independentes, com os demais setores de esquerda e antiburocráticos, são muito importantes, pois servem para apoiar as lutas que a burocracia deixa isolada e para dar disputas como foi feito no dia 22 na Praça pela paralisação nacional. Ali confluímos com os companheiros do SUTNA, da UF de Sarmiento, com os Sutebas opositores, a oposição do SUBTE, os delegados da Kraft Victoria, com outros delegados, agrupações e com os partidos de esquerda. Sempre lutamos por esses blocos que programática e organizativamente se diferenciam das distintas alas da burocracia, sendo parte da nossa luta pela independência política.

Quais iniciativas foram pensadas?

Com essa perspectiva é que temos que formar e fortalecer agrupações em mais fábricas e grêmios. Nós, como já disse, participamos também da luta política. Não é igual se os partidos dos patrões têm mais ou menos força. Da mesma forma que não é igual se temos deputados que põem o corpo nas lutas como fizeram Nicolás del Caño e Myriam Bregman essa manhã na PepsiCo, quando nos reprimiram. Por isso, muitos dos nossos companheiros são candidatos da FIT.
Aproveitamos para começar a semear novas ideias. Dissemos que deve-se trabalhar 6 horas, 5 dias por semana para que ninguém fique sem trabalho e todos com um salário mínimo igual ao custo de uma cesta básica familiar. Buscamos com paciência, enquanto damos as disputas imediatas, que uma parte cada vez maior de companheiros e companheiras veja que nossa luta não é só para nos defender da ofensiva dos capitalistas, mas também que lutamos por um sistema social onde a vida valha a pena ser vivida, onde tenhamos acesso à cultura, à diversão, para disfrutar e não ser extensões das máquinas que nos deixam quebrados ao longo do tempo trabalhando nas fábricas. À juventude trabalhadora, que inclusive em grande parte não está nem sindicalizada, temos que mostrar essa perspectiva de luta.
Para todos esses objetivos vamos fortalecer uma corrente classista no movimento operário. Vamos convocar uma reunião de todos os companheiros das agrupações e todos os que quiserem se somar nessa luta para fins do mês de setembro. Queremos colocar de pé um grande Movimento de Agrupações Classistas para lutar nessa perspectiva.


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