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ENTREVISTA DE HADDAD | Haddad assume defender reforma da previdência em eventual governo petista

Fernando Haddad, possível candidato petista à presidência após a quase certa impugnação de Lula, deu entrevista ao site InfoMoney e defendeu uma agenda de ataques "mais suaves", como uma reforma da previdência.

quinta-feira 2 de agosto de 2018 | Edição do dia

Foto: InfoMoney

Fernando Haddad, possível candidato petista à presidência após a quase certa impugnação de Lula, deu entrevista ao site InfoMoney e defendeu uma agenda de ataques "mais suaves", como uma reforma da previdência. Veja alguns dos pontos contra os interesses dos trabalhadores e da população pobre que Haddad defendeu:

Defesa da Lava-Jato e da integridade das empresas privadas corruptas

Haddad defendeu também a operação Lava-Jato dizendo que as empresas deveriam ser preservadas e apenas "o patrimônio do corruptor" deveria ser atacado. Se é um fato que a seletividade da Lava-Jato atua em defesa do imperialismo, punindo empresas nacionais e preservando as estrangeiras - em particular as americanas - o que Haddad advoga é que os interesses dos capitalistas que lucraram com os esquemas sigam intactos, elegendo apenas um ou outro bode expiatório. Em nenhum momento o petista defende a medida elementar de que as empresas envolvidas em corrupção para garantir o lucro de seus acionistas deveriam ser estatizadas sob controle dos trabalhadores, o que seria a única forma tanto de acabar com os esquemas como de efetivamente fazer com que deixem de roubar os trabalhadores por diversas vias para enriquecer um punhado de capitalistas parasitas.

Escandalosamente, Haddad aponta essas "correções" mas não denuncia o caráter da operação como um todo, que é o de transformar o judiciário em um instrumento do imperialismo para avançar em sua dominação, seja com medidas como as de privatização da Petrobrás, seja em legitimar o golpe institucional com a prisão de Lula e impossibilitando que a população exerça sequer o direito democrático mais mínimo - o de votar no candidato que escolha nas eleições. Não é surpresa, quando o PT faz de tudo para poder seguir jogando nesse regime político sujo, inclusive se aliar com os golpistas.

A defesa dos "global players", empresas capitalistas beneficiadas pelo PT

Além de defender a Lava-Jato, Haddad saiu em defesa da política dos governos petistas de investir bilhões de dinheiro público, além de dar inúmeros incentivos, a um punhado de empresas nacionais para que fossem competitivas no exterior. Essa política, que foi responsável por financiar grandes parte dos capitalistas bilionários envolvidos nos esquemas de corrupção, como JBS e Odebrecht, faz parte da visão petista de utilizar o Estado para beneficiar um punhado de exploradores - que eles consideram "aliados".

A JBS, enquanto mantinha taxas recordes de acidentes de trabalho e uma brutal exploração nas suas fábricas, inclusive demitindo ilegalmente quem lutava contra essas condições, como no caso da trabalhadora membro da CIPA Andréa Pires, e por outro lado financiava políticos em seus esquemas de corrupção, mostra como o PT utilizava o Estado para beneficiar os capitalistas que arrancam o couro dos trabalhadores todos os dias.

Segundo Haddad, é falso afirmar que o PT escolheu "campeões nacionais" como JBS e Odebrecht, porque, afirma ele "não conheço um empresário que não tenha batido à porta do BNDES com um bom projeto que não tenha sido atendido. (...) O que se tinha era uma política ativa de fortalecimento da indústria nacional, do capital nacional, inclusive no exterior. As empresas brasileiras nunca tiveram tanta projeção no exterior". Ou seja, o projeto "neodesenvolvimentista" do PT, responsável por triplicar a terceirização no país investindo nesses capitalistas, é integralmente reivindicado por Haddad.

Uma utopia de retorno ao "gradualismo lulista"

Haddad defende a velha fórmula dos treze anos petistas para "aquecer a economia". Um "choque de crédito" é o que propõe, com redução do spread bancário e garantindo crédito barato à população. O que Haddad não diz é que Lula e o primeiro governo Dilma só conseguiram se apoiar nessa fórmula - em que os banqueiros seguiam tendo lucros recordes e os trabalhadores podiam conseguir crédito mesmo com baixíssimos salários - pelo momento excepcionalmente favorável da economia. Essas condições históricas excepcionais se esgotaram, como demonstrou o brevíssimo segundo governo Dilma, no qual o PT passou ao ataque direto aos direitos sociais. A proposta de Haddad de voltar à fórmula petista não tem nenhuma sustentação na realidade da economia, em que hoje os capitalistas exigem ataques cada dia mais duros para manter seus lucros.

Uma reforma da previdência para tirar "suavemente" os direitos dos trabalhadores

O próprio Haddad deixa entrever que seu governo seria de ataques. Defende a necessidade de uma reforma da previdência. Ele diz: "o regime previdenciário, ele é reformável buscando sustentabilidade. (...) A previdência não pode ser um tabu, pelo bem dos próprios trabalhadores". Como exemplo do que considera que deve ser feito, cita a reforma da previdência feita por Lula em 2003, seu primeiro ano de governo, em que atacou diversos direitos previdenciários dos trabalhadores, o que levou a uma primeira ruptura de setores do funcionalismo com seu governo. Cita também outros ataques fetos em 2012. Assim, o que Haddad quer é "atacar com moderação", como tentou Dilma fazer em seu segundo governo, que se iniciou com cortes bilionários na educação. Haddad fala em uma "arrumação dialogada com o trabalhador" e que não se vai chegar a um "consenso", mas sim a uma "maioria".

Por trás desses eufemismos, o petista deixa entrever que um novo governo petista se pautaria em fortes ataques contra os trabalhadores - a única forma de levar adiante seu projeto de gerir o Estado capitalista. De toda a forma, desconsidera o fato de que mesmo atacando, Dilma sofreu um golpe justamente porque a burguesia exigia ataques mais enérgicos. Como exemplo, Haddad diz que havia enviado em seu governo um projeto de reforma da previdência municipal para a Câmara de São Paulo, e criticou Doria por ele ter tentando fazer uma reforma dura "demais", dizendo que por isso não foi aprovada.

Entre outras barbaridades que Haddad reivindicou, como sua participação na lei das parcerias público-privadas, o petista deixou claro até onde o PT está disposto a ir. A resposta é que pretendem seguir o seu caminho - cada vez mais irrealisável - de tentar conciliar interesses dos capitalistas em manter lucros bilionários com a concessão de uma ou outra migalha aos trabalhadores e o povo pobre. Na impossibilidade de fazer isso, Haddad, como outros petistas, já deixou claro: irá implementar uma agenda de ataques. Contra essa perspectiva precisamos erguer no Brasil um partido independente de trabalhadores, que apresente uma política revolucionária capaz de enfrentar os ataques dos capitalistas e colocar uma perspectiva para que sejam eles os que paguem pela crise que criaram.




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