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Importante conquista contra demissão ilegal de Andreia Pires pela JBS

Andreia Pires, cipeira da JBS, foi demitida ilegalmente em 2015 por perseguição politica. Depois de uma série de medidas de campanha de solidariedade a empresa foi condenada a pagar indenizações e reverter a demissão por justa causa.

segunda-feira 12 de agosto de 2019 | Edição do dia

A JBS é uma das maiores indústrias de alimentos do mundo, com mais de 300 unidades ao redor do globo, atuando em 22 países. Ela é conhecida por suas marcas como a Friboi e a Seara, com seus grandes investimentos em propaganda, como as de Tony Ramos dizendo “que confiança tem nome” e da Fátima Bernardes dizendo “a qualidade vai te surpreender”. Mas a JBS também é conhecida mundialmente por seus escândalos nas denúncias de venda de carne estragada, carne com papelão, por servir nas refeições de seus funcionários carne com larvas. Ela é bastante presente também durante as negociações nas campanhas eleitorais com suas fortunas doadas aos principais partidos da ordem. E, além de tudo, a JBS tem alguns slogans muito famosos que circulam nas redes sociais, na justiça do trabalho e na boca dos trabalhadores de “Campeã nacional em acidentes de trabalho”, “A Campeã Nacional em desrespeito aos direitos dos trabalhadores”.

Foi em 2015, em uma das unidades dessa empresa, em Osasco, que os trabalhadores, já revoltados com essas denúncias das refeições podres nos refeitórios e de descasos com os direitos trabalhistas, aderiram a um abaixo assinado contra o desconto das refeições servidas na planta. Estas passaram a ser descontadas da folha de pagamento sem que houvesse ao menos comunicado aos trabalhadores. Andreia Pires, que trabalhava na unidade organizou junto a companheiros da CIPA o documento que declarava o descontentamento com a cobrança das refeições, exigia a presença do Sindicato dos Frios - dirigido pelo PCO - para realização de assembleias para discutir a questão, que os terceirizados também não fossem cobrados pela refeição e a patronal tivesse algum diálogo com os trabalhadores para explicar o porquê dos descontos estarem acontecendo naquele momento já que nunca haviam sido feitos. Eles conseguiram cerca de 200 assinaturas, o que mostrava o grau de descontentamento dos trabalhadores. Poucas semanas depois Andreia foi demitida por justa causa, durante seu período de estabilidade da CIPA, sob a acusação de ter tido suspensões. O que aconteceu com Andreia foi um claro caso de perseguição sindical e política da patronal, com a intenção de frear o abaixo-assinado e colocar medo nos demais trabalhadores. Um recado para todos os trabalhadores que queiram dizer não a patronal.

Mas Andreia, junto de companheiros de diversas categorias do MRT, de estudantes da Juventude Faísca e do Esquerda Diário, decidimos que esse não seria esse o recado que a JBS iria deixar. Que se a JBS quer calar os trabalhadores que levantam a cabeça contra os absurdos que cometem, vão passar a ouvir a voz de Andreia e de todos nós muito mais alto do que já ouviram, exigindo sua imediata readmissão!

Logo após a demissão Andreia redigiu uma carta aos trabalhadores, denunciando sua demissão por perseguição as lutas que vinha travando a partir da CIPA:

“Todos que me conhecem nessa fábrica sabem que não fico quieta frente a tanta coisa errada que fazem, seja com o trabalhador ou com o alimento que produzimos. Essa semana estávamos passando um abaixo assinado para não cobrarem nossas refeições, quase 200 assinaram e eu estava ajudando. Por isso é que fui demitida, porque não querem aceitar nem o mínimo que podemos fazer para nos defender. Eles tiram dentista, encarecem o convenio, tiram várias coisas de benefícios e quem fala alguma coisa é mandado sem direitos?!
Fazem 3 anos que trabalho aqui, foram muitas noites de trabalho pesado junto com a equipe do terceiro turno. Assim como vários colegas, também tenho buraco de sabão corrosivo na mão, muitas vezes tive que correr pra torneira com os olhos ardendo, trinquei um dedo em acidente, arrastamos peso, esfregamos chão, parede, placas pesadas da formax, damos o sangue toda noite para essa fábrica ficar limpa e agora o que recebo em troca quando tento me defender?”

Impulsionamos uma campanha de apoio a Andreia através de sindicatos, como o SINTUSP, movimentos de mulheres como o Pão e Rosas e centros acadêmicos nas principais universidades do país, conseguindo também apoio também de entidades sindicais como a CSP-Colutas e movimentos sociais. Realizamos uma serie de panfletagens em frente a unidade da JBS em Osasco denunciando a demissão e mostrando que não vão calar os trabalhadores. Além de varias denuncias aqui pelo Esquerda Diário e entrevistas da Andreia em meios de comunicação da esquerda como o Viomundo.

Campanha em defesa de Andreia e contra o trabalho precário super explorado pela JBS

Diana Assunção, dirigente do MRT, em apoio a Andreia, demitida ilegalmente pela JBS

Virando a Mesa | Entrevista com trabalhadora demitida da JB

Luciana Genro pela readmissão de Andreia Pires

Panfletagem em frente a unidade da JBS

Panfletagem com a secretaria de mulheres do SINTUSP, Silvia Ferraro e companheiras do Movimento Mulheres em Luta

Estudantes da USP, Unesp e Unicamp em apoio a Andreia Pires

Andreia também esteve presente nas aulas de Direito do Trabalho e Sociedade na Faculdade de Direito da USP, convidada pelo professor Jorge Luiz Souto Maior.

Também mobilizamos, a partir do movimento de mulheres Pão e Rodas, trabalhadores e estudantes para um importante ato na Av. Paulista, em frente a FIESP como parte da campanha de readmissão de Andreia.

Além de toda a campanha política impusemos uma batalha jurídica contra a JBS, foram varias audiências onde sempre estavam junto de Andreia, delegações de estudantes e trabalhadores em apoio.

Delegações de trabalhadores e estudantes nas audiências

Em fevereiro de 2018 tivemos os primeiros resultados favoráveis com a justiça do trabalho reconhecendo a ilegalidade da demissão de Andreia. Nesse momento a JBS ainda poderia recorrer da decisão judicial e assim o fez, mas logo depois, em março, teve seu recurso negado dela justiça do trabalho. Com isso a JBS foi condenada a pagar indenização e retirar o registro de demissão por justa causa do histórico de Andreia. Nas ultimas semanas Andreia recebeu o os valores da indenização e isso configura a responsabilização da JBS como culpada por uma demissão ilegal, ou seja, a campanha politica junto a atuação jurídica possibilitou uma derrota nessa batalha contra a JBS que teve que retroceder da justa causa, mesmo que não tenha sido possível impor a força suficiente para que a readmissão de Andreia fosse possível.

Mas essa conquista mostra como a batalha pode sim ser vencida, como é possível levantar a cabeça contra os patrões, fazer ouvir nossa voz e impor-lhes recuos e derrotas na defesa do direitos do trabalhadores na defesa de cada companheiro que é demitido por perseguição da ditadura patronal nas fabricas, assim como destaca Diana Assunção:

"A derrota que sofreu a JBS ao ter que rever a demissão por justa causa e pagar indenização e direitos para a operária Andreia, ainda que para nós seja uma vitória parcial por não termos conquistado a reintegração, significa um grande exemplo de que é preciso resistir e lutar contra os ataques dos patrões em cada fábrica. Em nossa opinião, toda a campanha pela readmissão de Andreia foi exemplar, com uma grande força de Andreia e todos estudantes, trabalhadores, intelectuais, organizações de esquerda que se envolveram e contribuíram. Esta batalha fortalece nossa luta contra os novos ataques do governo Bolsonaro"




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