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18 DE SETEMBRO | Lideranças Guarani-Kaiowá comparecem ao ato de trabalhadores e denunciam massacre

domingo 20 de setembro de 2015 | 01:33

Nesta sexta-feira, 18, lideranças indígenas Guarani-Kaiowá, Valdelice Veron e Natanael Cáceres vieram do Mato Grosso do Sul para engrossar a Marcha Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras e denunciar os massacres que seu povo vem sofrendo nos últimos meses.

Em junho se intensificou a mobilização indígena pela retomada de suas terras tradicionais, sendo que atualmente mais de 80 fazendas encontram-se ocupadas apenas no Mato Grosso do Sul com mais de 20 mil indígenas em luta. Em consequência disso, fazendeiros reagem assassinando lideranças, estuprando mulheres, violentando idosos e crianças e incendiando seus pertences.

No final de agosto, a liderança indígena Semião Vilhalva de 24 anos foi assassinada com um tiro no rosto enquanto tentava proteger seu filho dos ataques. Além dos pistoleiros que agem conjuntamente com fazendeiros atirando contra os acampamentos indígenas, o DOF – Departamento de Operações de Fronteira e a Força Nacional vêm atuando como milícias para atacar os Guarani-Kaiowá, bloquear estradas e evitar a articulação entre as demais comunidades da região. Atualmente, o Mato Grosso do Sul se encontra numa espécie de apartheid contra os indígenas, tanto pelo bloqueio de estradas, como pelo boicote de vendedores da região que se recusam a receberem indígenas em seus estabelecimentos. Famílias passam fome por não poderem ir até a cidade comprar mantimentos, existe o medo de serem agredidos e até mesmo mortos por pistoleiros que os perseguem.

No mesmo dia em que as lideranças viajavam para São Paulo, um ataque brutal aconteceu na terra indígena retomada, Pyelito Kue, no município de Iguatemi. Cerca de 26 indígenas foram amarrados e colocados em caminhonetes que os jogaram a beira da estrada. Outros 15 indígenas tem marcas de tortura, com hematomas e ferimentos. Valdelice Veron relata que uma menina Guarani-Kaiowá foi estuprada e um rezador idoso encontra-se em estado mais grave por conta dos ferimentos.

Quatro dias antes, um indígena de 14 anos foi atropelado e morto, as lideranças afirmaram que o assassinato foi proposital e que ele teria sido confundido com uma das lideranças. Contam também que é muito comum a morte de indígenas por atropelamento, uma vez que muitos se encontram a beira da estrada, ficam vulneráveis a este tipo de ataque.

Ao ser questionada sobre as expectativas para o ato de trabalhadores e trabalhadoras, e que resposta os indígenas esperavam de todos que estavam marchando, Valdelice afirmou:

“A gente espera deles, e de vocês todos que não fiquem olhando a gente morrer ali, a gente sendo dizimado. E que todos juntos [...] todos vocês que fazem a voz do povo não deixem essa nossa situação de genocídio, vamos denunciar juntos. Eu não quero um dia ser lembrada como uma indígena Kaiowá guerreira naquela época, que lutou pela sobrevivência, mas foram todos dizimados com seu povo [...] Eu quero ser lembrada que um dia eu vim aqui e que a gente gritou na rua, que a gente gritou junto com todos, que a gente lutou junto, e que por isso nós Guarani-Kaiowá ‘tão vivo. Eu queria essa história, uma história nova.”

A presença no ato de sexta, e o discurso de Valdelice e Natanael comoveram diversos setores da esquerda que até então desconheciam o massacre que os Guarani-Kaiowá vêm sendo vítimas. Mostram a nós a importância de unificar a luta dos oprimidos e exigir uma resposta do governo contra estes ataques que assassinam e torturam indígenas todos os dias, exploram os trabalhadores e matam jovens negros nas periferias.




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