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DEBATE | ’Levanta UERJ’ quer varrer crise pra baixo do tapete?

Na mesma semana em que o Reitor da UERJ, Ruy Garcia Marques, juntamente com o diretor do Hospital Universitário Pedro Hernesto, Edmar Santos, resolveram reagir e conseguiram impor a volta às atividades dos trabalhadores grevistas do HUPE, através de liminar na justiça, surgiu também um movimento intitulado Levanta UERJ que em ultima instância leva a acobertar o sucateamento da Universidade.

Isa SantosAssistente social e residente no Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ

Valdemar SilvaMestre em Serviço Social - UERJ

sexta-feira 1º de julho de 2016 | Edição do dia

A página que foi lançada na quarta-feira, 29/06, se coloca como canal de comunicação de estudantes e lideranças, com um discurso “apartidário” e dizendo ter o objetivo de reestruturar a universidade e resgatar seu prestígio. Tal resgate consiste, segundo o próprio movimento, em consertar tudo que está quebrado, além de fazer a limpeza de todos os banheiros. Tudo isso antes dos Jogos Olímpicos.

Já são 4 meses de greve onde a Reitoria ou ignora as demandas dos alunos, técnicos ou professores, ou criminaliza por meio de ações judiciais. Enquanto, por parte do governo do estado (PMDB-PP), são dadas declarações de que não há como sustentar o custeio da universidade. O movimento “Levanta UERJ”, porém, ignora tais atitudes e se esconde atrás de um discurso apartidário e por fora de qualquer discussão política. O problema é que tal discurso ignora que os desafios enfrentados pela UERJ são parte de um projeto político e são estruturais. Ou seja, não serão revertidos com ações isoladas ou individuais.

Os absurdos atrasos de salários dos terceirizados, em sua maioria mulheres negras, começaram a ser recorrentes a mais de dois anos atras. As 500 demissões, realizadas sem a garantia de direitos ou salários, não foram as primeiras desse ano. No mês de janeiro, mais de 600 funcionárias terceirizadas do HUPE foram sumariamente demitidas. Infelizmente, para aqueles que acompanham o movimento estudantil e seus espaços já está mais do que comprovado, devido a repetidas experiências, o quão pouco é eficaz a entrega de cestas básicas. Entendemos a importância de tal medida, mas por si só ela não garante o sustento dessas famílias, não garante que as contas sejam pagas nem que não haja despejos.

O que preocupa, além do evidente desconhecimento das ações promovidas contra o sucateamento da universidade, por estudantes ou centros acadêmicos no último período, é que essa saída em nada significa uma solução para a crise vivida hoje na universidade. Pois passa longe de debater qual projeto de universidade se deseja. A UERJ limpa no último ano se deu mediante ao trabalho análogo à escravidão, é sobre esse histórico que ações como esta acabarão acobertando o descaso e o não investimento do Estado em educação.

O máximo que pode fazer um movimento construído por fora de debates profundos de qual o momento político e financeiro enfrentado, não só pela UERJ, mas pelo Estado do Rio de Janeiro, é acobertar o sucateamento da universidade, varrendo a sujeira pra debaixo do tapete da Reitoria e do Governo. Passando pano para uma Reitoria omissa diante de um governo igualmente responsável por mais de 1000 famílias condenadas a fome, por estudantes com acúmulos de atrasos de bolsas e professores com salários parcelados.

A arrecadação de alimentos para esses trabalhadores, por mais importante que seja, se dá de forma tardia e não passa de uma ação pontual, já feita diversas vezes. O Movimento Estudantil (composto por militantes independentes e diversos coletivos) mesmo com várias dificuldades, vem denunciando o sucateamento da universidade e tentando promover debates sobre o estado da universidade. Vale ressaltar que os espaços das assembleias são abertos a todos que queiram fazer falas, propor ideias e discordar e, que nesses espaços são tiradas ações tais como, atos, campanhas e trancaços mediante a votação dos presentes.




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