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PADRÕES DE BELEZA DA MULHER | Libertem nossos corpos e suas mentes! As modelos Plus Sizes e a verdadeira diversidade

A marca Calvin Klein causou um burburinho ao lançar sua nova coleção de lingeries com uma suposta modelo “Plus Size”, Myla Dalbesio, que usa manequim 40. A ação foi celebrada no mundo da moda, pois significaria uma diversidade maior num universo onde o padrão é de extrema magreza.

Patricia GalvãoDiretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil

sábado 6 de fevereiro de 2016 | 18:56

Hoje, os tamanhos plus size são aqueles superiores ao manequim 46 o que demonstra que a suposta diversidade da marca CK, não se encaixa nem nos padrões estabelecidos pelo mercado. As mulheres gordas, já bombardeadas com propagandas de corpos sarados, barrigas negativas, agora nem no universo “plus size” mercadológico se encaixam. Excluídas das revistas de moda, são também banidas das seções “plus sizes”, já escondidas, das lojas de roupas.

O termo “plus size” foi criado pela indústria norte americana na década de 1970, mas foi na década de 1990 que o nicho de mercado para pessoas gordas começou a ser mais explorado. O termo é uma reafirmação de que existe um padrão de beleza excludente para a maioria das mulheres, pois exclui as mulheres gordas da moda e das lojas convencionais.

O padrão de beleza feminina e a opressão

É muito comum ouvir a afirmação de que “se eu tivesse nascido na época do Renascimento, seria bonita”, fazendo referência às modelos de coxas volumosas nos quadros de Rubens, Botticceli entre outros. Essa afirmação nos induz crer que somente no nosso século o padrão de beleza tornou-se opressor às mulheres e que, antigamente, ele seria mais flexível à diversidade de corpos.

Essa afirmação é falaciosa, pois se olharmos no passado, veremos que o padrão de beleza de peles claríssimas, corpos rechonchudos e ancas largas, correspondia à nobreza e a burguesia somente. A pele clara era das mulheres que não trabalhavam no sol, e era vista como sinal de beleza assim como as coxas volumosas, sinal de fartura que só a nobreza podia usufruir. Ainda, os quadris largos eram desejáveis para medir a aptidão das mulheres à maternidade. As camponesas, contudo, tinham suas peles queimadas do sol e os corpos magros pela fome. Sem falar que esse dito padrão correspondia à mulher europeia. Negras e asiáticas eram corpos “exóticos”, vistos como objeto sexual unicamente.

O controle do corpo feminino através da invenção de padrões de beleza de época é mais uma faceta da opressão à mulher.

O Capitalismo e o corpo da mulher

Se o padrão de beleza não é invenção do capitalismo, não podemos ignorar, todavia, que ele se utiliza desse padrão para oprimir e controlar as mulheres. São fotos de mulheres magras glamorosas espalhadas em outdoors, revistas, anúncios da internet. Fotos muitas vezes irreais, manipuladas por programas como photoshop, colaborando para uma constante insatisfação com o próprio corpo mesmo das mulheres magras e padrão.

Esses anúncios alimentam uma indústria de emagrecedores, shakes, suplementos, remédios e academias. A desculpa do corpo saudável transformou a relação com alimentação. Dietas ultra restritivas, Atkins, Dukan, entre outras, levam milhares de mulheres a arriscarem sua saúde em busca do corpo ideal. O resultado sempre será frustrante, pois não importa o quão magra você está, a indústria da beleza sempre irá impor um controle ao corpo. Não existe libertação. O objetivo do padrão ideal de beleza é não ser atingível, para sempre controlar e oprimir as mulheres, mesmo as ditas padrão.

O controle do corpo das mulheres pelo capitalismo é algo vital para seu funcionamento pois as mantém submissas. A frustração com o corpo as levam a consumir uma quantidade imensurável de produtos de beleza que, se por um lado, as tornam consumistas, do outro as tornam frustradas pois o consumo desses produtos não as fazem atingir certo padrão. A submissão das mulheres ao padrão de beleza mantém a estrutura patriarcal intacta, permitindo a superexploração do trabalho feminino sob menores salários, a repressão sexual que responsabiliza a mulher pelo sexo e pela prole, não aceitando que esta lute por direitos relativos à maternidade como creches e licenças.

As gordas, onde estão?

Estar acima do peso, o que quer dizer? Qual é o peso, então? Ser considerada gorda na sociedade hoje pouco tem a ver com saúde de fato. Associam a gordura corporal a uma alimentação pouco saudável e a problemas cardíacos, diabetes, ou problemas ortopédicos. Claro que existe uma questão de saúde posta, porém não significa que toda pessoa gorda é doente e toda magra é saudável. Por isso, a repressão aos corpos gordos vai além da discussão sobre saúde.

As mulheres gordas são frequentemente menosprezadas, não sendo considerada bonitas ou desejáveis. Basta lembrar a frase dita por Karl Laguerfeld, estilista da marca Chanel, sobre a cantora Adele: “A artista do momento é Adele. Ela é um pouco gorda demais, mas tem um rosto lindo e uma voz divina”.

Ser bonita de rosto, ou ouvir “seu rosto é tão bonito, porque não perde uns quilinhos”, é uma das frases que nós, as gordas, mais ouvimos no dia a dia. Parece um elogio, mas nos impõe uma tarefa: perder peso! Não importa se está saudável ou não.

O resultado dessa opressão constante leva mulheres à depressão, ao abuso de remédios emagrecedores e ao adoecimento. Provar uma roupa ou simplesmente ir à praia se torna coisas desmoralizantes. Ficam escondidas sob roupas escuras, que “emagrecem”, compridas e largas.

A tarefa dos revolucionários

Toda mulher deve aceitar seu corpo, sua beleza, sem deixar que padrões de beleza forjados pela mídia burguesa interfiram na sua relação com seu corpo. Libertar-se dos padrões, se sentindo livre em relação ao próprio corpo, a sua sexualidade e a sua sensualidade. Porém, longe de ser tarefa fácil, não é tampouco tarefa apenas das mulheres fora dos padrões.

Para mulheres gordas se aceitarem e se libertarem é necessário um punhado de auto estima, coragem e determinação. Porque o que ela vai enfrentar é um arsenal de modelos, olhares condenatórios, fotos por todos os lados, propaganda de dietas, indiretas e muitas, mas muitas piadas.

Para a mulher trabalhadora, vencer tudo isso é ainda mais difícil. As dietas são caríssimas, óleos de macadâmia, salmão, quinoa, e outros alimentos que, embora saudáveis, são inacessíveis ao bolso das trabalhadoras. As academias com mensalidades estratosféricas exigem ainda um tempo que, quem tem dupla jornada não tem. Os remédios, além de adoecerem, também tem um custo alto para alimentar a indústria farmacêutica. Ou seja, a sociedade burguesa que impõe um padrão de beleza já quase inatingível é ainda mais inalcançável para as mulheres trabalhadoras. Afora tudo isso, ainda soma-se que o padrão é europeu. As mulheres negras estão fora disso tudo.

Mas a liberdade do corpo da mulher não pode ser tarefa só das “minas fora do padrão”. Competir com o mundo e lutar contra ele é uma tarefa quase hercúlea. É preciso mais. É preciso que todo revolucionário se coloque a tarefa de libertar a sua própria mente dos preconceitos e padrões que agem livremente no subconsciente. Questionar suas atitudes e escolhas e se colocar a tarefa de destruir a sociedade capitalista que impõe as mulheres e a todos os oprimidos a prisão de seus corpos. Sejamos como somos, como queremos ser!




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