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CINEMA | Julieta, um profundo filme de Almodóvar

sexta-feira 22 de julho de 2016 | Edição do dia

Quando Julieta está prestes a abandonar Madrid para ir viver em Portugal, encontra por acaso com Bea, uma antiga amiga de sua filha Antía, da qual não tem notícias a muito tempo. Almodóvar escreve e dirige esse filme protagonizado por Emma Suarez e Adriana Ugarte, que se metem na pele da mesma personagem, Julieta, ao longo da sua vida, entre os anos 1985 e 2015.

O filme é uma adaptação dos relatos de “Destino”, “Pronto” e “Silêncio”, da prêmio Nobel de literatura, a canadense Alice Munro. O filme marca a 20º produção de Almodóvar.

Segundo o próprio Almodóvar, a produção deveria se chamar em princípio “Silencio”. Teria sido um grande acerto. “Se chama Silencio porque silêncio é o principal elemento que impulsiona as piores coisas que sucedem a protagonista feminina” disse Almodóvar, afirmando que o filme seria um retorno ao seu “cinema de mulheres”. Os silêncios do filme, com enquadramentos fechados misturados com belas paisagens, é uma marca registrada do cineasta espanhol, que te deixa com a pele gelada pensando “em estaria pensando se fosse eu a protagonista? ”
“Quando começamos a pré-produção chegou ao meu conhecimento que Martin Scorcese iria rodar um filme com o mesmo título, não dei muita importância porque pensava impor em todos os mercados o título em espanhol que soa bastante distinto de Silence. Scorcese e eu terminamos nossas respectivas filmagens na mesma época e já pudemos saber que coincidiriam a distribuição e lançamentos pelo mundo todo. Além disso, será publicada de novo o romance em que se baseia o filme de Scorcese, Silencio, de Shusaku Endô. A novela conta as peripécias de uns missionários jesuítas no Japão feudal do século XVII. Considero silêncios demais para a mesma época e prefiro evitar equívocos futuros”, afirmou em um comunicado da produtora que dirige, El Deseo.

Antes de seu lançamento, Los Angeles Times, antecipou que o filme poderia ser um candidato ao Oscar de 2017. Não está enganado.

A profundidade de Almodóvar, um costume saudável

Bea lhe conta que viu Antía no lago Como, na Itália, e que ela tem 3 filho. Atordoada pela notícia, Julieta cancela sua viagem para Portugal e decide escrever sobre a filha, desde o dia em que conheceu seu pai durante uma viagem de trem. A partir desse encontro, o filme é um turbilhão de sensações que tem como base a sensibilidade extrema de sua mãe, que cai em um poço de depressão após perder seu marido, para que depois sua filha seja cooptada por uma seita religiosa. A culpa, o interesse de vários e o usufruto de poucos.

Culpas, coisas não ditas, superficialidades. Um conteúdo sutil que expressa diferentes sensibilidades, a partir da visão das mulheres. Um melodrama que vai direto às entranhas, que por momentos faz chorar, em outros rir. Julieta pode ser um, pode ser um momento na vida, pode ser uma conhecida ou uma amiga. Julieta pode ser a história de muitas. Momentos da vida, diferentes tensões. Com reviravoltas abruptas que mudam o eixo, em vários momentos.

É uma das suas obras mais profundas, mas sem a rebeldia de outros filmes provocadores como Tudo sobre Minha Mãe, Má Educação, A Pele que Habito, entre outros. Tampouco possui o humor característico de Almodóvar.
As paisagens, encantadoras.

Nestes tempos que vivemos, Julieta pode ser um cruel espelho.


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