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#LaPrecarizacionMata: juventude precarizada inicia sua jornada de luta na Argentina hoje

Trabalhadores de aplicativos (Rappi, Glovo, Pedidos Ya etc.), call centers, comércio, professores precarizados realizam atos por toda Argentina por EPIs e contra as demissões, as suspensões, rebaixamento salarial, por Renda Familiar de Emergência para todos que necessitem e salários de quarentena de 30 mil pesos (cerca de 2500 reais).

sexta-feira 29 de maio de 2020 | Edição do dia

Centenas de jovens em diferentes cidades na Argentina participam de mobilizações hoje, com distanciamento social e todos os cuidados necessários, para exigir um basta à absurda situação em que se encontram. São trabalhadores informais, terceirizados ou que foram despedidos ou tiveram contratos suspensos em meio à pandemia. Muitos ficam de fora do auxílio da IFE (Renda Básica Familiar), estão com salários rebaixados ou sem nenhuma renda, em uma situação de fome na quarentena.
Estão realizando marchas até o Ministério Público do Trabalho com uma carta com todas as demandas discutidas democraticamente em assembleias virtuais, como a exigência ao auxílio da Renda Familiar de Emergência para todos que necessitem e melhores condições de prevenção. Se organizam desde a Rede de Precarizados argentina, uma ferramenta criada por jovens trabalhadores precarizados para possibilitar sua auto-organização para combater os ataques patronais e do governo, as demissões e possibilitar sua luta unificada, como relatam em crônica.

“Não somos bicho, somos pessoas”

Também protestam contra o descaso das empresas pela morte de jovens entregadores de aplicativo, como é o caso de Franco Almada. Já são 4 mortos por atropelamentos desde o início da quarentena. No ato de Buenos Aires desta manhã, Bárbara, irmã de Franco Almada, afirma que estão indo exigir do Ministério do Trabalho que se posicione sobre o fato, por justiça para todos os mortos, como seu irmão. Ela ressalta que hoje não há nada que ampare os informais e essenciais, e por isso estão lá se mobilizando Denuncia também que o IFE não está disponível não só para muitos informais, mas também para trabalhadores registrados, mesmo que muitos estejam com salários suspensos ou rebaixados. “Não somos bicho, somos pessoas”, por isso chama todos a somarem a Rede de Precarizados, organização impulsionada pelo Partido dos Trabalhadores Socialistas junto com independentes. Além de protestar contra as mortes, os motoristas de app pedem que as empresas arquem com quaisquer danos as bicicletas, motos e instrumentos de trabalho dos entregadores, e também dêem condições de prevenção.

“Queremos resposta del estado”

Um trabalhador de um restaurante denuncia no ato de La Plata que foi demitido, junto com outros 25 funcionários, no meio da quarentena, por meio de whats app. “Queremos resposta del estado”, ele afirma, afinal as demissões estão supostamente proibidas na Argentina, entretanto mesmo assim as patronais seguem demitindo ilegalmente, e o Ministério do Trabalho não faz nada, portanto vão cobrar deste órgão que ao menos cumpra a lei.

“Não se vive com 10 mil pesos”

Esse é o relato de Evelin, uma trabalhadora doméstica, que desde o início da quarentena não consegue trabalhar e está vivendo com o auxílio do IFE. Muitos inclusive sequer conseguem o auxílio do IFE. Apenas 8 milhões foram beneficiados.
E mesmo os que foram, este representa apenas ¼ da renda básica necessária para que seja possível sustentar-se. Por isso exigem que haja um salário de quarentena de 30 mil pesos (cerca de 2500 reais), pago através de impostos sobre as grandes fortunas. “Muchos no tenemos sindicatos”, ela afirma, pois grande maioria deste setor, composto principalmente por mulheres, é informal e fica de fora dos sindicatos, por isso a importância de se organizarem junto a outras categorias desde La Red.

“O sindicato defende a reincorporação apenas de alguns”

No ato de Tucumán, diversos trabalhadores denunciam os rebaixamentos de salários no setor gastronômico, e o sindicato não se move para defendê-los. Nos callcenters, uma operadora de telemarketing afirma que “o sindicato defende a reincorporação apenas de alguns”, e que está buscando se mobilizar junto à rede para construir a luta dos que esses sindicatos têm deixado de lado.

“Fizemos uma campanha enorme, com apoio de todos os lados, e conseguimos a reincorporação”

Luciano Corradi, delegado da comissão interna de trabalhadores das Aerolineas Argentinas, conta que os trabalhadores, além de participarem das assembleias virtuais do La Red, têm se organizado nas comissões internas e comissões de saúde e segurança para lutar contra as péssimas condições de trabalho, as demissões e o descaso da patronal com os casos de contaminação. A partir disso, conseguiram impor o direito a quarentena para 120 trabalhadores que tiveram contato com os casos positivos de covid-19 na empresa. Além disso, tiveram uma conquista na luta pela reincorporação dos demitidos. Afirma que na empresa GPS, “fizemos uma campanha enorme, com apoio de grupos de direitos humanos, delegados sindicais e organizações de todos os lados, e conseguimos a reincorporação”.

Um exemplo para a juventude precarizada de todos os países

Como abordamos no último podcast Peão 4.0, a precarização do trabalho é um cenário internacional, atingindo majoritariamente os jovens, mas tem se expandido para toda a classe trabalhadora em meio a essa crise econômica e sanitária. Por isso a organização desde a base que os precarizados da Argentina estão proporcionando é um exemplo para todos os que se revoltam hoje com o descaso dos governos e patrões com a crise sanitária, com a repressão policial racista como com o caso George Floyd e com os ataques aos empregos e direitos. A unidade dos trabalhadores é essencial, como afirmaem entrevista ao Peão 4.0 a Selma, operadora de telemarketing na Argentina:

“Os sindicatos representam somente 25% dos trabalhadores na Argentina, deixando de fora milhões de precarizados e desempregados. Insistem na divisão entre aqueles que têm contratos estáveis e os que não têm, entre homens e mulheres. Dividem entre trabalhadores imigrantes e nativos. Esta fragmentação dos trabalhadores é usada para evitar que ocorra a luta de classes e a luta das ruas enquanto vai se aprofundando cada vez mais a crise econômica e sanitária. As estatísticas dizem que estamos caminhando para uma situação de mais desemprego e pobreza na Argentina do que em 2001, última grande crise do país. Por isso é fundamental, desde agora, romper essa divisão que nos impõem. Nós fazemos isso apoiando as distintas lutas em curso, como por exemplo os trabalhadores de aplicativos que foram se solidarizar com os operários da área da alimentação que estão lutando contra as suspensões de contrato. Nossas mobilizações são pelas reivindicações de todos os trabalhadores ocupados ou desempregados. Somente assim poderá superar as conduções burocráticas que ocorrem nos sindicatos e poder lutar para recuperá-los para que sejam uma verdadeira ferramenta dos trabalhadores. É de extrema urgência esta luta aqui e em todos os lugares. Se trata de nos prepararmos para maiores ataques dos empresários e dos governos em todo o mundo. Se as e os trabalhadores se organizam, há mais força, mas não só isso, desde o Partido dos Trabalhadores Socialistas, o PTS, também lutamos para que os trabalhadores tomem em suas mãos um conjunto de medidas que evitem uma catástrofe, como deixar de pagar a fraudulenta dívida externa, cobrar impostos às grandes fortunas, defender um banco estatal único para que pare com a fuga de capitais e controlar o que se compra e se vende no país, para ter todos os recursos necessários e disponíveis nas mãos dos trabalhadores e assim poder enfrentar as consequências da pandemia. Ou seja, estas lutas que começaram agora são fundamentais para evitar que nós paguemos os custos dessa crise.”

Confira a entrevista na íntegra pelos links:
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