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COPA DO MUNDO | Identidade negra na copa do mundo: porque jamaicanos torcem para o Brasil

Com o avanço do Brasil na Copa do Mundo de 2018 e com a saída dos únicos times africanos, Senegal e Nigéria, a torcida brasileira aumentou ainda mais. Formada por brasileiros, mas também africanos, haitianos, jamaicanos. Porque países como esse torcem para o Brasil?

sexta-feira 6 de julho de 2018 | Edição do dia

O futebol brasileiro conquistou fãs por todos os lugares do mundo. Conhecido internacionalmente pelo "futebol arte", figuras como Pelé, Mané Garrincha, Sócrates e Ronaldo, se tornaram mundialmente conhecidos pelos passes rápidos, dribles e gols de beleza incomparável. Além disso, o marketing em torno do time brasileiro e de suas figuras principais, também foi um importante aspecto para impulsionar o conhecimento mundial do time.

O futebol no início dos anos 20 era um esporte majoritariamente de clubes elitizados, mas com a massificação do futebol, muitos times operários surgiram e trouxeram pro futebol aspectos antes desconhecidos. O "gingado" do futebol de rua, fruto da apropriação das massas sobre o esporte chocou e encantou o mundo todo.

Por este motivo, africanos afirmam torcer para o Brasil. Em enquete proposta no twitter pelo Africasa Country, muitos comentários a cerca do belíssimo futebol e de figuras que marcaram a história do esporte foram feitos.

Entretanto, outro aspecto ainda mais valoroso mostra o porque as torcidas desses países vão para o time brasileiro: existe um reconhecimento da população com o time brasileiro que se dá também pela questão racial. Nesta mesma enquete, africanos enaltecem o avanço do time brasileiro associado ao fato de que o Brasil é o país mais negro fora da África e que se identificam o retrato racial brasileiro. Os tuítes de resposta dadas à página mostrados abaixo coloca este debate em pauta:

"Fiona Lortan @Fifistep (Etiópia)
O censo mais recente mostra que quase 100 milhões de brasileiros se consideram negros. Tem de longe a maior população da diáspora africana. Eles são nós, então celebramos suas vitórias como as nossas."

"Jcniala @jcniala (Inglaterra)
Porque o Brasil é o país com o maior número de africanos fora do continente … Bahia! Salvador! "

Este argumento abre questionamentos ao colorismo e à democracia racial de cara, já que aos olhos dos jogadores e das mídias brasileiras e internacionais os jogadores do time brasileiro não são negros, como publicamos esta semana um texto em debate a cerca do Neymar e de sua negritude.

O Brasil tem uma forma particular de racismo que é democracia racial: sendo o país que mais recebeu escravos durante a colonização, a massa negra brasileira é imensa. Com isso, negros se organizaram para lutar contra a escravidão de maneira muito forte, historicamente representadas por figuras como Zumbi dos Palmares.

Sabendo da força da luta dos negros e da imensa massa que formavam, as políticas racistas não se manifestaram como em outros países. Nos Estados Unidos, o Estado foi responsável por implementar leis de segregação racial, dessa forma existiam lugares para brancos e lugares para negros. Já no Brasil, não era possível implementar tais leis, assim, criou-se outra forma de ideologia racista para poder assim controlar as massas negras.

Jamaicanos comemoram o Brasil nas quartas de final

Antes, o racismo científico primava, e era baseado em explorações pseudo-científicas que através de aspectos biológicos tentava justificar que os negros era inferiores à brancos. Entretanto, após a abolição, nasce a democracia racial, que tem como principal teórico Gilberto Freire. Para ele, em seu livro Casa Grande e Senzala, houve um encontro harmonioso entre raças, e transformou as atrocidades cometidas contra os escravos, como estupros das mulheres negras, em um "amor". Assim, coloca que no processo de mestiçagem brancos assimilaram aspectos da cultura negros e vice versa de maneira passiva.

Essa ideia hoje hegemônica dissemina que através da "miscigenação" não há racismo e pouco consegue-se identificar quem são negros do Brasil. Esta forma ideológica de encobrir o racismo, dificultando a auto percepção dos indivíduos como negros.

A empolgação que se vê na torcida da seleção, mostra a importância da luta dos negros do Brasil e do combate ao racismo no país com mais negros fora da África, e o impacto da luta de classes para as pras massas negras de todo mundo.




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