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QUESTÃO NEGRA | Importante debate sobre a Questão Negra no II Congresso do MRT

O debate sobre vários aspectos da questão negra esteve muito presente no II Congresso do MRT, realizado nos dias 17,18 e 19 de março em São Paulo. O tema foi debatido não somente pelos vários delegados negros, mas pelo conjunto do plenário. Um dos aspectos debatidos foi o peso do mito da democracia racial no país e a necessidade de um combate revolucionário. Em outros artigos trataremos de expressar com mais profundidade as discussões, aqui vamos somente abordar de maneira geral o debate.

Jenifer TristanEstudante da UFABC

Marcello Pablito Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

sexta-feira 31 de março de 2017 | Edição do dia

Não há dúvida que o principal desafio no Brasil, em relação à Questão Negra, é o mito da democracia racial. O Brasil é o país mais negro fora do continente africano e, mesmo assim, por uma série de fatores relacionados ao passado escravagista no Brasil, aos desafios, para a burguesia, do período pós-abolição no começo do século passado e, ao mesmo tempo, ao peso social dos negros, a ideia de que não existe racismo no Brasil conseguiu se plasmar com força no país.

Uma das consequências mais nefastas do mito da democracia racial é ter instalado nas massas um sentimento de aversão à sua identidade como população negra. Isso faz com que o Brasil, onde pelo menos 53% da população é negra, somente 8% se auto-identifiquem como negros. Mas seria um erro entender o mito da democracia racial, ou a ideia de que não existe racismo no Brasil como algo imutável. Não é possível entender a contraditória noção de democracia racial sem levarmos em conta o profundo peso social dos negros no país. Essa força serviu como uma prensa para moldar a ideia de que o negro contribuiu para o desenvolvimento do país, ainda que esse “reconhecimento” seja feito em chave reacionária e racista, com influencia até hoje quando se exalta a capacidade do negro para dança e futebol, por exemplo. No capitalismo, a industrialização e a urbanização – a vida mais dinâmica das cidades onde, por exemplo, a polícia assassina sistematicamente a juventude negra –, contribuem para uma percepção mais profunda do racismo. As exigências da manutenção da ordem capitalista e da exploração mais intensa da mão de obra negra fazem com que a vida urbana “ressalte” a opressão racial expressa, entre outras maneiras, no fato dos negros ocuparem historicamente os piores postos de trabalho salários inferiores ao dos trabalhadores brancos até hoje.

O debate no Congresso ressaltou que junho de 2013 chacoalhou a democracia racial e, ligado às contradições que abalam estruturalmente a noção de democracia racial, aflorou seu questionamento, ainda que de maneira latente se expressando em que o aspecto racial seja um fenômeno instalado socialmente por todos os âmbitos da sociedade. Do ponto de vista da situação política, o 15M mostrou a disposição de luta da classe trabalhadora. E essa disposição precisa encontrar uma saída à altura e, para isso, é necessário lutar contra os limites impostos pela burocracia sindical. Debatemos, por exemplo, como é importante encarar a luta contra a burocracia sindical também desde uma perspectiva antirracista, pois ela divide a força da classe operária e impede que suas fileiras se fortaleçam. Como explicar a falta de luta séria das centrais sindicais contra a generalização da terceirização se não também pelo fato de naturalizarem que os negros devam ganhar menos, estarem nos piores postos de trabalho e terem menos direitos? A terceirização avançou estrondosamente durante os anos de governo do PT

Vários aspectos relacionados à questão negra vem ganhando espaço e é possível dizer que o questionamento à ideia de que não há racismo é um fenômeno social muito rico e complexo, que tem se expressado fundamentalmente através dos debates sobre identidade negra. Discutimos como é importante que os revolucionários busquem conectar a ânsia pela afirmação da identidade negra à uma posição de combate ao capitalismo e uma estratégia revolucionária e internacionalista. Também discutimos, entre outras questões, a importância da defesa das cotas raciais, a imediata efetivação dos terceirizados sem necessidade de concurso público e iguais direitos e salários entre homens e mulheres, negros e brancos.

Como parte dos combates que a esquerda deveria se dar, ter um claro perfil anti-imperialista, e isso passa pela defesa intransigente da retirada imediata das tropas do Haiti. Mas também é necessário defender com força que todos os imigrantes haitianos tenham plenos direitos civis e trabalhistas. Nossa luta é internacional!

No marco de um fenômeno internacional do movimento de mulheres, debatemos como a agrupação Pão e Rosas deve plasmar o combate ao racismo em suas intervenções, tanto nacional quanto internacionalmente.

Também discutimos um plano de elaborações sobre a questão racial, buscando encarar os desafios da luta contra a opressão racial desde uma perspectiva revolucionária e estratégica.

O racismo é um dos aspectos mais perversos do capitalismo. Os negros sentem a todo momento o que este sistema de miséria os reserva. Aos revolucionários cabe a tarefa de mostrar que os negros são os mais interessados na transformação revolucionária da sociedade. Para isso é necessária uma posição de independência de classe; é necessário utilizar os métodos da classe operária; é necessário aprender com a história e liberar toda a energia revolucionária do povo negro. Para isso é necessário a construção do partido mundial da revolução, a IV Internacional. O MRT, a Fração Trotskista - Quarta Internacional, dedica todas suas energias a isso.




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