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Coronavírus | Itália: “Fazer a economia girar” na Lombardia está se mostrando um massacre

A epidemia de COVID-19 continua a se difundir a um ritmo incontrolável e a fazer vítimas, sobretudo na Lombardia, ao ponto de, apesar dos vários postos de terapia intensiva, o colapso do sistema de saúde ser iminente.

domingo 22 de março de 2020 | Edição do dia

A lei “Cura Itália” não alterou os riscos de contágio e eventual morte para centenas de milhares de trabalhadores, da indústria aos servidores de saúde, prometendo medidas e instrumentos de segurança que nunca conseguirão atender às necessidades dessas categorias.

Tal necessidade se mostra ainda mais verdadeira enquanto essas novas regras introduzidas são frequentemente transgredidas pelas empresas, o governo se recusa a requisitar as estruturas em posse privada e em converter sua produção industrial não vital para uma produção que visa a sobrevivência da população, de modo a garantir um acesso a ventiladores, máscaras, remédios e equipamento necessários aos servidores de saúde, trabalhadores em seus postos e à população em geral.

O número de contágios cresce exponencialmente nas províncias com alta concentração industrial e de cadeias de distribuição – Bréscia aparece em segundo, depois de Bérgamo – com a cidade de Milão sozinha respondendo por 1400 casos confirmados e seu interior compreendendo 3300 casos.

Na região de Bérgamo, onde nos últimos dias foram vistos veículos militares trasportando centenas de mortos para a cremação, a população continua a denunciar uma situação bem pior do que a narrativa midiática informa, com uma taxa de infecção e de mortes que excedem os números oficiais, no momento em 5000 infecções e 300 mortes só na última semana.

Da cidade se vêem apelos de todos os cidadãos e servidores para o recrutamento em massa de novos funcionários e criação de novas estruturas: até o diretor do departamento de medicina do centro Papa João XXIII – em plena emergência – se dirige ao público, nacional e internacional, para um suporte a fundos e ajuda concreta com materiais e médicos.

Enquanto tudo isso ocorre na área mais afetada da região, que é ao mesmo tempo um dos maiores centros industriais, se vê bem quais os interesses da confederação das indústrias (Confindustria) e seus representantes: cuidar dos lucros.

A associação cuida frequentemente de assegurar os investidores internacionais da impossibilidade de um “êxodo” das fábricas e de uma queda excessiva da produção em decorrência da epidemia, da qual, se a empresa escapou, está implodindo todo o resto da sociedade.

Além disso, o projeto da criação de um hospital de emergência na região de Fiera foi posto em pausa devido à falta de pessoal médico – o que os próprios médicos denunciam – e das instituições, não apenas da região de Lombardia, que vem propondo com insistência o uso do exército para “manutenção da ordem pública”, para na verdade restringir a liberdade de movimento, com exceção do trajeto para ir ao trabalho.

Enquanto isso, 25 bilhões de euros advindos de fundos estão sendo propostos como uma medida da União Europeia para o combate à crise, que todavia ainda se discute sobre sua alocação.

Até nesse nível os interesses financeiros prevalecerão sobre a emergência sanitária, dado que provavelmente o fundo de emergência será usado para criar linhas de crédito para os países afetados pelo vírus, permitindo que o Banco Central Europeu compre a dívida pública.

Em outras palavras, a UE, como instituição, está especulando sobre a pandemia, assegurando a melhorar as condições dos bancos mundiais para que eles possam evitar uma crise sem controle hoje e garantir lucro amanhã, ao custo da vida e dos meios de subsistência de milhões de pessoas. Essa “resposta” é a única possível para um neoliberalismo que chegou às suas conclusões mais extremas.

A UE, apesar de sua retórica de trabalhar em conjunto para combater a crise social e econômica, quer também que a Itália institua medidas de austeridade e restrições orçamentárias a mais para sair de uma crise que exige mudanças estruturais urgentes e radicais para enfrentar a pandemia.

Diante desse massacre, devido à incompatibilidade dos interesses das classes dominantes europeias e internacionais com os interesses da maioria da classe trabalhadora, é necessário que os trabalhadores assumam o controle da produção, orientando-a para suas necessidades, começando pela contenção do contágio.

Texto traduzido por Bernardo Lacastagneratte do original em italiano, publicado no La Voce Delle Lotte, integrante da Rede Internacional de Diários La Izquierda Diario.




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