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Hegemonia operária e antirracismo: um debate na extrema esquerda francesa

Claude Piperno

Hegemonia operária e antirracismo: um debate na extrema esquerda francesa

Claude Piperno

Apresentamos a seguir um artigo de polêmica, à luz da crítica que a organização da extrema esquerda francesa Lutte Ouvrière (LO) fez para a campanha de Anasse Kazib no volume de maio/junho de sua revista, argumentando que a campanha de Anasse para oficializar uma candidatura presidencial para as eleições francesas não era “suficientemente trotskista” e não estava “direcionada para a classe operária”.

Anasse Kazib é trabalhador ferroviário e um representante da vanguarda operária que vem protagonizando vários processos de luta nos últimos anos na França. Oriundo de uma família de imigrantes marroquinos, esteve presente no processo de greve geral contra a reforma ferroviária de 2018 e foi uma figura de destaque da coordenação “Intergare” que agrupava ferroviários de diferentes estações. Participou também na luta contra a reforma das pensões; na vitoriosa greve das faxineiras de Onet; no movimento dos Coletes Amarelos através de uma agrupação da vanguarda operária na estação de Saint-Lazare. Além disso, nutre profundas relações com o movimento antirracista e o movimento contra a violência policial. Como militante do Révolution Permanente, encabeçou uma campanha para poder apresentar uma candidatura nas eleições presidenciais, o que não foi possível devido ao caráter antidemocrático do regime eleitoral.

O texto do Lutte Ouvrière, “A extrema esquerda no espelho da eleição presidencial”, publicado no volume de maio/junho da revista Lutte de Classe, é mais polêmico do que argumentativo. À medida que se expõem as posições, a crítica se revela uma caricatura, o desejo de defender e ilustrar a todo custo uma linha que seria a única válida, neste caso a própria, LO revela vários pontos fracos de sua análise. São pontos específicos de sua concepção estratégica do que é a nossa classe e, dentro dela, qual papel deve ser desempenhado por um partido ou organização revolucionária.

É por isso que questionamos, a partir da leitura que o LO faz da pré-campanha do Révolution Permanente, dois pontos que compõem o núcleo da argumentação do LO. Por um lado, na nossa visão, a questão do papel da classe operária e de sua capacidade de “criar hegemonia”, ou seja, articular as reivindicações de todas as massas oprimidas sem subjugá-las. Por outro, a questão da definição da fase atual da luta de classes, caracterizada essencialmente, segundo o LO, pelo refluxo, este que justificaria (sem explicações) uma orientação pretensamente comunista, revolucionária, proletária e internacionalista, mas que na realidade encobre uma forma de sindicalismo unida a um propagandismo abstrato. Esta última não representa, de forma alguma, uma garantia contra a adaptação e o oportunismo frente a esquerda política e sindical tradicional, uma crítica que a organização de Arlette Laguiller e Nathalie Arthaud (dirigentes do LO) contra o Parti Ouvrier Indépendant (POI), o Parti Ouvrier indépendant et Démocratique (POID) e também o Nouveau Parti Anticapitaliste (NPA).

A campanha de Anasse Kazib: a campanha de todos os pecados

Para além da forma que o LO lê o posicionamento do resto da extrema esquerda diante das eleições presidenciais é de um confusionismo político deliberado na definição que fazem do Révolution Permanente e de suas origens [1], que não é ao acaso, o LO dedica vários parágrafos de sua avaliação à pré-campanha de Anasse.

Durante nossa pré-campanha, Anasse – que segundo o LO havia “se autoproclamado porta-voz das vítimas de racismo e da repressão policial” [2] – e a RP haviam sido culpados de colocar “as lutas da classe operária [...] no mesmo nível que todas as demais formas de contestação da ordem estabelecida”, “seguindo o exemplo do NPA de qual a RP é fruto.”

Isso seria o que teria nos levado, segundo nossos críticos, a “substituir com termos como ‘bairros populares’ ou ‘guetos’ a classe trabalhadora, e colocar em primeiro plano a islamofobia ou o racismo da polícia e do Estado contra os estrangeiros, convertendo este eixo no principal em todas as intervenções”. Em essência, a crítica à pré-campanha da RP é bastante rasa. A candidatura de Anasse não teria sido mais do que um rebaixamento ainda mais demagógico e populista do que o LO acusou a LCR e depois o NPA: ao dirigir-se “sem distinções, a todos os grupos sociais, colocando no mesmo nível todas as lutas, sejam sociais; ecologistas; feministas; antirracistas ou pelos direitos dos gays e contra todas as formas de opressão”, a orientação defendida pela candidatura de Anasse abordaria “somente de maneira acidental a classe operária”. Somando a isso a questão da violência policial, o racismo, a islamofobia e os bairros operários que eram, de fato, eixos políticos importantes que defendíamos, acabaríamos por nos converter, segundo o LO, nos primeiros “islamo-esquerdistas” do NPA. Isso não está afirmado tão explicitamente em seu artigo, mas pode-se extrair das entrelinhas.

Deixaremos que os próprios companheiros das distintas correntes do NPA expliquem ou defendam suas posições. Mas se há um ponto que causou uma ruptura entre a RP e a maioria do NPA, organização da qual fomos parte entre 2009 e 2021, é justamente que nunca consideramos o movimento operário como mais um dentre os “novos movimentos sociais”. Pelo contrário, ao invés de colocar todos os “movimentos” no mesmo nível e fazer do movimento operário mais um campo de intervenção em meio a tantos outros, sempre defendemos e demonstramos que o movimento operário era capaz de agrupar e articular em torno de si todo o potencial subversivo que podia se expressar em diferentes terrenos por outras forças de contestação social.

Foi essa concepção que serviu de bússola para a luta das faxineiras das estações de trens da empresa Onet no inverno de 2017, na batalha das pensões no inverno de 2019/2020 ou na Intergare (uma coordenação de trabalhadores ferroviários de diferentes estações organizada pela RP durante a greve), ou na luta da refinaria Grandpuits em 2020. O que essas experiências demonstraram é que o movimento antirracista e dos bairros, ou da juventude mobilizada pelo meio ambiente têm tudo a ganhar se decidem se unir aos setores da classe trabalhadora mobilizados para fazer avançar suas lutas e arrancar vitórias.

Exploração e opressão: todas os elos da cadeia do sistema capitalista

Esta questão da “hegemonia da classe operária”, ou seja, a capacidade da classe operária de se converter em porta-voz e em arma de combate para outras mobilizações, essa é uma dimensão essencial da luta que os marxistas empregam no seio de nossa classe.

Em sua luta pela destruição da dominação burguesa e pela revolução socialista, a classe operária precisa formar alianças. Para isso, deve se mostrar capaz (e realmente, é a única classe capaz) de responder às demandas de todos os explorados e oprimidos pelo sistema capitalista. Isso implica em assumir as reivindicações dos movimentos feministas, antirracistas e ecologistas, sem reduzi-los a meros apêndices ou substituí-los, mas sim buscando defender uma perspectiva global vinculada à luta anticapitalista.

Mas a luta por uma política hegemônica da classe operária também desempenha um papel-chave na própria formação da consciência da classe revolucionária. Como disse Lênin, o militante revolucionário “não deve ter como modelo o representante sindical, mas sim o tribuno do povo que sabe reagir contra qualquer manifestação de arbitrariedade e opressão, onde quer que se manifeste, seja qual for a classe ou o extrato social a quem seja empregada”. Sem isso, a classe trabalhadora não pode ir além de uma consciência corporativista e reivindicar a liderança de uma sociedade livre de opressão e exploração.

Hoje em dia, esta luta pela hegemonia dos trabalhadores é muito mais importante pelo fato do movimento operário tradicional ter se forjado durante décadas, por responsabilidade de suas direções burocráticas, através de uma política conservadora e economicista que o manteve na margem dos movimentos feministas e antirracistas, que em consequência se construíram contra o movimento operário ou afastado dele.

Esta concepção, que acreditamos que está na linha do marxismo revolucionário, está vinculada com a forma com a qual se articula a questão da exploração e das opressões específicas, especialmente de gênero e raça no capitalismo. O sentido de existência do capital é, evidentemente, a obtenção da mais-valia, ou seja, do trabalho excedente que é literalmente roubado dos trabalhadores diariamente e de maneira sistemática pelos mecanismos predatórios do imperialismo. Neste sentido, poderia parecer que os patrões não precisam nem do racismo nem da opressão de gênero, a qual não inventaram, para explorar e obter seus benefícios. Entretanto, o capitalismo não apenas se acomoda a elas, como também as fomenta, cultiva e perpetua, a despeito de suas posições “universalistas” sobre a igualdade perante a lei ou seu republicanismo que só dura enquanto o regime é capaz de defender de maneira eficaz os interesses dos patrões.

O que une uma caixa de supermercados a uma professora, uma ferroviária, um trabalhador de escritório, uma enfermeira e um entregador é sua condição de explorados, suas amarras. Para quebrar esta unidade objetiva da nossa classe e criar barreiras entre nós, o patrão e seu Estado se apoiam em um sem fim de diferenças estatutárias e contratuais, impostas pelos seus instrumentos ideológicos. Esta estrutura se vê reforçada politicamente por uma série de discriminações e opressões que, na maioria das vezes são implícitas e não revelam seu nome, mas que existem na forma da opressão de gênero, do racismo, dirigidas a quem se encaixe em uma categoria – hoje muçulmanos ou “da imigração pós-colonial”. Nomear isso, denunciar, lutar ativamente contra essas discriminações e opressões, relacionando-as com a denúncia do passado colonial e do presente imperialista da França, vinculando-as às lutas operárias atuais não é esquecer nem apagar a dimensão de classe da exploração em que se baseia o sistema. Pelo contrário, trata-se de reforçar o potencial subversivo das lutas, buscando a unificação das diferentes camadas da classe, o que representa o dever de toda organização revolucionária que baseie sua militância na batalha por todos os instrumentos possíveis para destruir este modelo de sociedade. Não fazer isso é, no melhor dos casos, sofrer de uma certa cegueira, e no pior, revelar uma adaptação aos aparatos burocratizados e reformistas do movimento operário, que também reproduzem e até mesmo cultivam essas opressões racistas, coloniais ou pós-coloniais, uma vez que se negam a transformá-las em um dos eixos da defesa dos interesses dos explorados e acabam por transmitir os discursos imperialistas da burguesia francesa no seio da classe trabalhadora.

Violência policial e islamofobia, o mal estar do Lutte Ouvrière

As críticas do LO não param por aí, além de substituir com “os termos ‘bairros populares’ ou ‘guetos’ o da classe trabalhadora”, a campanha de Anasse Kazib teria “colocado em primeiro plano o racismo da polícia ou do Estado contra os estrangeiros, ou sua islamofobia, que é o eixo da maioria de suas intervenções”. Para além dos atalhos políticos do raciocínio do LO, a campanha da RP levantou em alto e bom som a questão da denúncia e da luta contra o racismo, a islamofobia e a violência policial. No artigo, o LO parece se incomodar com isso, como se a única função de uma organização revolucionária dos trabalhadores fosse combinar um discurso centrado na defesa dos seus interesses materiais com a perspectiva geral do socialismo e do comunismo.

Nós acreditamos, pelo contrário, que o papel dos marxistas revolucionários não é o de ser representantes sindicais pintados de vermelho no dia a dia e fazer propaganda do socialismo na época das eleições sob a legenda política de sua organização. Pelo contrário, devemos denunciar todos os ataques ao mundo do trabalho e todas as injustiças desta sociedade. Quando o racismo e a violência policial estão no centro das preocupações cotidianas de frações importantes da nossa classe, porque são os alvos cotidianos do discurso; dos golpes; das balas da polícia; do Estado; de suas forças de repressão e de boa parte da classe política, denunciar esses fatos é, para além de uma necessidade, um imperativo. Não fazer isso é ceder espaço para os reformistas e suas ideias que pretendemos refutar. Diante de um aumento da repressão e da violência policial e estatal, diretamente relacionada com um aumento do nível da luta de classes seria paradoxal permitir que aqueles que defendem a ideia de uma polícia de “proximidade” e de uma “polícia republicana” detenha o monopólio da denúncia contra a violência, inclusive, até mesmo Jean-Luc Mélenchon foi obrigado a radicalizar seu discurso sobre a polícia, afirmando que “a polícia mata”. Tudo isto parece passar despercebido ao LO.

Se a esquerda revolucionária tivesse adotado uma posição muito mais clara e decidida sobre essas questões, teria sido uma vitória tanto do ponto de vista da claridade política para nossa classe e seus setores mais politizados, como no terreno que foi perdido para o melenchonismo. Em contrapartida, o LO optou há muito tempo por manter a confusão sobre o papel das forças de repressão, das polícias, etc. argumentando que, em última instância, esses setores são parte da classe trabalhadora. O LO tem uma cegueira total diante das questões de racismo, inclusive fala de “racismo policial ou estatal contra os estrangeiros” quando argumenta contra nossa posição. Em um Estado imperialista, com uma larga história colonial e um presente neocolonial, a República e seus aparatos repressivos não se dirigem exclusivamente aos “estrangeiros”. O Estado e seus policiais se dirigem àqueles que são colocados como estrangeiros ou autóctones, ou seja, homens e mulheres das classes populares, em sua imensa maioria, e os que são colocados em um status de segunda ou de terceira classe que “justifica” a violência à qual são submetidos.

Reflexo da luta de classes ou refundação da extrema esquerda?

O aumento do nível de repressão que se materializou como nunca antes durante o movimento dos Coletes Amarelos – que em nossa opinião sacudiu a burguesia francesa como nenhuma outra desde maio de 1968, que por sua vez faz com que o LO venha nos acusar de “oportunismo” frente a esse movimento [3] – é bastante significante. O recrudescimento do aparelho repressivo, das técnicas de manutenção da ordem e do marco jurídico mais em geral, cada vez mais restrito e autoritário, é uma resposta preventiva e reativa do Estado para substituir os mecanismos tradicionais de controle e consenso social por métodos mais coercitivos. Isso se explica pelas ameaças que a burguesia sente diante dos movimentos da nossa classe, assim como da juventude, especialmente desde de 2016, isso falando apenas da situação francesa. Denunciar isso não é uma moda sessentista das esquerdas contra o Estado policial, como afirma LO.

Se o Lutte Ouvrière se nega a ver esta radicalização dos de cima é também porque está cego a todos os fenômenos que se produzem pelos de baixo. De fato, segundo a organização de Nathalie Arthaud, atravessamos “um período de auge das ideias reacionárias, de profunda desorientação nas fileiras da classe operária, o que faz com que os comunistas devam, mais do que nunca, manter a bandeira de suas ideias o mais alta possível”. Como se, junto com a atividade sindical, mais ou menos rotineira e frouxa, os revolucionários tivessem que se conformar apenas em defender uma identidade. Como se ir na contracorrente não significasse atuar para inverter a ordem das coisas. Para concluir, LO afirma que “a classe operária deve ter seu próprio partido: só pode se construir sobre as bases das ideias comunistas revolucionárias e internacionalistas e sobre a experiência concreta e viva da luta de classes”. Uma verdade genérica, mas como a classe operária supostamente estaria “profundamente desorientada”, a tarefa no momento só poderia ser a defesa da fortaleza conquistada, ou seja, do Lutte Ouvrière, como foi demonstrado.

Nossa política é precisamente oposta, na raiz da nossa pré-campanha chamamos a “fundação de uma nova organização revolucionária no próximo outono” com o objetivo de levar “o projeto de uma revolução social que acabe com o capitalismo, o patriarcado, o racismo e a destruição do planeta”. Fazendo piada disso, o LO conclui sua avaliação da pré-campanha de Anasse e da RP dizendo que “o futuro dirá que forma tomará essa organização, e inclusive, se verá na luz do dia, mas uma coisa é certa: dados os eixos levantados pelos camaradas durante sua campanha, não se baseará nos interesses fundamentais da classe operária” pelo contrário, devido ao período que estamos atravessando, de guerras, crises, e em resposta destes, revoluções, de levantamentos e do auge da contestação popular e operária em escala internacional e na Europa, estamos convencidos de que uma refundação da extrema esquerda trotskista na França é possível e necessária tendo em vista as tarefas que estão colocadas para os revolucionários.

Esta extrema esquerda renovada deve ser capaz de se dirigir e ser escutada pelos novos exércitos de jovens e trabalhadores que se destacaram nas últimas mobilizações sem precedentes que aconteceram no país, em conexão, é claro, com os que estão em nível sindical e político. Para isso, essa extrema esquerda deve saber articular a luta contra a exploração e a denúncia e luta contra toda forma de opressão. Neste sentido essa extrema esquerda só tem como se diferenciar das principais tendências que se organizam sob as organizações existentes. Portanto, deve se diferenciar tanto do propagandismo abstrato, que se apresenta como formalmente ortodoxo, mas que encobre uma atividade rotineira do tipo sindicalista, como a tendência de encontrar atalhos que na maioria das vezes acabam por ser ruas sem saída, entre os objetivos históricos do proletariado e o estado atual das lutas, cultivando o seguidismo ou se aglutinando em organizações da esquerda reformista, como faz hoje a direção do NPA.

Neste contexto, no momento imediato, para além do nosso projeto de refundação e do amplo chamado que decorre dele, estamos chamando, sem titubeios, a votação no primeiro turno das eleições legislativas, aos candidatos, mesmo que não entusiasmem, uma perspectiva de derrota do capitalismo, os candidatos do Lutte Ouvrière. Isso de nenhuma maneira impede que se sigam os debates sobre as perspectivas políticas mais gerais, entre nossas organizações, dentro da extrema esquerda e no nosso entorno.


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FOOTNOTES

[1Há um confusionismo deliberado na forma que o LO se refere a RP: defendem que os militantes da RP estão vinculados “à CCR que é por sua vez uma dissidência do movimento morenista, uma das correntes que se reivindicam trotskistas na América Latina, e em particular na Argentina”. Uma forma muito distorcida de nos caracterizar. A CCR não é uma dissidência da LIT “morenista” – com a qual o LO mantinha relações estreitas nos anos 1980 – somos na verdade parte da Fração Trotskista da Quarta Internacional (FT-QI), que rompeu com a LIT em 1988 (momento no qual a CCR sequer existia). A FT-QI é uma das tendências do movimento trotskista a nível internacional que se reivindica como parte da Quarta Internacional e defende a sua refundação, e que está por trás da rede de diários trotskistas La Izquierda Diario, que está disponível em sete idiomas, nos EUA, Alemanha, Estado Espanhol, Brasil etc. dentre os quais RévolutionPermanente.fr é a sessão de língua francesa. A organização mais importante da FT do ponto de vista político e de peso militante, o Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS) da Argentina, que é parte da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade, que obteve mais de 1,2 milhões de votos nas últimas eleições legislativas, elegendo quatro deputados para o parlamento. Tudo isso é conhecido pelo LO, que geralmente se preocupa mais com a exatidão dos fatos, mas nada melhor do que começar as apresentações desta maneira para estabelecer uma distância adequada entre “os argentinos” de lá e os revolucionários “daqui”. Este ponto de vista é funcional para a maneira que o LO pretende “dar forma” para o debate ao se apresentar como a única organização preocupada com os interesses históricos do proletariado e com a necessidade de construir um partido revolucionário.

[2Lutte Ouvrière também acusou Anasse de “vitimismo”. Segundo eles, Anasse teria exagerado “a hostilidade dos meios de comunicação e da extrema direita” contra sua campanha “como se organizações como a LCR antes, o NPA e o LO hoje nunca tivessem sofrido com isso”. Qualquer um que tenha acompanhado a campanha, a forma que a presença de Anasse foi sistematicamente apagada das emissoras e das pesquisas eleitorais apesar de ter conseguido ao final 161 assinaturas de apoio, ou seja, muito mais que outros que foram tratados de maneira diferente, isso para não falar das ameaças da extrema direita, saberá que o sistema tende a ser mais duramente hostil contra aqueles que estão radicalizados. O fato do LO não ter percebido isso é desconcertante.

[3Indicamos, para este debate com LO e NPA sobre o movimento dos Coletes Amarelos de 2019, as elaborações, entre outras, de Daniela Cobet e de Juan Chingo, autor do livro Gilets Jaunes. Le soulèvement – quand le trône a vascillé que ilustra, a longo prazo, nossas posições sobre este movimento.
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