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JORNADAS DE JUNHO | Junho em Salvador, aos olhos de uma secundarista

Fim de semestre, últimos dias para o recesso do colégio. Em Salvador, o recém prefeito, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM) não aumentaria a tarifa naquele ano, mas isso não impediria a juventude de tomar a capital baiana.

segunda-feira 22 de junho de 2015 | 00:15

Independente, do ataque ser diretamente a nós, fomos para rua por uma unidade, por uma solidariedade aos setores em luta que estavam sendo intensamente massacrados pela polícia, saímos com sangue nos olhos para lutar contra os absurdos postos.

Lembro de estar em casa no dia 13, no dia 15 e ser bombardeada com as imagens e notícias do absurdo que estava posto em São Paulo. Logo, nos dias seguintes, no colégio não existia outro assunto, todos questionavam o que estava ocorrendo e como conseguiríamos em uma cidade sem aumento nos colocar também nessa luta. Professores também não conseguiram dar suas aulas sem debater um pouco o que estava ocorrendo, todos queriam colocar-se em luta também. Não poderíamos ignorar o que estava ocorrendo.

Eis que, o MPL de salvador convoca junto com diversas capitais e cidades no país um ato para o dia 17, lembro de sair do colégio em marcha com mais alguns estudantes todos juntos querendo colocar-se em luta e defender aqueles que em São Paulo, e no Rio Grande do Sul haviam sido totalmente reprimidos por uma luta mais do que justa. Marchamos em torno do Iguatemi, uma multidão que nunca tínhamos visto nas ruas, gritando pela passagem, gritando pelos seus direitos, gritando contra todas essas perversidades postas para nós. Era algo emocionante de se ver, para muitos sua primeira vez nas ruas e aquela força ecoava forte, fazendo com muitos despertassem um novo olhar para o mundo. Naquele dia marchamos tranquilos, não nos impediram, e para finalizar aquele dia fomos para casa sem pagar a passagem com um grande catracasso, em que todos pularam as catracas com um belo recado para os governos: O TRANSPORTE É UM SERVICO PÚBLICO QUE NÃO DEVE SER PAGO.

Todas as informações iam chegando pela internet sobre as diversas cidades, sobre como o rio que havia ocupado a Alerj, Brasília que havia ocupado o congresso, e tudo parecia tão incrível. A vontade de unir-se, de estar lá ia apenas aumentando, o que ocorria nas outras capitais ainda estavam ocorrendo e acompanhávamos atentos nas televisões, nas transmissões da mídia ninja ou outras mídias que surgiam para informar os jovens e os que ali não puderam colocar-se. Cada imagem que víamos nos dava mais gás e mais vontade de estar ali com cada jovem daquele seja na alerj, seja no congresso e muitos outros locais que estavam em errupcão.

Com a sede que estávamos, o próximo ato já estava marcado. Era dia de jogo na fonte nova Uruguai x Nigéria, e não poderíamos deixar passar em branco, todo um investimento em uma mega estrutura enquanto o trabalhador tem que tirar boa parte do salário para pagar a passagem para um serviço que deveria ser público. Isso não estava certo, em função disso, marcamos na praça do Campo Grande para sairmos em denúncia a toda essa farsa, e tentarmos fazer algum barulho perto do tão precioso estádio. Muitos setores ficaram intimidados com o percurso e propuseram sair do Iguatemi como no dia 17, sendo que grande parte resolvera ficar e logo partirmos todos em conjunto, no meio do caminho o ato repartiu-se parte resolveu seguir pela avenida sete e outra parte pelos barris.

Independente dos caminhos tomados as recepções foram as mesmas tanto em salvador, quanto em diversas cidades. A polícia não nos deixaria chegar próximo ao estádio e sim nos receberia com bombas, com gás, com balas. A zona de guerra havia instalado-se em salvador, nunca tínhamos visto isto, o que só nos deixou com mais vontade de lutar. Policiais indo para cima de tudo e de todos sem piedade alguma. Horas a procura de onde ir e a preocupação de saber como estavam todos, o que havia ocorrido, mas ao mesmo tempo a sensação de saber como é estar na rua lutando pelos seus direitos, que não é fácil e a recepção preparada é essa, foi crucial para entendermos como as coisas acontecem.

Com as cidades voltando atrás nas tarifas, acabou que ocorreram mais alguns atos com uma violência extrema da PM-BA, mas o movimento foi perdendo o rumo. Não pude acompanhar de perto os outros dias de luta da juventude baiana, mas voltando a salvador e ao colégio que havíamos passado por algo crucial e de grande importância era muito claro, todos comentavam, as aulas tiveram um giro de conteúdo para podermos debater o que havíamos experimentado. Logo, o que aprendi de junho e que devo levar é que a juventude tem força e atenção e deve se levantar, pois somente assim, e junto aos trabalhadores, conseguiremos nos emancipar desse sistema podre ao qual estamos submetidos.




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