É triste e revoltante que Ronaldo Rodrigues de Araújo, de 59 anos, em São José do Mipibu, tenha sido vítima da tragédia capitalista que ocorreu no Rio Grande do Norte devido às fortes chuvas do último final de semana. É um absurdo ouvir mais uma vez que se trata de uma fatalidade, de um desastre natural inevitável. Não é verdade! Os governos municipais, estaduais e federais são responsáveis!
Camila CampeloMestranda em Psicologia pela UFRN e militante da Faísca Revolucionária
quinta-feira 7 de julho de 2022 | Edição do dia
Foto: Alagamento na cidade de São José do Mipibu
O corte de 75% da verba destinada ao combate a desastres ambientais está na conta do presidente Bolsonaro (PL) que, ao mesmo tempo, mantém com o Centrão um orçamento secreto de negociações internas. Em Natal/RN, Álvaro Dias (PSDB) segue a mesma lógica de beneficiar empresários, estimulando a especulação imobiliária que afasta cada vez mais a população pobre para as periferias, devido aos altos custos de aluguel, além de aprovar no ano passado e a toque de caixa o Plano Diretor, diretamente vinculado aos interesses dos empresários do turismo, da hotelaria e da construção civil, atacando diretamente o meio ambiente.
Em São José do Mipibu/RN, o prefeito Zé Figueiredo (MDB) diz iniciar uma operação chamada de “inverno seguro”, uma demagogia depois de ocorrerem as inundações na cidade com o preenchimento da capacidade máxima das três lagoas de captação da cidade, como também após a morte de Ronaldo que não resistiu após ser atingido por um muro furado pelos próprios moradores da cidade, a fim de provocar o escoamento de uma grande quantidade de água represada. É necessário responsabilizar também o governo do estado, representado por Fátima Bezerra (PT), que através de sua conciliação com a oligarquia dos Alves e relações amistosas com os empresários, não se mobiliza para a prevenção de tais tragédias e agora faz demagogia com o estado de calamidade vivido na grande Natal, colocando os esforços da Defesa Civil, mas que durante a pandemia trabalhou para fortalecer os empresários dos shoppings, comércios e turismo, em detrimento da vida dos trabalhadores que inclusive não recebiam liberação remunerada. Vale lembrar que é o governo estadual que sucateia a CAERN, sistema de água e esgoto, que controla as lagoas de captação que transbordam e inundam as casas em meio às chuvas, assim como se alia para reeleição com a oligarquia dos Alves, estruturalmente responsável por essa situação.
De acordo com Marcos Carvalho, coordenador da Defesa Civil: "Nós tivemos uma chuva poucas vezes vista. Se você avaliar, houve uma resposta. Se comparamos os danos existentes no litoral com outros estados, tivemos uma resiliência".
Não deve ser naturalizada a imagem de um homem morrendo depois de tentar desentupir um bueiro. A comparação do número de mortes no RN com outros estados não deve ser motivo de comemoração. A vida de Ronaldo foi retirada e precisa ter destaque por justiça como prova do absurdo e do descaso do estado e dos capitalistas com a vida da população trabalhadora que está tendo que tomar com as próprias mãos a responsabilidade de resolver a crise emergente frente às chuvas, enfrentando riscos de vida ao tentarem se salvar e salvar seus pertences.
Em Felipe Camarão, bairro da Zona Leste de Natal, uma equipe de estudantes do curso de Ciências Sociais da UFRN - com coordenadores do Centro Acadêmico de Ciências Sociais Marielle Franco (CACS) e membros do movimento Faísca Revolucionária junto com o jornal do Esquerda Diário - fizeram uma cobertura da situação dos moradores que foram surpreendidos com uma cratera enorme no meio da rua, sem a possibilidade de voltarem para suas casas e sequer recuperarem seus pertences, precisando escolher primeiro salvar a vida da família no momento de pico das chuvas. A equipe mostra barreiras feitas pelos próprios moradores com sacos de areia para diminuir o impacto da água, recolhendo também depoimentos que escancaram o descaso com a vida da classe trabalhadora que agora se aperta em abrigos ou casas de parentes, em um cenário de profunda insegurança alimentar.
São mais de 1000 pessoas desalojadas e mais de 100 desabrigadas no RN. São dezenas de crateras abertas em Natal e na região metropolitana. É urgente lutar por um plano de emergência que tenha como objetivo resolver esta crise e para arrancar justiça por Ronaldo, um plano de obras públicas que além de dar uma resolução pra crise também geraria milhares de empregos, com brigadas de trabalhadores mobilizando recursos para garantir alimentação e habitações próprias para moradia através da abertura de quartos de hotéis vagos. Para arrancar um plano de emergência faz-se primordial unificar trabalhadores, estudantes, setores oprimidos e o povo pobre, inclusive a população das ocupações, que sofreu na unidade Emmanuel Bezerra uma repressão da Polícia Militar do governo de Fátima Bezerra no momento em que se recuperam das perdas causadas pelas enchentes.
A CUT e a CTB, dirigentes das centrais sindicais no RN e em todo o Brasil, precisam romper sua paralisia convocando espaços de organização dos trabalhadores potiguares. A UNE, controlada pelo PT e PCdoB e dirigente das entidades estudantis nacionalmente também deve cumprir o papel de unificar estudantes junto com trabalhadores ao invés de arrastar suas ações em prol da candidatura Lula-Alckmin. Fazemos o chamado também ao DCE da UFRN e demais entidades estudantis para lutarmos por um plano de emergência e para pautar uma reforma urbana radical! Para que outras pessoas não tenham o mesmo fim que Ronaldo e as centenas de vítimas de Recife e Alagoas nos últimos meses, porque nossas vidas valem muito mais do que os lucros deles! Todos à plenária amanhã no Sindsaúde!
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