×

PRISÃO DE TEMER | Lava Jato e casta política: dois métodos para uma mesma política de ataque aos trabalhadores

A prisão de Temer jogou mais gasolina na chama dos conflitos entre as instituições. Os embates entre a Lava Jato e o STF, dentro do Ministério Público, ganharam nova vida depois de que a Lava Jato respondeu ao destrato de Rodrigo Maia a Sérgio Moro com a prisão de Temer e de nada menos que o cunhado do presidente da Câmara, o ex-ministro Moreira Franco. Está anunciada uma tendência a escalonamento deste conflito que pode aumentar a instabilidade do governo e do centro de gravidade de Bolsonaro, a reforma da Previdência.

sexta-feira 22 de março de 2019 | Edição do dia

A Lava Jato escalou seu juiz mais famoso depois que Moro assumiu um ministério para esta decisão. Coube a Marcelo Bretas do Rio de Janeiro, admirador e bajulador nada secreto de Moro. Mirando no odiado ex-presidente Temer, a Lava Jato busca recuperar-se das importantes derrota sofridas nas últimas semanas, e aposta suas fichas em recompor sua popularidade perante à opinião pública nos novos embates.

Trata-se de uma aposta arriscada, pois a Lava Jato está enfraquecida diante de alas do STF, da mídia, e do Congresso como nunca esteve e espera-se renovada reação do Congresso e possivelmente do STF. Mídias aliadas a Lava Jato como O Antagonista noticiam um encontro de Maia e Gilmar Mendes. Tendo ele ocorrido de fato ou não, é de se esperar uma articulação na resposta de Maia a Moro um dia depois de trata-lo como “funcionário de Bolsonaro”.

Com a prisão de hoje queimam-se pontes entre Moro e Maia, e possivelmente da Lava Jato com parte do Congresso, contaminando o governo Bolsonaro e a reforma da previdência.

A Lava Jato é aumentar a subordinação ao imperialismo norte-americano, generalizar medidas repressivas e autoritárias e mudar completamente o regime político – com direito a comandar bilhões extorquidos das Petrobras – choca-se com uma ala do regime político que não é menos entreguista que estes supostos heróis da toga. Mas esta outra ala busca preservar algumas instituições e figuras do “velho regime” nesta reconfiguração de um regime em mutação. Entre as duas alas não importa o combate a corrupção, ou os direitos constitucionais: estes direitos foram pisoteados por ambas quando marchavam juntas e abraçadas durante o primeiro momento do golpe institucional, o impeachment, na ilegal prisão de Lula e vários outros episódios subsequentes.

Bolsonaro e Moro de um lado e Maia e Gilmar Mendes do outro são algumas das caras mais visíveis deste conflito. Bolsonaro tenta aproveitar o fato para jogar a culpa da prisão de Temer no presidencialismo de coalizão, e assim anuncia seu aval a esta escalada do que viemos chamando de “presidencialismo de coerção”, mas isso ocorre quando mais Bolsonaro precisa de composição com o Congresso para a reforma da previdência.

Ao contrário de análises de Bolsonaro e de parte da mídia a Bovespa não reagiu à prisão com otimismo. Pelo contrário, depois de angariar uma perda de 1,55% ontem ao desanimar-se com uma reforma da previdência militar cheia de privilégios que dificultará o discurso de “todos estão pagando”, os investidores hoje puniram as ações com nova queda de 1,34%. Começam a preocupar-se com o que pode azedar-se no andamento da reforma da previdência em meio a estes embates entre os “fatores de poder” que atuam para moderar Bolsonaro e a Lava Jato e esta operação.

É essencial entender que estamos diante de duas políticas para descarregar a crise sobre as costas dos trabalhadores: uma, que utiliza os métodos da Lava Jato para disciplinar o Congresso e garantir os votos à reforma da previdência (Moro, Bretas e procuradores de Curitiba); outra, que quer garantir esses votos com os velhos métodos do "toma lá dá cá" (por agora - é que ver até que ponto resistem e como se localizam os militares - parecem reunir-se a maioria do Congresso, especialmente na Câmara com Rodrigo Mais, e a maioria do STF). Por isso, hoje tanto as análises da Folha como do Estadão dizem que é um triunfo tático imediato para Bolsonaro que vinha caindo nas pesquisas, mas que lança nuvens sobre a possibilidade de aprovar a nefasta reforma da previdência (cuja tramitação é a principal arma que o "velho regime" tem nas mãos para extorquir favores).

Ambas as alas, mesmo com suas diferenças sobre a Lava Jato são favoráveis a mais autoritarismo judiciário e juntas atuaram para dar poder para a Lava Jato ser um dos principais atores do golpe institucional.

Ou seja, trata-se de dois métodos distintos para seguir com um mesmo objetivo do golpismo em derrotar o movimento de massas. Não há lados aqui a defender. A disputa entre o "presidencialismo de coalizão", de um lado, e o "presidencialismo de coerção", de outro, levam ao mesmo resultado: aplicação de ataques ultraneoliberais contra as massas e recrudescimento do autoritarismo judiciário.

Frente a um capitalismo em decomposição em vários países do mundo, a casta judiciária avança baseada em fatos de corrupção reais para impor governos mais autoritários onde o judiciário reforça o poder do Executivo (que são os poderes mais opacos), e apoiados nas embaixadas imperialistas buscam liquidar até os restos da representação popular das degradadas democracias burguesas para melhor derrotar as massas e aumentar a exploração e a opressão capitalista-imperialista.

Aplaudir a atuação do autoritarismo judiciário (como fazem certas figuras do PT e do PSOL), em nome do suposto "combate à corrupção" (que as instituições capitalistas nunca levarão adiante) seria subordinar as massas a um dos métodos burgueses para descarregar a crise sobre os trabalhadores. Sem defender em nenhum milímetro Temer e sua gangue de golpistas, é necessário repudiar o autoritarismo judiciário, que tem protagonismo com a Lava Jato.

Para combater a roubalheira que atinge todos os partidos e instituições, só com juízes e promotores eleitoral pelo voto universal e jurados populares para os casos de corrupção. Chega desta casta judiciária milionária que só trouxe autoritarismo, entrega dos recursos nacionais e ataques aos trabalhadores e ao povo pobre.

As centrais sindicais, como a CUT e a CTB, devem cessar sua paralisia monstruosa e organizar um plano de luta sério contra a reforma da previdência: os professores mostram o caminho! A batalha contra a reforma da previdência, por justiça a Marielle pode se ligar a um programa que questione de fato os privilégios dos capitalistas: que todo político e juiz seja eleito e revogável, e recebam o mesmo salário médio de uma professora (que deve ser o estipulado pelo DIEESE, R$4000). Para acabar com a farra de empresários e políticos corruptos, que atinge todos os partidos dominantes, todos os julgamentos por corrupção devem ser realizados por júris populares, abolindo os tribunais superiores.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias