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RACISMO | Israel: cidadãos de origem etíope se mobilizam contra o racismo sionista

quinta-feira 7 de maio de 2015 | 01:25

Tradução: Flávia Ferreira.

O Estado judeu contra os judeus? No último domingo, milhares de israelitas etíopes saíram às ruas de Tel Aviv para denunciar as políticas racistas do Estado de Israel, que discriminam premeditadamente esta minoria de pele negra, condenada a uma perspectiva de falta de futuro. A mobilização foi brutalmente reprimida sob o argumento de que os manifestantes não tinham autorização governamental, abrindo uma crise que questiona o caráter “democrático” do Estado judeu, o qual ostenta até os sionistas de cunho “progressista”.

Após bloquear o acesso à principal estrada de Tel Aviv, os etíopes marcharam até o centro da cidade e avançaram em direção ao edifício da Prefeitura, furiosos e lançando pedras. A polícia respondeu com granadas de gás de pimenta e gás lacrimogêneo, “táticas similares que se empregam com frequência na Cisjordânia para dispersar os protestos dos palestinos”, diziam os diários. A batalha campal deixou 56 policiais feridos e 43 manifestantes detidos, que ficaram na Praça Rabin enquanto caía a noite, num momento em que milhares de israelenses se mobilizavam solidarizando-se com as reivindicações dos etíopes.

Diante da comoção pública que se refletiu em toda a mídia nacional, o presidente de Israel, Reuven Rivlin assinalou que o movimento de protesto protagonizado pelos etíopes israelenses havia “revelado uma ferida aberta e sangrando no centro da sociedade israelense”, e chamava assim a acalmarem os ânimos: “não somos estranhos, somos irmãos e não devemos degenerar as coisas levando-as a um lugar que todos lamentamos”. No entanto, este suposto “defensor das minorias”, deriva do partido israelense Likud e desacreditou o movimento dos etíopes, diante do qual “não devemos permitir que um punhado de desordeiros violentos afoguem as vozes legítimas”.

A ação de rua não foi um raio em céu azul, mas sim uma continuidade de um protesto realizado uma semana antes no centro de Jerusalém, cuja origem foi a prisão e uma surra selvagem que foi dada por dois policiais da imigração em Damas Fekade, um soldado etíope israelense que passeava de bicicleta uniformizado na localidade de Holon. As imagens foram reproduzidas nas redes socais abrindo um escândalo político. O primeiro-ministro direitista Benjamin Netanyahu se viu obrigado a intervir pedindo desculpas ao soldado para aliviar a situação, abrindo uma investigação na polícia.

A agressão ao soldado etíope foi um catalisador de uma enxurrada de denúncias antes escondidas. Dezenas de jovens, que compõem a segunda geração de etíopes nascidos em Israel, denunciaram a brutalidade e a permanente perseguição policial de que são alvo. Apesar de que sua imigração massiva data entre os anos 1984 e 1991, na célebre Operação Moisés, a comunidade composta por 140 mil etíopes jamais foi integrada e é uma das mais estigmatizadas. Mais de 70% se concentram em 17 guetos em condições de superlotação. A maioria é pobre e com severas restrições ao emprego, à moradia, à educação e à saúde. As taxas de alcoolismo, violência familiar e quantidade de presos superam de longe a média (na prisão juvenil de Ofek, 40% dos presos são etíopes). No seio das instituições estatais foram propagados todo tipo de preconceitos humilhantes. Em meados das décadas de 1990, os hospitais públicos rechaçavam as doações de sangue dos etíopes, sugerindo que eram portadores de HIV. O rabinato estigmatiza aos etíopes questionando sua identidade judia, supostamente derivada do antigo Reino de Sabá.

Este movimento real começou a se gestar em 2012, quando os proprietários da cidade de Kiryat Malaji se opuseram a alugar ou venderem seus imóveis à minoria etíope. Shlomo Molla, um de seus dirigentes, chamou à desobediência civil e a não prestarem o serviço militar no Exército.

Cientes de que foi a última gota, todos os setores procuram manter a concórdia. A ironia é que ninguém menos que Netanyahu advertiu que haveria que se “lutar contra o racismo e a discriminação em todos os sentidos e em todas as plataformas”.

O racismo de Estado sionista finca raízes materiais na opressão nacional da minoria palestina, sobre a base de um exército com ocupação permanente, que constitui a principal instituição do regime colonial. No entanto, historicamente este mesmo Estado judeu segregou as massas judias de origem árabe (misrajis), separados das massas ashenazis brancos provenientes da Europa oriental, que integram a elite das classes dominantes e as classes e as classes médias liberais dos grandes centros urbanos. Em meados da década de 1950, a então ministra do Trabalho, Golda Meir, não poupava insultos contra dos judeus do Marrocos, os que considerava serem “brutos” e “ignorantes”, apesar de que foram seus músculos que construíram as bases da infraestrutura nacional de Israel. A estigmatização deu lugar a um setor de milhares de marroquinos, reconhecidos como os Panteras Negras, vinculados ao PC israelense e grupos antissionistas, que lutaram contra o regime, um resultado da radicalização política e social em meados da década de 1960.

A luta dos etíopes e as simpatias que estão despertando nos setores da sociedade israelense podem constituir-se num ponto de apoio para fortalecer o movimento nacional palestino e suas legítimas demandas de autodeterminação nacional.




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