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ESPECIAL LEON TROTSKI | Leon Trotsky e a política: o lugar do subjetivo nos acontecimentos

quinta-feira 20 de agosto de 2015 | 21:56

Se fizéssemos a analogia do palco da história com uma peça de teatro, poderíamos dizer que as personagens são encarnações das relações de produção e reprodução da vida social, nesse sentido, com sua atuação determinada por essas condições. Por outro lado, se na história existem circunstâncias gerais onde se realiza a peça, isso não significa que a atuação das personagens não exerça um papel também determinante e, em alguns momentos, decisivo.

A essa atuação, dentro de contexto dado, podemos chamar de política. O contexto, no caso, é a sociedade de classes, sendo a política a relação e o choque geral entre as classes e frações de classe, que encarnam as relações sociais profundas da sociedade. Karl Marx, em seu O Capital costumava falar em personificações do trabalho e do capital como classes fundamentais da sociedade e a luta entre as classes o motor fundamental do palco da história.

Se esse conflito, que nasce das condições objetivas das classes é o motor, qual o papel do fator subjetivo, da ação subjetiva das classes? Isso se determina em realidade por uma conjunção de fatores, mas poder-se-ia destacar a fase do desenvolvimento do sistema, a etapa internacional, a situação de um país dado e, mais especificamente, a conjuntura imediata das relações de força.

Num plano mais da “fase” do capitalismo, o socialismo científico se iniciou e se desenvolveu em um contexto em que, do ponto de vista político, após as revoluções de 1848, foi se demonstrando todo o caráter reacionário da burguesia como classe, mas que, do ponto de vista econômico, houve uma última etapa de prosperidade capitalista, com uma curva ascendente durante os anos 1860 (só se modificando em nova depressão nos inícios dos 1870). Nesse caso, ainda que se expressou um primeiro desabrochar da possibilidade da emancipação política com a Comuna de Paris, a caracterização dessa fase fechou-se em décadas tidas como Belle Epoqué, de estabilidade da sociedade burguesa.

Numa época como essa, como muito bem expressou Trotsky, mesmo “Marx e Engels não poderiam avançar nem um centímetro do desenvolvimento histórico, nem que fosse o fustigando; existem outras [épocas] em que homens de um calibre muito menor tem o timão nas mãos, pode atrasar o desenvolvimento da revolução internacional durante uma série de anos”.

Mas essa fase estabilidade relativa na qual viveram Marx e Engels não durou muito e, em realidade, converteu-se e deu lugar a uma fase mais explosiva do capitalismo. A “fase superior do capitalismo” (como descreveu Lenin) ganha um salto com a virada do século XX. Essa fase, de predominância do capital financeiro, dos grandes monopólios internacionais, da espoliação entre países e da ameaça e concretização da guerra mundial era uma fase que acelerava a luta de classes, atingindo o cume em alguns momentos e abrindo a possibilidade de revoluções, o que exigia uma “nova dialética” sobre o lugar do subjetivo nos acontecimentos históricos e o papel da política e de um partido revolucionários do ponto de vista dos trabalhadores.

Uma das expressões mais agudas da compreensão e tradução para o marxismo dessa nova época foi o pensamento (e a prática política) de Leon Trotsky, que se formou, militou e refletiu toda a vida nos acontecimentos agudos da época imperialista. De um modo geral, podemos dizer que seu pensamento é proveniente (resultado ou expressão cada vez mais consciente) da maior alteração na estrutura econômica do capital, a época imperialista.

Nesse sentido, o imperativo da época é, conforme lemos em muitos momentos na reflexão política de Trotsky, que o “fator subjetivo” ganha lugar mais decisivo na história, na medida em que os combates são impostos num mar convulsivo de situações revolucionárias, onde o destino de meses, anos e mesmo de toda uma geração pode parar nas mãos de direções inexperientes e vacilantes. A época imperialista é a época da política por excelência.

Essa consequência objetiva da mudança de época exigiu dos revolucionários, e tendo sua expressão mais aguda em Trotsky, que o fator subjetivo fosse colocado em relevo, e foi necessário que sua dialética expressasse essa ênfase particular (o que fez que alguns o descrevessem como o “mais dialético dos marxistas”).

Justamente por isso o pensamento de Trotsky mantém enorme vigor e atualidade quando se trata da reflexão sobre a política revolucionária no momento atual. A peça da história, depois de alguns anos de paralisia e passivização, voltou a arder com a chama da crise econômica e o protagonismo cada vez maior da juventude e dos trabalhadores. Novas experiências políticas da esquerda entraram em cena e o debate de estratégias tornou-se cada vez mais importante.

A realidade do capitalismo atual em crise recoloca os traços fundamentais de sua fase imperialista e exige uma revolução social dos trabalhadores. Eis aí que o pensamento de Trotsky deve ser parte fundamental do roteiro da revolução e da renovação necessária nesse momento: “Sob certos aspectos, a arte é política e a política é arte, porque ambas realizam uma obra de criação”, dizia. E a arte da política revolucionária é de não ceder aos “atalhos” propostos pelos que já se embebedaram do reformismo, mas ter a criatividade para fazer as ideias revolucionárias se tornarem força material e permitirem botar abaixo o sistema capitalista é a marca fundamental do regaste que devemos fazer para desenvolver um vigoroso trotskismo no século XXI.




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