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Leilane Assunção, icônica professora trans do departamento de História da UFRN, veio a óbito nesta madrugada, após um mês internada em um quadro de anorexia e pneumonia, no segundo semestre após perder sua bolsa de Pós-doutorado em Ciências Sociais e não ser recontratada como docente.

terça-feira 13 de novembro de 2018 | Edição do dia

"Quando a gente é trans, a militância não é uma opção. É um imperativo ético sobre as nossas vidas: ou a gente luta ou a gente morre. E mesmo lutando a gente morre" disse Leilane em 2017 ao Lide Jornal. Leilane Assunção foi a primeira mulher trans professora em uma universidade pública no Brasil, foi, é e será inspiração para gerações de pessoas trans e LGB e se recusava a comemorar sua conquista cegamente, seguia denunciando a precária e marginalizada situação de vida das pessoas trans, cuja expectativa de vida não passa dos 27 anos no Brasil.

Sua trajetória acadêmica foi expressão de sua paixão pelo conhecimento e disposição de enfrentamento, esteve à frente de dezenas de atividades de temática LGBT e de feminismo e antiproibicionismo. Assim como foi expressão de como a estrutura de poder universitária, os governos e patrões farão de tudo para não permitir que as pessoas trans estejam nas universidades. O país do transfeminicídio também é o país no qual o governo de um golpe institucional congelou os gastos em saúde e educação por 20 anos, afetando bolsas, empregos e que lhe retiraram também seu sustento.

Ao passo que sofreu uma série de perseguições na própria UFRN, desde o uso de banheiros até a recusa de entrega de chaves de salas, por transfobia que fazia com que não a reconhecessem como professora da instituição, foi fonte de inspiração e referência e não descansou em colocar a importância da luta.

Durante sua internação seguiu sofrendo os impactos de ter sua identidade de gênero negada e seus amigos tiveram de organizar uma vaquinha para arrecadar fundos.

Com a eleição de Jair Bolsonaro a partir de um discurso abertamente racista e transfóbico, a nossa raiva e indignação precisa se fortalecer neste triste momento. Nos solidarizamos com a família, os amigos, alunos e comunidade LGBT potiguar que hoje chora esta enorme perda. E entendemos que sua depressão e as doenças que lhe tiraram a vida são decorrentes desse sistema miserável capitalista que constrói uma longa cadeia de violências e punições para quem desafia a cisnormatividade. Carregaremos a sua coragem e força conosco assim como a melhor forma de vingar está e tantas outras vidas roubadas pelo capitalismo é nós organizarmos, a altura que a realidade exige, e abrir espaço para uma verdadeira livre construção de identidade de gênero e de livre expressão de nossa sexualidade.

Transformemos esta dor arrebatadora em luta.




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