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LANÇAMENTO "MULHERES NEGRAS E MARXISMO" | Lançamento de "Mulheres Negras e Marxismo" reuniu centenas de pessoas para inspirar a luta

O lançamento do livro "Mulheres Negras e Marxismo", que ocorreu na sexta (26), pelo YouTube do Esquerda Diário, teve interlocução das organizadoras Letícia Parks, Odete Assis e Carolina Cacau, contando con centenas online durante a live, com presenças valiosas em debate.

sábado 27 de março de 2021 | Edição do dia

A discussão reuniu presenças valiosas com as palavras de Mirtes Renata, incansável na luta por Justiça para Miguel e estudante de Direito, de Renata Gonçalves, professora da Unifesp e referência no debate sobre a precarização do trabalho, de Andrea D’Atri, fundadora do grupo internacional Pão e Rosas na Argentina, e de Diana Assunção, fundadora do Pão e Rosas no Brasil e dirigente do MRT.

Dividido em quatro partes, o livro aborda distintos aspectos do combate das mulheres negras: “Mulheres negras na linha de frente” conta a história de mulheres negras a frente de processos de luta de classes; “Mulheres negras e o mundo do trabalho” conta com quatro textos que abordam como se dá a questão da exploração capitalista sobre as negras no Brasil; “Mulheres negras e estratégia socialista” aprofunda debates sobre a perspectiva marxista e revolucionária para encarar a barbárie capitalista que se impõe sobre os trabalhadores e, com ainda mais força, sobre sua porção feminina e negra; e a quarta parte apresenta pequenas biografias de grandes mulheres, lutadoras negras.

Carolina Cacau mediou o debate e começou apresentando as Edições Iskra, uma editora militante, dedicada a divulgar o marxismo e o pensamento revolucionário. "Esse livro é uma ferramenta de combate para as mulheres negras e trabalhadores em meio à pandemia", acrescentou Cacau.

Odete Assis deu início às intervenções levantando a questão de que, no Brasil de Bolsonaro e que o regime político herda o golpe institucional de 2016, um feminismo socialista que ambiciona a emancipação das mulheres negras precisa ser independente de todo esse regime que descarrega a crise capitalista nas costas de trabalhadores, mulheres, negros e LGBTs, para salvar os lucros dos empresários.

Veja também: Odete: "Ser feminista socialista no Brasil é combater Bolsonaro e todo o regime do golpe"

E foi de muita honra ouvir, logo após Odete Assis, Mirtes Renata, que interveio sobre sua situação como empregada doméstica, a morte de seu filho Miguel pelo descaso da patroa Sari Corte Real, e a necessidade de reconhecer que existe racismo no Brasil para que possamos combatê-lo, contra o Judiciário. Durante toda sua intervenção, mas também do início ao fim da live, as espectadoras e espectadores nos comentários gritavam em apoio à Mirtes e sua luta por Justiça por Miguel.

"Pra mim é uma satisfação muito grande estar participando dessa live de lançamento, desse livro que conta um pouco da minha história e situação, tem uma pequena homenagem a Miguel também. Agradecer a todos que estão participando", Mirtes Renata

Veja também: “Temos um judiciário racista, mas a gente não pode baixar a cabeça!”, Mirtes Renata

Renata Gonçalves interviu na sequência, colocando que, diante de tantas mortes pela covid e a irracionalidade do governo e do capitalismo, fazer a discussão do livro era uma marca da resistência. "Esse livro contém reflexões que preenchem várias lacunas da história do feminismo, mas também da história da teoria marxista". A professora ressaltou que as lacunas, nos marcos das ondas de luta do feminismo, são preenchidas pelo livro no que tange o protagonismo das mulheres negras na linha de frente das revoltas do povo negro contra a escravidão, organizadas nas periferias contra a ditadura militar.

"O livro preenche essas lacunas e coloca em evidência a importância da imbricação das lutas frente aos sistemas interligados de opressões e de exploração", Renata Gonçalves

Logo após, Diana Assunção interveio, dizendo que "no livro, a gente busca, a gente tenta deixar claro que a gente se referencia nas principais e nos principais dirigentes revolucionários da história do socialismo internacional. Mas é preciso remarcar que, pra nós, pro marxismo revolucionário da nossa época, é o trotskismo. Porque foi ele que conseguiu condensar a teoria do Marx com as lições mais profundas das experiências operárias do século XX, como a Revolução Russa, permitindo um marxismo com predominância estratégica".

"A elaboração por parte do Trótski da Teoria da Revolução Permanente é o ápice desse processo. Nos apresenta o entrelaçamento mais acabado entre a dinâmica internacional da revolução até a tomada do poder e o pós-tomada do poder, como uma espécie de revolução dentro da revolução pra exterminar com todos os elementos viventes do capitalismo, como o machismo e o racismo", Diana Assunção

Andrea D’Atri resgatou como a classe explorada cada vez mais feminina e negra, tem em suas mãos o poder de estabelecer aliança com outros setores oprimidos pelo capital. "Por isso dizemos que a centralidade que tem a classe para o marxismo deriva da análise da própria sociedade em que vivemos, do modo de produção capitalista se torna possível que a classe trabalhadora conquiste o poder, somente se antes conquiste a hegemonia entre os setores oprimidos".

Veja mais: Andrea D’Atri fundadora do Pany y Rosas, no lançamento do Mulheres Negras e Marxismo

E por fim, de maneira sensível, Letícia Parks foi a última a intervir e tocou a todos com uma visão sobre a escritora, de onde era antigamente a Favela do Canindé em São Paulo, Carolina Maria de Jesus, ao ler um poema seu que também está no livro "Mulheres Negras e Marxismo".

Letícia Parks compartilhou com todos os presentes: "essa classe trabalhadora cheia de artistas e poetas tem um poder enorme, junto da força da nossa voz, que é esse poder de mover o mundo. Mas infelizmente há outros feminismos que defendem que a vitória das mulheres burguesas, patroas, banqueiras, dessas que nos exploram, é nossa vitória. Defendem que quando uma de nós chega lá no topo do capitalismo e se torna nossa opressora, que todas deveríamos comemorar, como se a vitória fosse ’vencer’ no capitalismo, e como se nós, que mantemos o mundo funcionando fôssemos perdedoras. Mas não há perdedores na nossa classe, e nossas exploradoras não são nossas irmãs de luta".

"Quantos de nós, trabalhadores e trabalhadoras, negras e negros, somos também poetas? Quantos são artistas, músicos? Quantos de nós temos tanto pra dizer em arte, em grito, sobre a vida dura da exploração que vivemos todos os dias nas fábricas e locais de trabalho?", Letícia Parks

Para todas, todos e todes que estiveram presentes (e para quem quiser reassistir ou quem não assistiu, confira aqui), o lançamento de "Mulheres Negras e Marxismo" foi uma inspiração e é uma para os combates futuros e que tentam nos impedir, desde as mortes por coronavírus, de responsabilidade de Bolsonaro, Mourão, militares, governadores e todos os golpistas, as reformas, até a perseguição que se utilizam do que ainda existe de herança da ditadura militar, como a Lei de Segurança Nacional. Uma arma para nos levantar para destruir toda a cadeia de reprodução do capitalismo.

Confira também: Vem aí curso online "Mulheres Negras e Marxismo"




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