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REPRESSÃO AOS BAILES FUNK | Haddad e Alckmin se unem para cercar os bailes funk

Não é de hoje que o Estado reprime os bailes funk. A juventude da periferia, sem acesso aos caros e distantes locais de lazer e cultura do centro, tem nos bailes funk uma de suas principais formas de diversão, organizados por eles mesmos e à revelia de qualquer tipo de aval dos governos. Apenas nos três primeiros meses de 2015, foram gastos R$ 1,5 milhões para reprimir os bailes funk.

sábado 4 de abril de 2015 | 00:00

Vigiar e reprimir a vida da juventude pobre e negra da periferia em todos os seus aspectos. É isso o que está por trás do recente anúncio da parceria entre governo do estado e prefeitura de São Paulo para a regulamentação dos bailes funk na cidade. Essa é a nova medida para aumentar o cerco que já existe há anos, com a sistemática criminalização dos bailes, uma das poucas formas de lazer e expressão cultural que é organizada por essa juventude de maneira livre e autônoma, sendo uma alternativa às atrações do centro, caras, restritas e inacessíveis.

Os números mostram o tamanho da preocupação dos governos quando a juventude da periferia se organiza de forma independente para confraternizar. R$ 1,5 milhões é a cifra que foi gasta apenas nestes três primeiros meses de 2015 para coibir a realização dos bailes.

O pretexto que se utiliza é o mesmo de sempre, o mesmo das UPPs, da polícia que vigia e reprime constantemente: a criminalidade. Essa, que hipocritamente é gerada pela miséria que o próprio capitalismo cria, não ocorre mais nos bailes funks do que em qualquer outro lugar; ou, ainda, poderíamos dizer que qualquer crime que ali ocorra também é ridículo perto dos bilhões que vem à tona na podridão do Congresso com Operações Lava-Jato e Zealotes. Mas, diferente dos bailes funk, nenhuma polícia armada jamais invadirá as festinhas particulares regadas a champagne dos deputados. E por quê? Porque por trás desse discurso cínico está o sólido objetivo de classe que tem a polícia, que é de manter sob rédea curta essa juventude.

Não é só com os bailes funks. Agora, no cinema, vemos o diretor Adirley Queiros nos contar a história, em seu filme “Branco sai, Preto fica”, de como a mesmíssima repressão policial se fazia presente nos bailes black de Ceilândia nos anos 1980, deixando jovens para sempre mutilados. Será que também era por conta da absurda criminalidade dos bailes black?

A resposta está no próprio discurso dos capatazes do Estado, que executam esse cerco fechado. O coronel Reinaldo Zychan, comandante do policiamento da capital, afirmou: “Nós recebemos uma demanda muito grande de ligações de pessoas reclamando do barulho excessivo e, em muitas das situações, quando a polícia comparece nesses locais existem situações de confronto. Não é raro quando a polícia é recebida com tiros, garrafadas e pedradas. É muito comum a gente encontrar pessoas vendendo drogas, armadas e com veículos furtados e roubados”. Enquanto o secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, disse: “Nós, o estado e a Prefeitura, entendemos que isso não é só uma questão de polícia, é uma questão social, é uma questão de manifestação cultural. Então, precisamos separar o joio do trigo, precisamos separar o que é uma manifestação cultural e social e o que há nessas manifestações de infiltração de criminalidade.”

Ou seja, é uma questão de que o Estado tenha completo controle sobre o lazer dessa juventude, sua vida, suas reuniões e sua confraternização, sua cultura. Aqui, a política mais “linha dura” e repressiva do PSDB se combina à de cooptação e controle aplicada pelo PT. Tentam colocar o funk nas rédeas aceitas pelo Estado, e, não à toa, a juventude resiste com paus, pedras, garrafas e o que tiver na mão a essa intervenção militar em suas festas.

A política de domesticar os bailes funks ficou a cargo do secretário municipal de Promoção da Igualdade Racial, Antônio Pinto, que dividiu a cidade em 11 territórios e definiu dois locais em cada um deles para a realização das festas. Serão autorizados 22 bailes funk por mês na capital. A polícia estará presente, revistando todos os participantes, e o horário para terminar é entre 22h e meia noite. Nessa hora, é o toque de recolher. Onde não houve autorização para os pancadões, a polícia irá impedir que sequer comecem as festas.

Há quem diga, com argumentos “esclarecidos”, que o funk é uma música vulgar, que fala de sexo, ostentação, que incita a hiper-sexualização de adolescentes e, por isso, deveria mesmo ser proibido. É absurdo apoiar-se nesse argumento para a proibição. A livre expressão dessa juventude deve ser garantida. Além disso, o que as pessoas que fazem essa crítica estão reproduzindo uma visão bastante superficial e estereotipada do funk. Artistas como MC daleste, MC Dodô são do “funk consciente”, e utilizam suas rimas para denunciar essa sociedade e atitudes como a repressão que agora ocorre pelas mãos da polícia aos bailes funk. É essa voz, também, que querem calar.




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