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LAVA JATO | Janot e os dilemas da Lava Jato e dos rumos do golpe

O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, afirmou em entrevista concedida ao jornal Estadão que a Lava Jato revelou um "modo degenerado de fazer política", já que, segundo ele, políticos e empresários apostam na impunidade e no custo-benefício da corrupção para se manterem no poder.

Marcella CamposProfessora de SP, membra da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas

terça-feira 9 de agosto de 2016 | Edição do dia

Janot, o defensor da Lava Jato, criticou ainda a revisão da Lei de Abuso de Autoridade, que está sendo discutida na Câmara e impulsionada por figuras como Renan Calheiros, citado na investigação. Para Janot é necessário a revisão da lei, já que ela data de 1965, mas da forma como está sendo levada não trará sua atualização, mas sim meios de inibir e atravancar investigações de combate a corrupção, como a própria Lava Jato.

Ainda que se mantenha neste discurso do, como gosta de chamar, "republicanismo", nas entrelinhas Janot admitiu os limites da justiça no combate a corrupção. Culpando não a parcialidade clara com que a Lava Jato e a justiça atuam, mas sim a suposta natureza humana imperfeita, que tende à corrupção. Com uma visão filosófica que o “Homem é o lobo do Homem”, propõe-se a si mesmo e seus pares como o Leviatã a impedir que todos caiam na corrupção. Claro, que eles, imaculados cidadãos do judiciário estão à salvos dessa natureza humana intrinsecamente corruptível.

A grande inspiração de Janot, a operação "Mãos Limpas" na Itália, levou não ao fim da corrupção, como a história provou, implodiu o sistema de partidos existentes, mas apenas trocou de mãos os esquemas e acordos que giravam a roda da corrupção na Itália, ou seja, beneficiou um setor corrupto em detrimento de outro, e colocou o país nas mãos de um direitista como Berlusconi [para saber mais leia “Mãos Limpas: o exemplo para a Lava Jato não livrou a Itália da corrupção”. Algo muito semelhante ao objetivo do golpismo brasileiro, que "libertou" a Lava Jato como meio de aplicar o golpe contra o governo do PT, para dar forma a um governo tão corrupto quanto o anterior, mas mais funcional, já que poderia ir mais fundo nos ataques aos trabalhadores, favorecendo setores burgueses, sedentos por lucro em um momento de crise econômica.

Para além de Rodrigo Janot, os rumos da Lava Jato preocupam os políticos e alas golpistas do judiciário, já que se transformou em um grande dilema, afinal como não atingir os próprios golpistas, como o PMDB, do presidente interino Michel Temer, e o PSDB, grande entusiasta do golpe?

Com o possível êxito do processo do golpe se aproximando, a Lava Jato parece ter se tornado um problema que não sabem como resolver. Para onde a Lava Jato vai? Se por um lado, um setor pretende cavar mais funda a cova do petismo, como Gilmar Mendes que chegou a pedir a cassação do partido, e depois disse que não seria isso, tateando se poderia avançar em tamanho ataque ao direito de organização política, ainda que possa pagar um alto e arriscado custo, outros parecem começar a se incomodar com a hesitação do governo ilegítimo de Temer na hora de aplicar os ataques e ajustes desejados contra a população, o tom de vários porta-vozes do golpe na mídia como Merval Pereira e dos senadores do PSDB tem aumentado. Pressão para que Temer ataque ou movimentações para um golpe dentro do golpe?

A junção de uma ofensiva maior contra o PT e agora, como parece começar, contra o governo Temer pode se tornar combustível favorável ao PSDB, que surgiria desse processo como aquele que pode dar um novo governo ao Brasil, como vêm afirmando. Não à toa nesta semana o nome de Temer e seu ministro José Serra voltou a ser alvo da Lava Jato, ligados a Odebrecht, mostrando que a operação e o judiciário podem intervir de forma ainda mais precisa de quem beneficiar, Alckmin ou Marina, ou mero disfarce de imparcialidade para seguir em sua obra de atacar o PT e trocar um esquema de corrupção por outro?

A justiça brasileira vem atuando como árbitro dos jogos palacianos da política brasileira, escancarando que qualquer resposta para as crises política, econômica e de representatividade que vier daí, não será a que os trabalhadores querem, pois mantem os privilégios dos políticos, os ataques ao povo e a manutenção dos corruptos no poder.

O dilema dos golpistas sobre a Lava Jato, não é de forma alguma um dilema de como fazer com que a corrupção acabe, mas sim um dilema sobre como encontrar um agente da burguesia que possa trazer estabilidade ao país, para continuar dando vazão aos seus próprios interesses.




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